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Wilson Ramos Filho

Jurista, professor e escritor

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Manumissão

A incompetência do governo diante da pandemia também fez com que parte do empresariado abandonasse o bolsonarismo. Alguns até simulam arrependimentos

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Os fatos estão para quem quiser vê-los. Não há mais ingênuos ou iludidos. Quem votou no jaguara em 2018 até podia alegar desconhecimento de sua perversa personalidade. Agora já não. 

A Direita Concursada, classe parasitária, relevou todos os desatinos do Moro e apoiou Bolsonaro. Queria um Brasil à sua imagem e semelhança. Mesmo depois de expostas as relações obscenas entre o judiciário e o MPF permaneceu fiel à sua escolha eleitoral. Considera que o estado brasileiro existe para garantir-lhe as sinecuras e seus desproporcionais vencimentos. Com a traição de Moro à criatura que ajudou a eleger, pequena parte da Direita Concursada diz ter abandonado a devoção à doutrina bolsonarista. Mas a grande maioria dela finge não ver relação entre o lavajatismo e a eleição de Bolsonaro. É uma gente ruim, desprezível, irrecuperável para o convívio democrático. Alguns deles, por motivos diversos, dizem já não apoiar incondicionalmente o governo federal. Como são intrinsecamente canalhas, agora com o previsível congelamento nos holerites, muitos outros abandonarão a base social de apoio do governo. Mas não se tornarão jamais solidários ao povo que tanto desprezam. Podem abandonar Bolsonaro, mas continuarão sendo de direita e inimigos da classe trabalhadora. 

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Seja como for, quem tinha que se arrepender já se arrependeu (me engana que eu gosto). Quem, apesar de tudo, ainda não “se arrependeu” não o fará, haja o que houver. São ideológicos. Bolsonaro é consequência da maneira de existir em sociedade defendida pela Direita Concursada. 

O patronato não é melhor que a elite mais bem remunerada do serviço público onde se concentra a Direita Concursada. Os empresários brasileiros que enriqueciam com a exploração do trabalho escravo, na segunda metade do século XIX, se livravam dos escravos mais velhos e já pouco produtivos concedendo-lhes a alforria. Era mais barato manumiti-los, libertá-los, do que deles se encarregar. Veio a república e o empresariado pouco mudou. Defendem a liberdade econômica, a livre negociação entre empregados e patrões (entre os pescoços e a guilhotina), a mão invisível do mercado, mas demandam sempre atuação do estado para manter seus privilégios de classe. 

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A incompetência do governo diante da pandemia também fez com que parte do empresariado abandonasse o bolsonarismo. Alguns até simulam arrependimentos. A maioria dos patrões, todavia, segue fiel à maneira de existir em sociedade que expressaram em sua escolha eleitoral em 2018. Agora que atingimos o patamar de mais de mil mortes diárias pelo coronavírus já não há mais razões para acreditar na sinceridade dos argumentos daqueles que insistem em manter seus negócios abertos. Sabem que de sua decisão em sabotar o isolamento decorrerão dezenas ou centenas de milhares de mortes nos próximos meses. Não estão iludidos. Sabem que seu individualismo é assassino, e não se importam. Esses empresários têm as informações, conhecem as evidências, mas privilegiam seus lucros. A liberdade (para explorar) é mais importante que a vida. Morre gente todo dia. A frase do Bolsonaro é a síntese da concepção ética dos patrões brasileiros.

Utilizando-se do paradoxo, figura de linguagem não entendida pelos obtusos, pode-se dizer que “ainda bem” que Bolsonaro é como é, que diga o que diz, para que entendamos a racionalidade da Direita Concursada e dos proprietários dos meios de produção. 

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As parcelas do funcionalismo e do empresariado que tinham que romper com o bolsonarismo já o fizeram. Quem ainda segue apoiando o governo federal, apesar de tudo, configura-se em “caso perdido”. Inútil tentar atrair esses setores para o, digamos, “campo democrático” que se opõe à barbárie e ao obscurantismo. A insensibilidade daquela turma não tem limites. Morrem mais de mil a cada dia? E daí? No vídeo da reunião ministerial divulgada aparecem vários crimes? E daí? O senil Heleno ameaça o stf? E dai? 

Basta! Chega de bom-mocismo e de generosa compreensão em relação a esses cretinos. A Direita Concursada e o empresariado que ainda apoiam Bolsonaro, e os políticos que os representam, são inimigos e devem ser tratados como tal. Precisamos nos alforriar desta inútil tentativa de convencê-los a se tornarem menos repugnantes. 

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Chegou o momento de sermos generosos com os interesses da classe trabalhadora, sem poupar nossos algozes. Merecemos nos permitir a manumissão autoconcedida para nos libertarmos da inútil pretensão de atrair “arrependidos”. Quem não se arrependeu até agora, repita-se mil vezes, é caso perdido. Como eles adoram falar em mérito, para que bem nos compreendam, deixemos claro que serão tratados como merecem: como inimigos. Não contem conosco para suas reivindicações corporativas ou de ajuda para superar a crise econômica que decorre do neoliberalismo que tanto defendem. E que escolheram. 

Wilson Ramos Filho (Xixo), doutor em direito, integra o Instituto Defesa da Classe Trabalhadora

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