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Giselle Mathias

Advogada em Brasília, integra a ABJD/DF e a RENAP – Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares e #partidA/DF

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Marias 1

Descobri após a separação que não era tão estranha assim, que eu apenas decidira respeitar a mim mesma e não aceitar mais viver a farsa daquela relação, resolvi dar uma oportunidade à vida

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Antes de me casar imaginava que tudo seria harmonioso, não via meus pais discutindo e a vida familiar era quase como uma propaganda da família feliz, acreditava que reproduziria aquele modelo no qual cresci. Não imaginava os sacrifícios feitos para manter aquela aparência dentro e fora de casa. As histórias dos casamentos pareciam quase perfeitas, me falavam sobre a importância da estabilidade, sobre um modelo familiar próximo ao divino, e as mulheres que conhecia faziam questão de alardear o quão maravilhosas eram suas relações. Depois que me casei percebi que as coisas não eram como me eram apresentadas. Sei que existem relações matrimoniais boas, e que muitas são equilibradas e pode-se dizer até felizes. Mas eu me sentia esquisita diante de tantas histórias de relações “perfeitas”, porque a minha não era tão formidável, me sentia deslocada, como se os problemas da vida a dois só fizessem parte do meu casamento, e passei a acreditar que a culpa era somente minha, era como se eu fosse a complicada, incompreensível e chata, e se havia turbulências, eu era a responsável e intolerante.

Demorei muito para entender o quanto disfarçamos e escondemos nossos incômodos e desilusões, estamos a todo o tempo tentando mostrar aos outros uma perfeição, uma felicidade constante que na verdade é inexistente. Na sociedade em que vivemos exige-se o sucesso absoluto, a felicidade suprema, a conquista através da concorrência, a aquisição de bens materiais supérfluos, onde apenas poucos chegarão ao topo. Essa forma e cultura na qual somos construídos nos retira ou nos faz esconder a nossa humanidade, o que realmente somos, ocultamos nossa essência e mostramos apenas a aparência requerida para que possamos fazer parte de algo tão superficial e vago quanto uma folha de papel em branco. 

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Descobri após a separação que não era tão estranha assim, que eu apenas decidira respeitar a mim mesma e não aceitar mais viver a farsa daquela relação, resolvi dar uma oportunidade à vida. 

Nessa nova etapa conheci várias pessoas e as histórias sobre os casamentos mudaram; os discursos não eram mais sobre a quase perfeição da família, como tudo era resolvido facilmente, sem dores e dificuldades, o quanto joias, viagens e jantares amenizavam as desconfianças, inseguranças e acalmavam a ausência de conversas, cumplicidade, carinhos e sexo.

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Contarei aqui a história de Maria A, uma mulher com mais de 60 anos, casada há 40, com filhos adultos e netos. Ela é jovial, alegre, comunicativa e adora dançar e se divertir. Assim nos conhecemos, em uma tarde de samba com amigos, com uma maravilhosa feijoada e caipirinha. Eu estava sentada na mesa conversando, enquanto ela dançava suavemente próximo a roda de samba, sua desenvoltura e prazer em remexer seu corpo eram visíveis. Comentamos o quanto era bela aquela imagem, que nos aparentava uma independência feminina, sem as preocupações em cumprir um padrão estabelecido, ou comportar-se como definido para sua idade, nos mostrava uma leveza que até nos causou inveja.

Os músicos foram fazer um intervalo e nesse instante Maria A  se aproximou de nossa mesa, disse que estava nos observando e achara nossa conversa animada e perguntou se poderia se juntar a nós, porque gostava de estar perto da alegria, sua energia vinha da vontade de viver e se entregar ao que se apresentava como prazeroso e divertido.

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Na hora dissemos que sim, seu entusiasmo era contagiante. 

Conversávamos naquele momento sobre a relação de uma amiga, trocávamos nossa impressão sobre as atitudes e possíveis sentimentos que poderia haver entre os dois, riamos do quanto o comportamento daquele homem era similar, quase idêntico ao de tantos outros, e como esse padrão masculino é cansativo, mas que as mulheres ainda acreditam poder mudar com o tempo e sua disponibilidade para esses machos.

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Maria A silenciosamente nos ouvia, quando nos interrompeu e disse que iria contar a sua história e qual foi o seu caminho para a libertação. Não julgo ou dou qualquer tipo de valor, acredito que cada ser humano busca para si o caminho que lhe convém, conforta e traz os prazeres e satisfações que busca.

Ela nos conta que conheceu seu marido ainda muito jovem, não fora a paixão da sua vida, mas havia sido ensinada que deveria se relacionar com quem gostasse mais dela do que ela dele, um ensinamento que também recebera de minha mãe, e como uma “boa” mulher casou-se com esse homem que tanto a desejava e amava. Acreditou que a relação seria boa, pois tinham muitas coisas em comum, gostavam de sair, de boa música, quando namoravam iam aos bailes, como ela disse, para dançarem, se divertiam juntos.

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Veio o noivado e logo em seguida o casamento, os dois trabalhavam, ele dentista e ela professora primária; no começo a rotina não pesava tanto, eram só os dois construindo o ninho para a possível chegada de um filho, que viria quatro anos após o enlace matrimonial.

Tiveram três filhos, com a distância máxima de um ano e meio para cada um, sua carreira profissional ficou estagnada, cuidava dos filhos e da casa, apesar de sempre ter tido uma ou duas funcionárias em sua residência; o marido dedicava-se com exclusividade a sua profissão, as responsabilidades com os filhos se reduziam a uma troca de fraldas, um banho, e as brincadeira e um pouco de atenção aos finais de semana, mas sempre dissera que a ajudava na criação das crianças.

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