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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Manifesto é adiado (?) porque podia magoar Bolsonaro

"O Brasil é, talvez, o único país em que um grupo de instituições se reúne, monta um manifesto e depois desiste de torná-lo público porque pode 'magoar' o alvo do protesto", escreve Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia, sobre manifesto articulado pela Fiesp

Jair Bolsonaro cumprimenta Paulo Skaf, Presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) (Foto: Anderson Riedel/PR)
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Por Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia

O Brasil é, talvez, o único país em que um grupo de instituições se reúne, monta um manifesto e depois desiste de torná-lo público porque pode “magoar” o alvo do protesto. É mais ou menos como dizer: você se importa se eu “zoá-lo” um pouquinho? Ah! Vai ficar chateado? Então deixa para outra hora...

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De todas as situações “nonsense” que temos vivido - e são muitas – a de hoje supera qualquer expectativa. Primeiro, porque acordarmos cedo com a notícia de que o Paulo Skaf, (o idealizador do “pato amarelo” que todos iríamos pagar se a ex-presidente Dilma Rousseff continuasse no cargo) estava na oposição foi um impacto. 

Como assim? Aquele senhor que por anos a fio atravessou governos de todas as cores à frente da Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP) agora ia mesmo ser oposição? Difícil acreditar. Bastou algumas horas para que ele voltasse ao seu “normal”, ao estágio de direita convicta, defensor ferrenho do liberalismo. 

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Para não fazer feio, o ainda presidente da Fiesp deu uma desculpa esfarrapada. Mandou publicar uma carta em que diz ter sido tamanho o sucesso da “iniciativa”, que precisou adiar – coincidentemente para depois do dia 7 de setembro – a publicação do manifesto. Prefiro acreditar nos seus cálculos de empresário bem-sucedido, de que sair com um documento desse teor agora colocaria mais lenha numa fogueira que já fez labaredas altas e agora está em brasas vivas, em fogo baixo. Melhor compor, tentar empurrar esse problema até 2022, tentando tirar de Guedes, o incompetente, algumas lascas mais de vantagem. 

Só para refrescar a memória do distinto público, em 2013, quando surgiram os primeiros protestos contra o governo de Dilma, Skaf dava ordens para que o painel de lâmpadas led da faixada da federação reproduzisse a bandeira nacional, num sinal claro de que dava o “maior apoio” às manifestações, naquela época ainda incipientes. À medida que cresciam, Skaf se apropriou do movimento e montou um verdadeiro acampamento na frente do prédio, a fim de manter aceso não só o painel, como também os protestos, a esta altura já cooptados pelo Movimento Brasil Livre (MBL), liderado pelo jovem Kim Kataguri (PSL-SP), hoje um deputado federal.

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Não é demais lembrar que no ano passado, na condição de presidente da federação, deslocou-se até Brasília com um grupo de empresários dispostos a se perfilarem ao lado do governo, mesmo com os gritos de “abaixo o STF” ainda ecoando nos ouvidos da população, palavra de ordem dita por Bolsonaro, no portão do alto comando do Exército, no final de semana anterior. Será que naquele momento não lhe soou estranho um presidente se manifestar dessa maneira contra um dos poderes que, hoje, em seu texto/ensaio ele defende, sejam harmônicos? Ou naquela época valia um “triângulo” perneta, desde que ele e o seu grupo continuassem a receber benefícios do poder?

O manifesto onde aparece um Paulo Skaf (e seu grupo) indignado, atraiu a assinatura de 200 entidades empresariais para pedir harmonia entre os Poderes da República e tem apenas cinco parágrafos. (A versão mais recente, a que a Folha teve acesso, e aqui transcrevo, circulou no sábado, 28).

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De acordo com o que disse o ministro Paulo Guedes, àquele jornal, “a publicação do texto foi suspensa pela Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) – a previsão era que fosse publicado nesta terça-feira (31) – e que “alguém” da Febraban, entidade que representa os bancos, teria transformado o documento em um ataque ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido). São mesmo uns ativistas e subversivos esses banqueiros...

Pena, a sociedade não lerá nas páginas, antes de ganhar as ruas daqui a uma semana, a defesa de Paulo Skaf da Constituição e dos poderes que um dia atropelou. (Amanhã – 31 de agosto – marca os cinco anos da queda do governo Dilma). Vai aqui a prévia do manifesto “adiado”:

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A praça dos três poderes encarna a representação arquitetônica da independência e harmonia entre o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, essência da República. Esse espaço foi construído formando um triângulo equilátero, cujos vértices são os edifícios-sede de cada um dos poderes.

Esta disposição deixa claro que nenhum dos prédios é superior em importância, nenhum invade o limite dos outros, um não pode prescindir dos demais. Em resumo, a harmonia tem de ser a regra entre eles.

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Este princípio está presente de forma clara na Constituição Federal, pilar do ordenamento jurídico do país. Diante disso, é primordial que todos os ocupantes de cargos relevantes da República sigam o que a Constituição nos impõe.

As entidades da sociedade civil que assinam este manifesto veem com grande preocupação a escalada de tensões e hostilidades entre as autoridades públicas. O momento exige de todos serenidade, diálogo, pacificação política, estabilidade institucional e, sobretudo, foco em ações e medidas urgentes e necessárias para que o Brasil supere a pandemia, volte a crescer, a gerar empregos e assim possa reduzir as carências sociais que atingem amplos segmentos da população.

Mais do que nunca, o momento exige do Legislativo, do Executivo e do Judiciário aproximação e cooperação. Que cada um atue com responsabilidade nos limites de sua competência, obedecidos os preceitos estabelecidos em nossa Carta Magna. Este é o anseio da Nação brasileira.

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