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Nêggo Tom

Cantor e compositor.

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Marcelo Crivella em: o salário da arte é o sorriso

Ao empossar a nova secretária de cultura do município, Nilcemar Nogueira, o novo prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, fez um discurso que pode ser considerado um desrespeito e um desserviço à arte e à cultura do país

O candidato ao cargo de governador do Rio de Janeiro,Marcelo Crivella (PRB), concede entrevista (Fernando Frazão/Agência Brasil) (Foto: Nêggo Tom)
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Foi com tristeza e decepção que recebi a notícia de que o novo prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, ao empossar a nova secretária de cultura do município, Nilcemar Nogueira, fez um discurso que pode ser considerado um desrespeito e um desserviço à arte e à cultura do país. Segundo o Bispo, está na hora de realizar mais com menos, no campo da cultura. Poderia ter se mancado da gafe que estava começando a cometer e parado por aí, mas como tem gente que gosta de pagar mico em 10 vezes e com juros, Crivella foi além.

Segundo ele: "Cultura é troca. O artista, o escultor e o músico trocam a sua arte por um sorriso, um sentimento, um aplauso." Que lindo! Isto posto, estou pensando seriamente em sair com meu CD (que por acaso, tive custos para gravar) pelas ruas e pedir para que as pessoas, ao invés de comprá-lo, apenas sorriam e batam palmas. Será o suficiente para que eu pague as minhas contas e me sinta valorizado. Deve ser assim que os bem sucedidos artistas do segmento Gospel se mantêm. Seguindo a lógica de Crivella, penso que os pastores da empresa religiosa que ele ajudou a fundar, que apesar da canastrice agem como verdadeiros atores, deveriam fazer orações, efetuar curas e distribuir bênçãos a seus fiéis, apenas em troca de um sorriso, de um sentimento, de um aplauso. E não em troca de 10% de seus rendimentos, de desafios na fogueira santa, de carros importados, de imóveis e de outras doações generosas.

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Não me lembro de ter ouvido falar que Jesus Cristo levou alguma grana do cego, do paralítico, do possesso, do mudo e de tantos outros que ele curou, abençoou e perdoou os pecados. Também não tenho conhecimento de que Cristo construiu milhares de templos com o dinheiro de seus seguidores, com o propósito de divulgar a palavra de seu pai. Talvez ele pensasse como o Crivella e fizesse tudo na base do amor. Para piorar ainda mais o seu soneto, Crivella emendou fazendo referência a Cartola e Dona Zica, avós de Nilcemar Nogueira, lembrando que "A maior lição para nós talvez tenha vindo da Dona Zica e do Cartola, que não precisaram de muito para se tornarem imortais nas nossas almas" Comparação tão poética quanto lamentável.

Uma pena que o tio de Crivella, Edir Macedo, não pense dessa forma. Hábil na arte de enganar, ele precisa de muito e de cada vez mais para implantar o reino de Deus na terra ou se tornar o próprio. Até uma réplica do templo de Salomão ele construiu por aqui. Uma construção milionária realizada com muito dinheiro alheio, e onde, segundo as más línguas, ele reside e gostaria de ser enterrado. Talvez ele acredite numa imortalidade aos moldes dos faraós egípcios, que eram sepultados com os seus pertences. As vezes penso que Edir Macedo e outros homólogos religiosos, abriram uma franquia celestial e disputam para ver quem mais fatura com a marca. Um dia, quem sabe, um deles deterá a patente em definitivo. O discurso de Crivella é o típico "Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço", discurs o esse que é quase um mantra subliminar que a classe dominante usa para tentar adestrar os descontentes e mantê-los sob controle.

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Enquanto muitos pastores, bispos e apóstolos da cultura da prosperidade, trocam seus favores espirituais por muita grana e por outras doações concretas de suas ovelhas, Crivella entende que os verdadeiros artistas devem se contentar apenas com o abstrato, fazendo da valorização arte e da cultura, um depósito de sentimentos caridosos. Oh, glória! Eu gostaria de ver o Bispo Crivella subir ao púlpito de sua igreja e dizer a seus fiéis que a partir de agora eles poderiam ganhar mais bênçãos doando menos dinheiro e que a fé é uma troca de sentimentos puros, que independe dos 10% da renda de cada um e que os pastores abririam mão de seus salários e se contentariam com um sorriso de agradecimento.

Crivella ainda fez um comparativo quase que infame, entre a Petrobrás e as comunidades carentes. Em sua opinião devemos olhar para esses dois pólos, "A nossa maior riqueza, a Petrobras, na descoberta do pré-sal fez tão pouco com tanto. As nossas comunidades com tão pouco fazem tanto. Essa cultura de fazer mais com menos é que peço a Deus para que a Nilcemar possa nos guiar" Ou seja, pontuou o seu discurso com mais contradição, provando que está alinhado com a austeridade dos golpistas. Aliás, ele também foi um deles. Trabalhar mais ganhando menos é o lema do golpe. E que Deus nos ajude a suportar a escravidão que está nos sendo imposta. Logo Crivella que é o autor da PEC que isenta as Igrejas situadas em imóveis alugados de pagarem IPTU. Eles realmente não sabem fazer mais com menos, mas querem que os outros saibam.

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Marcelo Crivella, que ajudou o seu tio Edir Macedo a difundir pensamentos tais como: "Quanto mais você dá, mais você recebe" e "Ou dá ou desce", parece que se perdeu completamente em sua declaração. Só faltou ele citar que Cristo alimentou uma multidão com tão pouco, apenas cinco pães e dois peixes, e com isso tentar convencer a muitos que trabalham, e que ainda assim não têm condições de fazer todas as refeições diárias, de que eles não estão tão mal assim. Conseguir trabalhar mais e comer menos é pura arte. Seria a santificação da cultura da fome. Mas eu duvido que ele gostaria de ser santificado de tal forma.

Crivella também é Cantor e Compositor e tem alguns CD's gravados, nos quais ele mostra toda a sua arte e inspiração divina. Quem se aventurou a comprar a obra musical do Bispo, não a adquiriu pagando com sorrisos, sentimentos e aplausos. Teve que desembolsar uma graninha. Eu gostaria de saber a opinião dos artistas do segmento Gospel sobre o discurso do prefeito. Será que eles trocariam seus cachês por sorrisos e aplausos. Afinal, o obreiro é digno do seu salário. Desde que o obreiro seja pastor, bispo, prefeito ou artista gospel. E assim, já nos primeiros discursos, Crivella mostra que como administrador, será um bom bispo da Universal.

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