Marina e verbo “demagogiar”

1. Marina e verbo "demagogiar"

Não resisti... Eu prometi a mim mesmo não voltar a escrever sobre os presidenciáveis, cujos caminhos se voltam faceiramente para o festivo, alvissareiro e imprevisível dia 05 de outubro. Minhas claras e históricas posições políticas de esquerda, por vezes, podem ser confundidas com preferências partidárias e isso, além de não ser verdade, compromete o texto e a credibilidade que tento preservar neste espaço de descontraída meditação. A soma incomensurável de bobagens e de inverdades a brotar deste solo fértil da demagogia eleitoral jogaram-me, de forma inexorável, para frente deste teclado desgastado com a hercúlea missão de convidá-los a algumas reflexões fúteis, mas necessárias.

2. O movimento pendular de Marina

Irei deter-me um pouco nas escolhas da nobre acreana, cujo prazer em conhecê-la remonta ao início dos anos 90. Não cabe falar do passado, mas apenas do presente e do futuro. Aqui, neste particular, a falta de convicção e de postura demonstrada por Marina, após ser alçada, por intervenção de um avião "sem dono", ao posto de presidenciável competitiva, são quase catastróficas. Foi tudo muito rápido. No dia 29 de agosto, sexta-feira, o pastor (fanfarrão) Malafaia, postou uma ameaça clara, explícita, cristalina em seu twitter contra Marina e seu programa de governo a envolver as questões LGBT. Com medo de não agradar o nobre senhor que fala por Deus e em Seu nome, Marina publicou "errata" no programa de governo antes "da lua" surgir no domingo. Passou imagem de fraqueza e submissão à pauta religiosa de um cara quase paranoico. A Presidência da República pode se submeter e esse tipo de chantagem??

3. Para lá e para cá!

O Pré-Sal é a maior e mais importante descoberta de riqueza do Brasil dos últimos 500 anos. Segundo a FGV, tem um potencial de gerar, de forma direta e indireta, mais de 83 milhões de empregos nos próximos 30 anos. Suas receitas (no sistema de partilhas) permitirão mudar o perfil do país com fortes e sólidos investimentos em educação e saúde, entre outros. Tudo que envolve petróleo, decerto, é grande, é gigantesco e movimenta interesses astronômicos. Significa uma riqueza da nação a ser explorada de forma criteriosa, com responsabilidade social e ambiental. O programa de governo de Marina dedicou duas linhas (dentro de 240 páginas) para o Pré-Sal, e ela foi explícita ao afirmar que a pauta do petróleo não é prioritária, mas sim as energias renováveis (pauta do etanol e dos grandes plantadores de cana do país)... Depois das críticas, recuou e diz que manterá o Pré-Sal!!!!... Não se trata de conservá-lo, pois ninguém é ingênuo ao ponto de pensar na presumível possibilidade de se parar um programa assim. O problema repousa no destino a ser dado por ela ao programa em questão. As gigantes empresas transnacionais do petróleo não engoliram o Regime de Partilhas do Brasil. Marina é colírio para os gigantes do setor.

4. Demagogia barata

Marina perdeu a noção e aposta na ignorância do povo. Triste isso. Administrar o Brasil é como administrar uma casa de família. Necessário ser forte e ter controle absoluto. Cada despesa demanda a previsão de uma receita qualquer, caso contrário, o caminho que resta é a conjugação do verbo "demagogiar" ou do endividamento sem fim. O PSDB fez isso com talento e o resultado foi a quebra do país três vezes em 8 anos. Em seu programa, a oscilante Marina promete elevar... e elevar despesas sem informar de onde virá o dinheiro. Vejamos o que já falou: incluir mais 10 milhões de famílias no Bolsa Família (19 bilhões de reais ano) + antecipar a meta de 10% do PIB para a educação (40 bilhões de reais ano) + aumentar em 10 vezes o Fundo Nacional de Segurança Pública (3,7 bilhões de reais ano) + aumentar em 2% o repasse do FPM(9 bilhões de reais ano) + acabar com o Fator Previdenciário (12 bilhões de reais ano) + passe Livre Estudantil (12 bilhões de reais ano). Estamos a falar sobre algo superior a 260 bilhões de reais ano, ou 5% do PIB, conforme dados do economista Aluísio Mercadante. Questionada sobre a fonte de toda essa bufunfa, a nobre acreana responde de forma etérea e divinal: "da eficiência da máquina administrativa"... O que é isso??? (Só para lembrar, depois que a "eficiente gestora" Marina saiu do Ministério do Meio Ambiente, o desmatamento na Amazônia diminuiu mais e mais rapidamente...).

5. Sustentação política

O discurso do NOVO é patético, pois como é que alguém que:

- muda três vezes de partido em três anos na construção de um projeto pessoal de poder;

- aceita ser sustentada por banqueira;

- define como âncora econômica a independência do Banco Central, para delírio dos banqueiros;

- usufrui de caixa dois de campanha;

- tem laranjas não explicados;

- submete-se a ser pautada pelo Twitter do Malafaia, dentre outras travessuras,

Como ela ousa falar, afirmar e acreditar ser " O NOVO"??

Marina não irá governar com os melhores. Irá governar junto com o Congresso a ser eleito sob a tutela das forças conservadoras que hoje a apoiam e financiam. Fará acordos e se submeterá à vontade de quem gritar mais alto nas instâncias de Poder. O fato de não ter base parlamentar e partidária constitui um grave problema ignorado pela mídia, cujo objetivo principal parece ser o de desalojar a atual presidenta e por fim a um ciclo de doze anos com erros e acertos diversos. A grande mídia não esconde preferências e se comporta, lamentavelmente, como partido político.