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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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Lula superlativo

"Narrar Lula, explicar Lula, codificar Lula. Como fazer? É, certamente, um desafio literário. Não é como redigir um biografia de um vulto histórico qualquer: é muito mais do que isso. A explicação é singela: Lula é um genuíno homem do povo. Ele não se curvou ao universo sedutor da elite política", escreve o colunista Gustavo Conde, para quem "um biógrafo é pouco para Lula"; "Não há mais o que lamentar ou o que temer. A democracia - essa palavra que nesse momento é sinônimo de Lula - está se insinuando para voltar a protagonizar a história deste país. Aos narradores, resta o desafio do relato. Ao povo, resta a catarse democrática, pronta para inflamar novamente os desígnios do eleitor soberano", diz ele

"Narrar Lula, explicar Lula, codificar Lula. Como fazer? É, certamente, um desafio literário. Não é como redigir um biografia de um vulto histórico qualquer: é muito mais do que isso. A explicação é singela: Lula é um genuíno homem do povo. Ele não se curvou ao universo sedutor da elite política", escreve o colunista Gustavo Conde, para quem "um biógrafo é pouco para Lula"; "Não há mais o que lamentar ou o que temer. A democracia - essa palavra que nesse momento é sinônimo de Lula - está se insinuando para voltar a protagonizar a história deste país. Aos narradores, resta o desafio do relato. Ao povo, resta a catarse democrática, pronta para inflamar novamente os desígnios do eleitor soberano", diz ele (Foto: Gustavo Conde)
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Não falar de Lula neste janeiro, é fugir do assunto. A massa de textos que se produz acerca deste homem é tal que é preciso fazer a ressalva, antes de aumentá-la ainda mais. Só Moro escreveu 238 páginas - falaciosas, é verdade - e citou o nome de Lula 557 vezes. Um fã.

Todo o processo do triplex tem 250 mil páginas (que o revisor do TRF-4 leu em 6 dias). A imprensa fala de Lula sem parar há 40 anos. Só de livros sobre Lula - direta ou indiretamente - deve haver uma "Biblioteca de Babel", a infinita biblioteca imaginária do escritor argentino Jorge Luis Borges, com suas "galerias hexagonais e vastos poços de ventilação".

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Mas o volume e a densidade narrativa deste sujeito singular não para por aí. Lula deve ser o primeiro caso no mundo de um líder que, com sua força política e dimensão simbólica, trava o curso natural da história de um país continental: a história se recusa a prosseguir sem a plenitude assegurada dos direitos políticos de Lula.

Tal dimensão tem muitas faces e muitas fases. E esta fase atual não vem apenas de um processo judicial viciado: vem do exato instante da segunda vitória de Dilma Rousseff. Naquele momento, o pânico tomou conta dos segmentos conservadores, pois a vitória de Lula em 2018 já despontava como uma das coisas mais previsíveis do cenário político.

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Quis o destino que a conjuntura política no Brasil se materializasse desta maneira: os conservadores sem discurso promoveram o pânico, judicializaram a democracia e, acabaram, com isso, aumentando a dimensão do símbolo máximo dessa mesma democracia, emocionalizando ainda mais a conexão de Lula com o povo.

Diante desta realidade, não há saída narrativa ou testemunhal que não seja superlativa. Tudo em Lula transcende. É um desafio observar e narrar sua presença não só na vida política de um país, mas também na vida psíquica dos brasileiros.

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Portanto, cumpro a necessidade de fazer uma nota prévia para os espíritos mais sensíveis e acostumados com as narrativas burocráticas e destituídas de emoção que costumam caracterizar a historiografia política brasileira.

Narrar Lula, explicar Lula, codificar Lula. Como fazer? É, certamente, um desafio literário. Não é como redigir um biografia de um vulto histórico qualquer: é muito mais do que isso. A explicação é singela: Lula é um genuíno homem do povo. Ele não se curvou ao universo sedutor da elite política.

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Impõe-se a quem ousa escrever sobre Lula que os lugares sociais pré estabelecidos são, por ele, estilhaçados. Ele se impõe como homem do povo com uma capacidade intelectual muito maior que a de todos os seus supostos pares da elite política.

É esse fenômeno que se alastrou pelo Brasil e que provocou a revolução social que assistimos no passado recente: alunos cotistas sendo melhores que alunos não cotistas. Desportistas pobres ganhando medalha de ouro nas Olimpíadas. Adolescentes de escolas públicas inovando, produzindo pesquisa e manifestando imensa consciência política (lembrar das ocupações das escolas públicas em São Paulo).

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A comunicação de Lula com a totalidade da sociedade não é algo que esteja inscrito nos manuais de marketing político. Os manuais não dão conta disso. Os manuais jamais conseguiriam explicar o significado que Lula dá aos catadores de papel, por exemplo.

Lula vai ao âmago da desigualdade social para explicitar seu compromisso com a condição humana. Só há equivalente disso nas missões de paz da ONU - o mundo político tradicional tem até vergonha de olhar nos olhos dessas trabalhadores pobres que transbordam dignidade.

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Basta olhar as fotos que Ricardo Stuckert vem fazendo de Lula ao longo de quase 20 anos. Não há possibilidade de sequer relativizar a conexão extraordinária entre o povo brasileiro e Lula. São imagens épicas, sensíveis, delicadas, eternas, absolutamente espontâneas, reais, viscerais.

Um biógrafo, portanto, é pouco para Lula. A dimensão do humano ali extravasa qualquer projeto literário. Resta a nós, meros privilegiados de pertencer ao seu tempo, a tarefa de transformar em palavras essa transcendência política.

Como lidar com tantos feitos, imagens, ações, revoluções, sentidos? Ser técnico e fiel aos fatos será ser superlativo, obrigatoriamente - mesmo porque, talvez não seja possível "aumentar" os feitos políticos de Lula.

Dizer que os 258 milhões de votos que recebeu ao longo da vida são a maior votação mundial que um ser humano já recebeu? Não sei. Mas me pergunto se alguém recebeu mais.

Dizer que alguém perdeu três eleições majoritárias seguidas e humildemente foi para a quarta e venceu democraticamente? Talvez, disso haja precedentes. O difícil vai ser encontrar este feito em um outro país com o tamanho do Brasil. Fora a extensão emocional. A emoção subscrita em todo esse processo histórico também não me parece trivial.

Transpor o Rio São Francisco, esse projeto épico e considerado impossível durante um século inteiro? Construir duas mega usinas de energia limpa no norte do país? Trazer divisas imensuráveis via Olimpíadas e Copa do Mundo? Encontrar, com política soberana de tecnologia nacional, a maior jazida de petróleo do século 21? Criar 40 milhões de consumidores, viabilizar gigantes nacionais, transformar um país inteiro praticamente no berço da democracia mundial? Respeitar a democracia recusando um terceiro mandato pronto e já aceito pelo congresso?

Não sei se isso é muito. Talvez queiramos mais.

Talvez queiramos este realizador, que está na sua plenitude física e intelectual - jogando bola - do alto dos seus 72 anos, também de posse de sua plenitude eleitoral. O voto também tem essa conexão transcedental com Lula: não há como separar um amor assim.

Esse Lula que emerge neste momento, fortalecido por enfrentar e vencer a maior perseguição judicial de que se tem notícia, ainda é capaz de abrir o sorriso. Ainda aglutina todas as forças democráticas em torno de si e conduz o debate público do país com a humildade que lhe é traço consagrado.

Não há mais o que lamentar ou o que temer. A democracia - essa palavra que nesse momento é sinônimo de Lula - está se insinuando para voltar a protagonizar a história deste país. Aos narradores, resta o desafio do relato. Ao povo, resta a catarse democrática, pronta para inflamar novamente os desígnios do eleitor soberano.

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