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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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Lula unifica, Ciro divide

O linguista Gustavo Conde identifica um novo movimento retórico no jornalismo de guerra, pronto a combater a reaparição de Lula. Ele diz: "se por um lado, Lula solto atiça a matilha das redações, o jogo jogado também passa a ser outro: há de novo um protagonista em ação de posse de seus movimentos e da iniciativa que só os gênios do xadrez político podem ter"

Por que Ciro é o vice ideal de Lula
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O analfabetismo semântico do jornalismo de cativeiro me diverte, me espanta e me dá uma preguiça danada de continuar tentando explicar pra mim mesmo o tesão pelo equívoco que povoa a cabeça dessa gente.

Eles ainda falam em "unificação das esquerdas" e "unificação de candidaturas". Eles aplicam a "semântica" meia-boca (e totalitária) da direita para interpretar o processo democrático de ocupação de espaço político da esquerda. Nunca vai dar certo.

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Eles não codificaram quando Lula foi o primeiro a cumprimentar Boulos pela candidatura do Psol. Eles não entenderam quando Lula foi o primeiro a cumprimentar Manuela pela candidatura no PCdoB.

Na semântica de puteiro deles, esse gesto é meramente oportunista, demagógico e interesseiro.

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Essa é a maldição de pertencer a esse mundo elitista: ter uma mente limitada, ser incapaz de desenhar cenários e pertencer, miseravelmente, ao mundo do pensamento precário de mercado.

Imaginem jantar com um jornalista desses, a tarefa desinteressante e sociológica que não deve ser.

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O pior é que tem muita gente de esquerda que morde essa isca. Eu morderia iscas com imenso prazer, até porque adoro uma isca e até porque se desvencilhar de um anzol retórico é pura adrenalina. Mas essa isca? Embolorada desse jeito?

Tem setores da esquerda que enunciam: "pois é, a esquerda está desunida e desse jeito vamos perder de novo".

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Depois de ganhar quatro vezes seguidas, o sujeito vai lá e diz que "vai perder de novo". Fora a autocrítica.

Eles não entendem que a suposta fragmentação da esquerda atende pelo nome de "diversidade", na semântica não subserviente do pensamento soberano, com um pé na história e outro na experiência.

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As várias candidaturas de vários partidos podem ser lidas como pluralidade de projetos, presença do contraditório e ocupação simultânea de vários espaços políticos.

Mas é claro que a mente árida dos céticos vai ter dificuldades com esse sistema de interpretação de texto.

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Os redatores infames desse jornalismo apodrecido, que serve ao patrão para alimentar a ilusão de pertencer ao "clube", não se dão conta de que existem níveis de organização política que transcendem ao partidarismo.

E que nesse nível mais amplo, a disputa (a polarização) é entre civilização e barbárie.

O gesto disruptivo que acena para o simulacro de esquerda que ora opera no lodaçal da retomada da democracia encontra sua moenda retórica na curiosa aliança entre PDT e imprensa. 

Senão, vejamos. 

O PDT quer nacionalizar as eleições municipais e tem o apoio do "jornalismo de mercado" para isso. Claro, para fustigar o PT, sempre.

Carlos Lupi foi até citado na matéria da Folha de S. Paulo, na eterna "Black Friday" do texto com desconto semântico (aqueles textos em que a gente tem de dar um "desconto" pelo nível de ruindade do redator).

Risível.

Eleições municipais jamais obedeceram a lógica nacional, ainda mais em se tratando de um momento em que não existe lógica nacional.

A Folha dá uma força danada ao PDT e isso é comovente. O trabalho de ódio ao PT promovido por Ciro Gomes está dando certo, pelo menos no quesito "cobertura do varejo político" na imprensa convencional.

Lula solto assombra as redações que, por sua vez, precisam retroalimentar o ódio ao PT.

E, permitam-me o esclarecimento: o ódio ao PT promovido por Ciro Gomes é incomensuravelmente maior que o ódio ao PT promovido por Bolsonaro, até porque o ex-capitão já anunciou que não vai "polemizar" com Lula.

Essa era a eterna aposta de Ciro Gomes, que jamais, em toda a sua vida, pensou no Brasil.

O fruto a ser colhido por Ciro e por sua postura mercurial e balbuciante é exatamente este: a simpatia da imprensa paulista e a consequente indiferença desta imprensa diante dos eventuais esqueletos no armário que a família Gomes poderia acumular.

Está dando certo, viu, Ciro. Parabéns. Carluxo não faria melhor.

O detalhe é que é sempre preciso "combinar com os russos".

Lula não está mais preso, babaca, quero dizer, Ciro. Se por um lado, Lula solto atiça a matilha das redações, o jogo jogado também passa a ser outro: há de novo um protagonista em ação de posse de seus movimentos e da iniciativa que só os gênios do xadrez político podem ter.

A dicção das matérias em torno da presença renovada de Lula no tabuleiro político escancara ao mesmo tempo o pânico das redações (que terão mais trabalho para manipular a realidade) e sua rendição à nova complexidade cenográfica: eles passaram a prover a esquerda de uma "inteligência".

Para eles, Lula "orienta" a esquerda. Para eles, Lula "dá a senha" para a esquerda. Para eles, Lula "realinha o discurso" da esquerda.

Tudo é retratado negativamente, claro. Mas, pobrezinhos, eles não conseguem esconder que Lula reorganiza todo o espectro político do país.

Para isso, eles precisam de Ciro: para truncar e tensionar o protagonismo avassalador de Lula.

O cenário torna a ficar complexo, porque Bolsonaro pode tirar vantagem desse jogo baixo que o jornalismo de poleiro promove esfregando sua mão imunda em Ciro Gomes.

Se tem alguém que enfraquece, confunde e divide de fato a esquerda, esse alguém atende pelo nome de Ciro Gomes.

E se a responsável histórica por Bolsonaro é a Rede Globo, se a responsável "judicial" por Bolsonaro é a Lava Jato, se o responsável institucional por Bolsonaro é o STF, o responsável eleitoral por Bolsonaro é Ciro Gomes, com seu egoísmo latente, sua inveja explícita e sua ambição irrefreável.

É bom que haja um infiltrado dessa magnitude na esquerda. Porque quanto mais difícil for o desafio de sair desse ambiente tóxico, mais saborosa será a sensação de travar essa luta político-semântica contra a barbárie, contra a covardia e contra a sordidez oportunista dos derrotados.

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