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Paulo Moreira Leite

Colunista e comentarista na TV 247

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"Lula e Dilma mudaram esporte brasileiro"

Mesmo sem atingir o objetivo anunciado de ficar entre os cinco primeiros lugares no total de medalhas, o desempenho do Brasil na Paralimpíada é uma vitória inegável. O total de medalhas, 72, representa uma soma 50% superior ao melhor desempenho até aqui, recorda Ricardo Leyser, principal referência do Ministério dos Esportes entre 2003 e abril de 2016, onde ocupou vários postos executivos, inclusive o  de ministro no final do governo Dilma. Em entrevista exclusiva ao 247, Leyser explica que se o esforço e determinação de nossos atletas sempre constitui o fator primeiro e decisivo numa competição desse padrão, o resultado também reflete um conjunto de políticas públicas que foram construídas na última década

Mesmo sem atingir o objetivo anunciado de ficar entre os cinco primeiros lugares no total de medalhas, o desempenho do Brasil na Paralimpíada é uma vitória inegável. O total de medalhas, 72, representa uma soma 50% superior ao melhor desempenho até aqui, recorda Ricardo Leyser, principal referência do Ministério dos Esportes entre 2003 e abril de 2016, onde ocupou vários postos executivos, inclusive o  de ministro no final do governo Dilma. Em entrevista exclusiva ao 247, Leyser explica que se o esforço e determinação de nossos atletas sempre constitui o fator primeiro e decisivo numa competição desse padrão, o resultado também reflete um conjunto de políticas públicas que foram construídas na última década (Foto: Paulo Moreira Leite)
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     Como se sabe, um bom termômetro para se medir o progresso esportivo de um país consiste no número de medalhas conquistadas. Por esse critério,  o desempenho do país em Paralimpíadas pode ser avaliado assim:  em Pequim, em 2008, o Brasil obteve 47 medalhas em oito modalidades diferentes. Em 2012, em Londres, foram 43 medalhas em sete modalidades. No Rio, foram 72 medalhas, em 13 modalidades. O país ficou em 8o. lugar no computo geral, contra a meta de acabar entre os cinco. Apesar disso, o total de medalhas registra uma melhora de 50% em comparação a 2008, o melhor desempenho até então.

    Não há dúvida de que este resultado se deve, em primeiro lugar, ao esforço individual de cada atleta, à determinação de progredir e superar as próprias limitações. Mas a melhora de posição do país no quadro geral também reflete um esforço coletivo que envolve, além dos próprios atletas -- sempre o fator decisivo -- a atuação de clubes, dirigentes esportivos e políticas públicas da área. Preparada e organizada pelos governo Lula e Dilma numa sequência de medidas que multiplicaram em várias vezes o apoio ao esporte, olímpico e adaptado, cujos frutos só puderam ser apreciados após o golpe que deu posse a Michel Temer, a Paralimpíadas de 2016 tem sido menos celebrada do que merece. Isso se explica por uma contingência política fácil de entender. Trata-se do absoluto desinteresse das autoridades recém-empossadas em cargos de governo para reconhecer os méritos inegáveis e intransferíveis a antecessores imediatos, afastados de forma desleal e irresponsável. Esta situação ficou evidenciada na própria Rio  2016, plano da caricatura por uma campanha publicitária que procurava apresentar as Forças Armadas como responsável exclusiva pelas medalhas obtidas na Olimpíada.

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    Para entender o desempenho paralímpico do país, o 247 entrevistou Ricardo Leyser,  que se ocupou de funções executivas no Ministério do Esporte por 13 anos, entre maio de 2003 e maio de 2016, em postos logo abaixo dos diversos ministros de Estado que assumiram a pasta após a chegada de Lula ao Planalto, chegando a ministro do Esporte no período final do governo Dilma. Graduado em Administração Pública pela FGV-SP e em Ciências Sociais pela USP, filiado ao PC do B há 26 anos, Leyser foi secretário nacional de Esporte Educacional, secretário para os Jogos Pan-Americanos de 2007, coordenador do governo federal para a candidatura olímpica, secretário nacional de Esporte de Alto Rendimento e secretário executivo, período em que respondeu pelas ações de organização dos Jogos Olímpicos e dos Jogos Paralímpicos de 2016. Também coordenou as iniciativas do governo na preparação dos atletas que defenderam o Brasil nos Jogos. Em março de 2016 foi nomeado ministro interino do Esporte. Entre suas atribuições estavam o legado esportivo dos Jogos e a coordenação de todos os ministérios e agências federais envolvidas nos preparativos olímpicos. Sua entrevista:

BRASIL 247 -- Como explicar o desempenho superior do Brasil nas paraolimpíadas quando comparamos com as olimpíadas tradicionais?

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 LEYSER -- São características distintas. Nos esportes adaptados, há, dentro de cada modalidade, uma gama maior de categorias de disputa por conta da classificação funcional dos tipos de deficiência que cada atleta apresenta. Também é preciso registrar que nos esportes paralímpicos o governo federal investe pesada e sistematicamente há mais tempo que nas modalidades olímpicas. Os esportes olímpicos e paralímpicos passaram a ter recursos públicos de forma mais sistêmica a partir da Lei Agnelo-Piva, de 2001, que destina porcentagem da arrecadação das loterias ao Comitê Olímpico do Brasil e ao Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). Mas o CPB conta com outros recursos federais, como convênios com o Ministério do Esporte desde 2010 e patrocínio da Caixa desde 2008. Para os Jogos de Londres 2012, o Ministério fez convênios específicos com o CPB para preparação das equipes. Naquele ciclo, algumas associações de esportes para pessoas com deficiência também receberam recursos do Ministério para investir em seus atletas.

BRASIL 247 -- Qual o papel do Bolsa Atleta nestes avanços?

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LEYSER -- Até 2011 os atletas de ponta dos esportes olímpicos brasileiros não recebiam Bolsa Atleta, porque a lei continha uma cláusula que vedava bolsa a atletas que contassem com algum tipo de patrocínio, por mais irrisório ou circunstancial que fosse. Isso afastava do programa todos os grandes nomes do esporte olímpico, mas abarcava todos os grandes nomes dos esportes paralímpicos, porque estes sempre tiveram dificuldades gigantescas para obter patrocínios privados. Ou seja, estavam “livres” para ter a bolsa, muitos deles com o valor mais alto. A partir de 2012 essa vedação legal foi suprimida, e então as grandes estrelas olímpicas entraram no programa.

BRASIL 247 -- É muito comum ouvir uma explicação para nosso desempenho paralímpico. Diz-se que, em função da tragédia do transito brasileiro, que faz do Brasil um dos campeões mundiais em acidentes de automóveis, temos uma oferta de atletas com alguma deficiência muito superior a de outros países e que isso em parte ajuda a explicar o bom desempenho. Faz algum sentido?

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LEYSER -- Em âmbito mundial nota-se que países que registram participação em guerras ou conflitos armados internos apresentam grande número de atletas vítimas de mutilações e outras consequências desse tipo de violência. Não é casual que a primeira Paralimpíada oficial tenha sido uma competição entre vítimas da Segunda Guerra Mundial. Em outros países, minas terrestres e violência urbana também figuram entre as maiores causas de deficiência entre atletas paralímpicos. Falando em termos estritamente de Brasil, é uma das explicações – dados do Comitê Paralímpico Brasileiro indicam que 18% da delegação que disputa os Jogos do Rio sofreram acidente de automóvel (colisões ou atropelamentos).

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BRASIL 247 -- É possível dizer, com base em números, que os governos Lula e Dilma tiveram um papel objetivo no aprimoramento da atividade esportiva para pessoas com deficiência? Por que?

LEYSER -- Lula e Dilma tiveram atuação determinante para a melhoria das condições de competitividade dos atletas brasileiros dos esportes adaptados. Para início de conversa, houve desde sempre a determinação de ambos os presidentes para que déssemos aos esportes para pessoas com deficiência um tratamento igualitário. Isso fez com que o Ministério do Esporte aprovasse grande volume de recursos para o Comitê Paralímpico, associações, clubes e universidades que desenvolvem projetos para esportes adaptados. Nos governos anteriores não havia sequer um ministério do Esporte, que dirá recursos específicos para esportes adaptados. Não havia lei de incentivo, não havia Bolsa Atleta... O apoio governamental a atletas e entidades era insignificante. A Bolsa Atleta é bem mais relevante para os atletas de esportes adaptados, que comumente têm menos patrocínios e apoios em geral; eles dependem mais do suporte governamental.

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BRASIL 247 -- Como esse financiamento evoluiu?  

LEYSER -- O financiamento do governo brasileiro à preparação das equipes que defenderam o Brasil nos Jogos Paralímpicos foi crescente, o que contribuiu para que o país fosse subindo de posições a cada edição. Em 2004, ficou em 14º lugar pelo total de medalhas de ouro; em 2008 foi nono; em 2012, sétimo; e para 2016 a meta foi de se classificar entre os cinco melhores. Ainda que o objetivo para o Rio não tenha sido alcançado, o apoio foi assegurado. Evidentemente que vitórias e medalhas só se obtém na disputa, e muitas vezes o adversário também se preparou – tão bem ou melhor que a nossa equipe. Isso é parte do jogo. Mas para lutar em igualdade com o oponente é preciso ter as melhores condições de trabalho, e isso a nossa delegação teve. Em dez anos de Bolsa Atleta – 2005 a 2015 –, das 44 mil bolsas concedidas, 11.700 foram para atletas de modalidades paralímpicas, totalizando investimento de R$ 164,8 milhões. Apenas no ano passado, de 6.093 bolsas para modalidades olímpicas e paralímpicas, 1.323 foram para atletas de esportes adaptados. Até o primeiro semestre de 2016, a Bolsa Pódio patrocinava 104 atletas paralímpicos de modalidades individuais. E outros 60 de esportes coletivos tinham patrocínio do Plano Brasil Medalhas, com recursos repassados ao Comitê Paralímpico Brasileiro.

BRASIL 247 -- Eu gostaria que você falasse sobre o preconceito contra deficientes e como isso se manifesta nos patrocínios. Posso imaginar que havia uma resistência entre agências de publicidade que poderiam arregimentar patrocínio.

LEYSER -- Entre as agências que prestam serviços ao governo federal não havia essa resistência: a decisão do governo era de tratamento equânime entre olímpicos e paralímpicos, e as agências tinham ciência disso. Mas é nítido que no mercado publicitário a presença de atletas – e anônimos – com deficiência é irrisória. De todo modo, é preciso registrar que, no Brasil, o patrocínio privado ao esporte é muito aquém do esperado, e isso para qualquer modalidade esportiva que não seja o futebol. Se é assim para os esportes “convencionais”, imagine para os esportes adaptados. Além do Ministério do Esporte, as empresas públicas – federais, sobretudo – são as maiores patrocinadoras do esporte brasileiro. O patrocínio privado, além de escasso, quando ocorre, na quase totalidade dos casos se viabiliza pelo incentivo fiscal. Outra característica das empresas privadas é de patrocínios esporádicos, decididos em função de um determinado evento. Infelizmente, o mercado publicitário do país ainda não compreendeu que pode ter ganhos ao associar marcas ao esporte de forma perene.

BRASIL 247 -- Falando em termos esportivos, eu gostaria de saber em quais áreas o Brasil tem evoluído mais?

 LEYSER -- Em Pequim 2008, o Brasil obteve 47 medalhas em oito modalidades: atletismo, bocha, futebol de 5, hipismo, judô, natação, remo e tênis de mesa. Em Londres 2012, foram 43 medalhas em sete modalidades: atletismo, bocha, esgrima, futebol de 5, golbol, natação e judô. No Rio, até a noite do sábado dia 17 já eram 71 medalhas, em 13 modalidades: atletismo, bocha, canoagem velocidade, ciclismo de estrada, futebol de 5, futebol de 7, golbol, halterofilismo, hipismo, natação, judô, tênis de mesa e voleibol sentado. Ou seja, expandiu-se a quantidade de modalidades, o que significa que a prática vem se espalhando ao mesmo tempo que melhoram as condições de treinamento dos atletas.

BRASIL 247 -- O esporte paralímpico tem alguma tradição no Brasil ou é muito recente?

LEYSER -- Não tão tradicional como na Inglaterra, por exemplo, onde foram registrados os primórdios dos Jogos Paralímpicos, em 1948, com uma competição esportiva para veteranos da Segunda Guerra Mundial com lesão na medula. Nos moldes atuais, os Jogos ganharam forma em Roma, em 1960. Como já mencionei, o Brasil vem avançando a cada edição e já é uma das potências mundiais há vários anos – no mínimo desde Pequim 2008. E assim deverá permanecer, porque a estrutura essencial foi assegurada.

BRASIL -- Por que você diz isso?

LEYSER -- No governo da presidenta Dilma foi construído em São Paulo o Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, com investimento total de R$ 305 milhões na obra, sendo R$ 187 milhões em recursos federais e R$ 118 milhões do Estado, que cedeu o terreno. O local acolhe 15 modalidades de esportes adaptados e segue modelo bem-sucedido da China, Coreia e Ucrânia. O CT é o principal centro de excelência da América Latina. Além disso, a arrecadação das loterias garantirá, a partir de 2017, cerca de 130 milhões de reais por ano ao CPB, um aumento significativo no caixa do comitê, que gere a maioria das modalidades dos esportes que compõem o programa dos Jogos Paralímpicos. E o comitê ainda conta com patrocínio da Caixa. Ou seja, há um caminho bem pavimentado para que o Brasil continue brilhando no cenário internacional. 

 BRASIL 247 -- Eu também gostaria que você avaliasse a evolução da prática esportiva no país, olímpica e paralímpica. (Eu gostaria de falar paraolímpica mas vá lá...)   É uma oportunidade para esclarecer os acordos do ministério do esporte com as Forças Armadas para subsidiar tantos atletas olímpicos, o que explica muitas medalhas da rio 2016. Quem pagava o que?

 LEYSER -- O Brasil vem crescendo no cenário internacional, em termos de esporte de rendimento. A evolução no quadro de medalhas dos Jogos Olímpicos e dos Jogos Paralímpicos, assim como a quantidade de atletas e equipes que chegam a disputas de finais, e ainda o desempenho em Campeonatos Mundiais e Copas de Mundo das diversas modalidades, atestam esse crescimento. A formação de base para renovação das equipes também é evidente. Embora a tradição esportiva do país sobressaia nos clubes, é necessário ampliar a prática de esportes na escola. Se você perguntar pelo futuro, eu diria que é  necessário retomar a obrigatoriedade da educação física regular nas escolas e romper a dicotomia entre o esporte educacional e o de rendimento.

BRASIL 247 -- E o papel das Forças Armadas?  

LEYSER -- Sobre o programa de alto rendimento das Forças Armadas, foi criado pelo presidente Lula em 2008 e reforçado pela presidenta Dilma. É uma parceria do Ministério do Esporte com o da Defesa, surgiu para reforçar a participação do Brasil nas competições dos Jogos Mundiais Militares e se ampliou para outras modalidades. O Ministério do Esporte entra com recurso financeiro e as Forças entram com a estrutura física, os profissionais e o conhecimento técnico. Com isso, os atletas – que, na maioria, já contam com Bolsas e outros apoios do governo federal – ganham mais reforço em sua preparação. Esse programa compõe, portanto, a cesta de apoios federais ao esporte de rendimento. Costumo dizer que ninguém é dono de medalha; o sucesso dos atletas é resultado de um conjunto de medidas que visam a assegurar-lhes o melhor desempenho na carreira. Os programas são fruto de planejamento que serve a objetivos comuns.

(Atualizado em 19/9/2016). 

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