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Giselle Mathias

Advogada em Brasília, integra a ABJD/DF e a RENAP – Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares e #partidA/DF

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Marias 5

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Ele entra no escritório e assim como a funcionária, temia o que poderia acontecer, pois não conseguia extrair nenhum tipo de emoção de sua esposa. Sentou-se no sofá e aguardou que ela dissesse algo. Estava angustiado. Aquela aparência de homem forte e inabalável que tentava passar ruíra por completo diante de Maria B.

Ela já havia tomado sua decisão; as rédeas de sua vida foram retomadas e ela apenas comunicou a seu marido o que havia decidido: 

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- A funcionária levará adiante a gestação e a criança será registrada como nossa filha! Pagaremos uma boa quantia a ela por seu silêncio, e nunca mais a veremos. Não irei me separar de você, mas nunca mais serei tocada por suas mãos, apenas o suficiente quando estivermos em público. Tem algo a me dizer?

O marido apenas balançou a cabeça, em um sinal afirmativo, não tinha nada a dizer, apenas concordar e pela primeira vez em sua vida se submeter. Naquele instante percebera todas as dores que lhe causara, como a desconsiderou e desrespeitou, sentiu em sua alma o flagelo de ser silenciado e tentou entender tudo o que ela sentira por anos na vida conjugal que tinham. Involuntariamente se colocara no lugar dela.

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Não sei os rumos que essa história tomou. Minha amiga Promotora se afastou do casal após sua separação, disse apenas que nasceu uma linda menina e Maria B lhe trata com muito amor e cuidado. Ela é a mãe que sempre desejara ser.

Pensei na funcionária, como ela se sentira sobre entregar sua filha, não poder estabelecer nenhum tipo de contato e agir como se essa história nunca tivesse acontecido; esquecer que um dia teve essa criança; sinceramente, não sei como me sentiria! Creio que tomou a decisão para proporcionar uma vida melhor aos seus dois outros filhos. 

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Não acho justo julgar uma mulher pela decisão que tomara, nem mesmo valorar a atitude de Maria B; o acordo havia se formado entre as duas na conversa que tiveram; duas mulheres sobreviventes, com contas bancárias diferentes, mas silenciadas, violadas e desrespeitadas pelo mesmo homem.

Após essa história me recordei de uma amiga da minha mãe que se suicidou. Eu ainda era adolescente quando o fato aconteceu, lembro-me do quanto fiquei chocada! Não entendia como alguém poderia abrir mão de sua própria vida. 

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No seu funeral as pessoas falavam baixo, muitos choravam, seus filhos estavam inconsoláveis. Todos queriam entender o porquê de ela ter se matado, com um tiro no peito. Ainda não se sabia nada, só se ouvia as teorias criadas pelos presentes sobre a decisão tomada por Maria C. Quando me aproximei do grupo de mulheres onde estava a minha mãe, ouvi uma delas, maldosamente dizendo que ela havia ficado louca, se matou porque amava imensamente o marido e não teria aceitado uma traição, era uma desequilibrada e inconstante, afinal, todo o homem trai e não precisava ter chegado a tanto. Meu estômago embrulhou, me senti nauseada, queria mandá-la calar a boca; meu rosto se transformou e ficou transparente meu incômodo. Como aquela mulher poderia falar daquela forma sobre a amiga que partira. Minha mãe me observando, pegou em minha mão, deu um leve aperto e delicadamente me afastou daquele grupo. Quando estávamos afastadas daquelas mulheres ela em um tom leve de voz, me disse:

- Desconsidere o que ouviu, são pessoas fúteis e superficiais, não compreendem o humano e as dores de cada um!

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Eu apenas a abracei e chorei baixinho em seus braços, precisava do aconchego materno. Acho que aquele momento me trouxe uma mistura de sensações, a tristeza que via nas pessoas, o desprezo e maledicência de alguns, a incerteza sobre o amanhã e o medo de sentir uma dor tão profunda que me levasse a não mais suportar a vida.

Eu gostava muito de Maria C, era uma das melhores amigas de minha mãe, uma mulher incrível, procurava sempre estar com um sorriso no rosto, conversava comigo e me dava dicas sobre os garotos; minha mãe ria e dizia que eu precisava era estudar, terminar a faculdade e trabalhar, então ela balançava a cabeça e sorrindo discordava; falava que eu deveria aproveitar todos os momentos de minha vida, não deveria me apegar ao primeiro homem que aparecesse, por isso deveria namorar muito, estudar muito e ser diferente dela. Aquelas conversas leves e em tom de brincadeira eram apenas um disfarce para esconder toda a destruição do seu ser, não conseguia dizer o que realmente se passava com ela e não conseguiu externar seu grito de socorro ou buscar sua libertação, em desespero resolveu tirar a própria vida, porque não suportava mais ter a sua existência negada.

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