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Paulo Moreira Leite

Colunista e comentarista na TV 247

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Lula lembra que trabalhadores vão construir mundo pós-covid-19

"Formado num período em que as migalhas do capitalismo chegavam até o ABC paulista, no discurso no 1 de Maio Lula aponta papel crucial dos trabalhadores na reorganização do capitalismo no futuro pós-pandemia", escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia

(Foto: Ricardo Stuckert)
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Num vídeo de cinco minutos divulgado nas redes sociais no 1 de maio, Lula abriu um debate político urgente, em torno do pesadelo produzido pelo novo coronavírus.

Numa conjuntura aterrorizadora pela quantidade de perguntas sem resposta, Lula comete uma ousadia rara nos dias de hoje e discute o futuro do capitalismo.

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A partir de uma argumentação com começo, meio e fim, defende a inevitável reorganização da economia, da sociedade e do Estado quando - e se - o covid 19 estiver vencido ou pelo menos for controlado.

"A História nos ensina que grandes tragédias costumam ser parteiras de grandes transformações", afirma Lula. "O que nós esperamos, o que eu espero, é que o mundo que virá depois do coronavírus seja uma comunidade universal em que o homem e a mulher, em harmonia com a natureza, sejam o centro de tudo e que a economia, e a tecnologia estejam a serviço deles - e não o contrário, como aconteceu até hoje".

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Despido de qualquer visão sobre uma possível proteção divina para garantir a existência da humanidade sobre a Terra, Lula deixa claro que se refere a mudanças que, longe de um ato de vontade, constituem uma necessidade vital: "o vírus, que ataca a todos, mostrou que a raça humana não é imortal e pode desaparecer", diz.

Referindo-se ao momento atual um "longo túnel sem fim", através dos "mais tenebrosos dias da nossa história", em vez de defender alterações superficiais na ordem neoliberal que hoje administra a vida de 3 bilhões de seres humanos, Lula debate alterações profundas e

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mudanças de prioridades.

"A pandemia deixou o capitalismo nu", diz. "Expôs à luz do sol uma verdade inquestionável: o que sustenta o capitalismo não é o capital. Somos nós, os trabalhadores. É essa verdade, nossa velha conhecida, que está levando os principais jornais do mundo, as bíblias da elite

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mundial, a anunciarem que o capitalismo está com os dias contados. E está mesmo".

"E está nas nossas mãos, nas mãos dos trabalhadores, a tarefa de construir esse novo mundo que vem por aí", prossegue.

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Há um poderoso elemento simbólico neste pronunciamento, um dos mais relevantes da vida política de Lula e do atual momento político brasileiro, quando o próprio regime democrático encontra-se ameaçado por um governo empenhado em radicalizar os elementos destrutivos do capitalismo atual, inclusive a ruptura institucional.

Nascida em 1 de maio de 1886, num protesto de operários de Chicago massacrado pela ação policial, a jornada de 8 horas, tornou-se um marco universal das conquistas sociais, abrindo um processo que, muito resumidamente, será descrito no parágrafo seguinte.

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Após um século de avanços importantes na formação de estados de bem-estar social, o curso da história iniciado em 1886 seria interrompido pela ascensão do neo-liberalismo de Thatcher-Reagan, na década de 1980.

Num processo desigual mas combinado, teve início, então, um período de 40 anos de regressão social e quebra de direitos, em curso até os dias de hoje.

É certo que as palavras de Lula, ontem, podem parecer tão exóticas como as reivindicações dos operários que queriam a jornada de oito horas há 134 anos.

Não custa lembrar, contudo, a conhecida verdade de que as ideias de mudança sempre costumam soar como pura esquisitice - até que o debate político posterior permite mostrar fraquezas e fundamentos.

No abismo universal de 2020, é difícil imaginar que o capitalismo seja uma resposta aceitável aos dramas da humanidade - muito menos em sua formação atual, de exclusão social, financeirização da economia, estímulo a investimentos especulativos e inevitável enfraquecimento das democracias.

Como Lula registrou, no universo do covid-19 o planeta foi colocado sob um regime que se tornou incapaz de dar conta da questão básica da existência do próprio capitalismo - garantir condições para exploração dos trabalhadores, e extração da margem de ganho que permite à economia girar, criar empregos, alimentar famílias e assim por diante.

Essa visão, de que o novo coronavírus sintetiza um imenso fracasso histórico, dá sentido à noção de que cabe aos trabalhadores "construir esse novo mundo que vem por aí".

Com ajuda de Lula - formado num período histórico no qual o capitalismo distribuía migalhas nas economias periféricas, hoje sucateadas - ficou mais fácil perceber que este é o debate colocado pela catástrofe universal do covid-19.

Não é apenas saúde pública, nem é só economia. É política - vem daí a importância dos trabalhadores serem ouvidos.

Alguma dúvida?

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