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Helena Iono

Jornalista e produtora de TV, correspondente em Buenos Aires

122 artigos

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Macri deixa os cofres vazios e um povo com fome. Alberto e Cristina trazem a esperança da reconstrução

Assim como Nero, Macri põe fogo na casa, enlouquecido e abandonado até pela grande mídia, Clarin e La Nacion, que anunciaram sua derrota

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As disparatadas declarações políticas e medidas econômicas do governo Macri após o seu fracasso nas eleições Primárias de 11 de agosto (PASO), retratam a falência após 4 anos do modelo econômico capitalista neoliberal e do FMI na Argentina reduzida à pobreza absoluta e à emergência alimentar.

Logo após as PASO, onde a chapa de Alberto Fernández (presidente) e Cristina Kirchner (vice-presidente) venceu a chapa oficialista por uma diferença superior a 16% (com previsões recentes de 52% de intenções de voto para Frente de Todos já no primeiro turno das eleições de 27 de outubro), a crise política e o descontrole econômico do governo Macri prosseguem sem limites. 

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Quais foram as primeiras declarações de Macri ao constatar que boa parte da sua base eleitoral deixou de votá-lo, claramente decepcionada com a mentira, as falsas promessas, e esmagada pelo saqueio econômico? Num ataque de fúria Macri declarou: “Que o dólar suba até onde tenha que ir para que os argentinos aprendam a votar!”. Segundo ele, o dólar disparou no pós-PASO, como parte da reação de insegurança dos “mercados” internacionais que se sentiram ameaçados pelo retorno do kirchnerismo; mas segundo o ex-diretor do Banco Central, Martín Redrado, a subida do dólar foi uma instrução política de Macri; este nada fez para contê-la. 

Assim como Nero, Macri põe fogo na casa, enlouquecido e abandonado até pela grande mídia, Clarin e La Nacion, que anunciaram sua derrota. E o mais grave é que hoje, após 25 dias das Primárias (PASO), Macri ousa declará-las inválidas e que “essas eleições não existiram”. Porém, os seus slogans contra a maldição do kirchnerismo no passado e no futuro não colam mais. As recentes estatísticas revelam que 66% atribui a Macri a responsabilidade desta crise. 

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A crise estrutural do macrismo não tem saídas. As comportas estão escancaradas. As consequências brutais da dependência da Argentina ao FMI assumem o seu ápice neste fim de governo. O último ministro das finanças, Nicolás Dujovne, o Paulo Guedes argentino, aliado servil aos EUA, arquiteto de todos os acordos com o FMI, acumulou fortunas no exterior, renunciou e desapareceu do mapa; Christine Lagarde, sua chefa, deixou o FMI antes da bomba estourar. Enquanto isso, vários países europeus, membros do FMI, resistem em desembolsar os 5,4 bilhões de dólares no prazo estabelecido de 12 de setembro. O novo ministro, Hernán Lacunza, serve à transição de governo até dezembro para entregar a chave da casa incendiada. Este declara o “default” ou reestruturação de parte da dívida argentina; ou seja, a impossibilidade de pagar 101 bilhões de dólares. Em seguida, despencam as ações e os bônus no mercado em 60 a 70%; o risco país supera 2204 e os juros bancários chegam a 85,8% anuais. A jogada de Macri é prorrogar o pagamento da dívida, por ele assumida sem sequer consultar o Parlamento, ao próximo governo.

“Reestruturação da dívida” significa que os pobres vão pagar com mais fome

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Trata-se de uma transição trágica de governo onde a bancarrota da economia Argentina chega a níveis de alta tensão pela impagável dívida externa e o empobrecimento extremo da população como em 2001, quando o ex-presidente De La Rua fugiu da Casa Rosada em helicóptero deixando 30 mortos na Plaza de Maio. A grande tragédia é que o povo argentino já havia vivido tudo isso nas eleições de 2015. A próspera década de Néstor e Cristina Kirchner havia deixado o país com elevada inclusão social e uma reduzida dívida externa (38% do PIB); agora esta passou a ser cerca de 100% do PIB (o PIB no final de 2015 era 550 bilhões e hoje se reduziu a 330 bilhões de dólares) e o povo passando fome, com 172 mil desempregados formais e um industricídio que fechou 20 mil fábricas e comércios.  Cerca de 60 mil trabalhadores de usinas de biodiesel correm o risco de perder o emprego com o congelamento dos preços de combustível. A tragédia social é diretamente proporcional ao endividamento externo. Este governo voltou a endividar o país em 2016 e após 4 anos entrega-o em “default”. O pior e cruel é que os 57 bilhões de dólares da dívida contraída com o FMI, esfumaram-se. De cada 10 dólares que entraram, voltaram a sair do país 8 dólares rumo a centros de investimentos internacionais. Nesta fuga são cúmplices e atores os membros da Macrimafia. Por isso, a Argentina está em default e os aposentados sem remédios subsidiados, famílias sem teto, sem trabalho, e as crianças esfomeadas.
Após a declaração de “default” Macri assinou um DNU (Decreto Nacional de Urgência), decretando o chamado “Cepo”: controle de câmbio e medidas financeiras restritivas para impedir o esvaziamento total das reservas do Banco Central e a disparada do dólar; medidas estas tão criticadas por este governo quanto à gestão anterior kirchnerista. Mais recentemente,  Macri resolveu atacar também os seus aliados da oligarquia exportadora e empresários investidores, e parte da classe média. Os exportadores, desde 2016 até ontem, protegidos por Macri não tinham obrigações de trazer ao país os dólares recebidos pela venda ao exterior em prazos breves (algo sempre defendido pela oposição peronista); agora, em 5 dias ou 90 dias após a venda, os exportadores devem retornar os dólares ao país. Só agora Macri decidiu soltar as mãos da oligarquia, mantendo intacta a minoria financista mais poderosa.  O tal do “cepo”, que permite a compra máxima de 10 mil dólares, afeta cerca de 26 mil milionários da cúpula financeira, os únicos com semelhante poder de compra, mas que já roubaram fortunas suficientes para escaparem.

Introduziu-se também uma medida que prorroga o vencimentos e bloqueia saques aos investidores de Letras de câmbio, ou Fundos de curto prazo, afetando pequenos e médios empresários; estes, sem poder recorrer aos fundos, estão impossibilitados de comprar matéria primas e pagar salários. Da mesma forma, prefeitos e governadores, como consequência dessa normativa, atrasam pagamentos de serviços e funcionários. O “Cepo” tem efeito em cadeia, com consequências atrozes sobre o custo de vida e renda de toda a população.

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Emergência alimentar e pressão social

O “default” na Argentina de Macri não concerne somente aos Bancos, mas ao povo trabalhador, aos desempregados e aos que passam fome. “Default” é dívida social. Os sindicatos, a oposição peronista, os movimentos sociais deram o alerta e combateram nestes 4 anos a trágica entrega do país ao FMI. Este trouxe os dólares para saquear direitos trabalhistas, aposentadorias, acabar com Ministérios, fechar hospitais, cortar a luz, o gás, o transporte e os remédios. Este é mais um  alerta ao Brasil que votou em Bolsonaro! Assim como o crime ambiental de Bolsonaro na Amazônia é um alerta aos eleitores de Macri, que acaba de decretar uma lei que não requer certificados de importação de resíduos e lixo internacional.

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Torna-se frio e insuficiente apresentar números, mas é preciso dá-los para os que não querem ver as ruas e constatar a tragédia deste país. A Argentina tem 15 milhões de pobres, dos quais 3 milhões são indigentes.  31,3% da população é pobre. 1 de cada 2 crianças é pobre.  4 de cada 10 crianças comem em refeitórios públicos sustentados por prefeitos, paróquias ou cidadãos solidários.  1 de cada 3 criança passa fome na Província de Buenos Aires. 46,8% dos menores de 14 anos são pobres. O aumento médio do preço dos alimentos foi de 100% em um ano, e a inflação anual prevista é de 57%. É criminoso um governo contrair dívidas para financiar a fuga de capitais, deixar o povo nestas condições e dizer que as eleições de 11 de agosto não existiram.

Por isso, há fome e um estado de tensão e mobilizações massivas todos os dias., e em todos os lados. Os movimentos sociais, partidos de esquerda, católicos, sindicatos de trabalhadores estatais (ATE), da CTA à CGT manifestam-se em apoio aos sem-teto, aos que pedem pão e trabalho, acampados sob frio gélido nos pés do Obelisco da avenida Nove de Julho em Buenos Aires. A CTERA, central sindical dos professores decretam hoje greve geral nacional contra a repressão aos professores em Chubut. Não fosse a chance de reverter a situação dentre de poucos meses através das eleições, uma tragédia social na Argentina estaria na ordem do dia. Há uma luz no fim do túnel e a esperança de chegar vivos às eleições de outubro elegendo o novo governo de Frente de Todos . A esperança está na mensagem clara de Alberto Fernández de que a única dívida inadiável é com as crianças, os idosos e os trabalhadores; e recordando palavras de Néstor Kirchner: “os mortos não pagam dívida”. Mas, até lá os movimentos sociais, sindicatos, parlamentares da oposição, os católicos pelo povo e até a UIA (União industrial argentina) estão chamando a decretar situação de Emergência Alimentar na Argentina.

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Cristina Kirchner e Alberto Fernández 

Cristina Kirchner, de retorno de Cuba, onde esteve visitando sua filha Florência, sob cura médica, continua semeando energias e ideias para esta curta e difícil travessia até outubro. O lançamento do seu livro “Sinceramente” tem se transformado em massivos comícios políticos. Imprescindível assistir este vídeo em La Plata, sua cidade natal, de estudos e juventude militante para ver como o povo mobilizado, sobretudo pós-PASO aguarda seu retorno ao lado de Alberto Fernández, e Axel Kiciloff que ocupará a casa de governo provincial de Buenos Aires (La Plata),  para por um fim a este pesadelo neoliberal dos últimos anos. Cristina disse entre outras coisas: “Aumentar o dólar porque você votou a um fulano... Isso não se faz. Não é de bom ser humano. Isso é de um ser humano maldoso”.  Assista o vídeo sobre este comício, e o papel de liderança de massas de Cristina Kirchner.  Sua voz chega também no Brasil com a publicação do livro “Argentina Sacudida” do jornalista FC Leite Filho.
Alberto Fernández não se dobra ao “abraço do urso” de Macri que tentou cooptá-lo, após as PASO, para compartilhar as desgraças do seu governo. Após, inaugurar suas viagens internacionais tendo visitado Lula da Silva na prisão, vai à Espanha, recebido por Pedro Sánchez e personalidades políticas. Numa significativa conferência que acaba de dar a deputados espanhóis explicita pontos chaves do seu governo: a integração dos países sem subordinações (“a dependência às políticas dos EUA nos fez retroceder”); a prioridade da dívida (“não nos peçam que paguemos às custas do povo”); o papel da justiça na América Latina (“o que está ocorrendo com Lula, Correa e Cristina é imperdoável!” "É preciso deixar de usar os juízes para perseguir aos que não se pode derrotar nas eleições"). E reitera fortemente sua adesão à campanha por Lula Livre. Após cumprir a próxima visita ao primeiro ministro de Portugal, irá ao México respondendo ao convite de López Obrador. Tudo indica que já é tido como o novo presidente da Argentina que com Cristina Kirchner dará uma guinada de 180 graus nos rumos do país e da região latino-americana para recuperar os laços de integração dos governos progressistas e voltar a fortalecer as políticas sociais e de Estado soberano. Não há dúvidas de que o novo governo peronista da Frente de Todos encontrará o respaldo de um bloco econômico alternativo que se está formando com a Rússia e a China e a nova moeda (substitutiva do dólar furado) na rota da seda. Organismos de integração como o BRICS e Unasur, retomarão fôlego com a guinada argentina. Lula perguntou na entrevista ao Brasil247 “qual o presente que lhe iriam dar no dia do seu aniversário, 27 de outubro?”. O povo argentino lhe está preparando, com muita luta, um presentão.

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