Lula na ONU: a estrela central
O que Lula propõe é mais do que reflexão, ele propõe o enfrentamento da concentração de riqueza

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Lula, Jacó, Olivio e outros tantos jovens guerreiros fundaram um partido que é o maior e mais importante da centro-esquerda em toda América Latina e talvez do mundo, que venceu cinco eleições presidenciais, mas que tornou-se menor, muito menor do que o seu fundador.
Lula é uma personalidade planetária, não um cometa, como escreveu Mario Vitor Santos aqui no 247, mas a estrela central e fundamental.
E essa estrela afirmou na ONU que a miséria e a desigualdade no mundo são resultado do liberalismo. Ouvi apenas uma discordância; o jornalista da GloboNews Daniel Souza considerou um exagero a afirmação do presidente.
Será que Lula tem razão ou exagerou?
Por razões ideológicas tendo a concordar com Lula, pois, o Estado tornou-se refém do capital financeiro global, tanto é verdade que ouve-se diariamente notícias sobre os “humores do mercado”, como se ele fosse uma entidade superior que determina a nossa sorte.
No mundo em que o capital não tem domicílio fixo e os fluxos financeiros estão bem além do controle dos governos nacionais, muitas das alavancas das políticas econômicas feitas pelo Estado não funcionam; o Estado-nação está definhando e os tais “mercados” são as novas forças erosivas transnacionais, são como nuvem de gafanhotos, parasitas.
Segundo Bauman o “mercado” é um “aglomerado de sistemas manipulados por atores em grande parte invisíveis, pressionam com demandas manipuladas, artificialmente criadas com desejo de lucro rápido” e ele completa: “Os Estados não têm recursos suficientes nem liberdade de manobra para suportar a pressão do capital. Com sua soberania e independência anulada, sua classe política apagada, a nação-estado torna-se um mero serviço de segurança para as megaempresas”.
E, devido à implacável disseminação das regras de livre mercado – como fossem dogmas que não se pode questionar -, devido ao livre movimento do capital, a economia é progressivamente afastada do necessário controle Estatal. Nenhum governo consegue resistir por muito tempo as pressões especulativas do mercado.
Toda narrativa, majoritária nas últimas quatro ou cinco décadas, levou à descredibilização da Política e sua demonização, a consequência é o surgimento de personagens intolerantes como Trump, Bolsonaro, Erdogan, dentre outros.
Tendo esse argumento em perspectiva Lula está certo, especialmente porque a desregulamentação, liberalização, flexibilidade, alívio da carga tributária e facilitação das transações nos mercados financeiros, imobiliário e trabalhista, tornou difícil o debate de questões sociais, bem como a efetiva ação Estatal, pois, as questões sociais não são preocupação do neoliberalismo.
A consequência é a enorme concentração da riqueza nas mãos de poucos, ampliação da miséria, da desigualdade e da fome.
Miséria, desigualdade e fome tratados como meras externalidades pelo liberalismo, ou seja, o liberalismo é uma teoria econômica que aceita os danos causados pelo mercado à vida das pessoas; aceitam que vidas sejam destruídas.
O mercado financeiro, a nossa “Faria Lima”, representante servis de instituições internacionais, sugam, como parasitas, a maior quantidade de recursos públicos, em forma de juros da dívida de boa parte dos povos do mundo, não se importando se seus povos sejam pobres ou não.
Como fazem isso? A maldade chega fantasiada de “reformas estruturantes, que os incautos aplaudem sem nem perceber que batem palmas à escravidão e à miséria. Os chamados programas de “ajuste estrutural”, no fim e ao cabo buscam apenas: (a) menos regulação; (b) juros mais altos; (c) taxas de cartões de crédito obscenas e, no nosso caso (d) criminosa taxa de juros Selic, dentre outras tantas maldades.
Essa é uma descrição do neoliberalismo de livre mercado, hoje o modelo econômico dominante de desenvolvimento do mundo capitalista.
O texto “Neoliberalismo, políticas públicas e desigualdade: Uma análise principalmente do Brasil”, e Rose Mary Menchise, Diogo Menchise Ferreira e Antón Lois Fernandez Álvarez, deve ser lido para amplificação e compreensão da tese apresentada por Lula na ONU; nesse trabalho há uma descrição séria da reprodução capitalista mundial, principalmente o que está acontecendo na América Latina e no Brasil.
O que Lula propõe é mais do que reflexão, ele propõe o enfrentamento da concentração de riqueza, pois é injusta a captura os recursos disponíveis e sua entrega ao capital, porque é injusto submeter a população mundial a um sistema sem direitos trabalhistas, previdenciários e sociais, “batizados” de “novas relações de trabalho” ou de “empreendedorismo”.
Não é razoável subordinarmos a existência humana, uma experiência tão breve, aos interesses dos grandes conglomerados, à lucratividade e a um sistema que amplia a desigualdade social, pois “A gente não quer só comida / A gente quer comida, diversão e arte”.
O neoliberalismo foi resposta à crise dos anos 1970, mas ele não solucionou nada, trouxe apenas mais miséria e sofrimento às pessoas.
Lula propõe também que mudemos isso, que coloquemos como prioridade a questão civilizatória e o bem-estar social.
O que é possível, afinal, trata-se de uma decisão política e, portanto, das pessoas.
Essas são as reflexões.
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