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Rogério Puerta

Engenheiro agrônomo, atuou por doze anos na Amazônia brasileira em projetos socioambientais. Atuou em assentamentos da reforma agrária no Distrito Federal por dez anos e atualmente vive em São Paulo imerso em paixões inadiáveis: música e literatura. Escreveu diversos livros

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Marmita só aos bolsonaristas

Dou a quem quiser, o dinheiro é meu, tenho emprego honesto

(Foto: Alexandre Severino @aqui_na_minha_lente)
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Um vídeo circulou. Contemporaneidade das mídias instantâneas, habituemo-nos. Não era assim havia pouco tempo, pouco mais de uma década, nem isto, tanta e tanta coisa absurda que ocorreu em nosso Brasil varonil no passado, sem os devidos registros, vídeos e fotos mais ágeis. Imaginem quantos absurdos não registrados, gravados, que quase ninguém tomou conhecimento.

Nepotismo vasto na esfera pública pago com nosso dinheiro. "Boto na Secretaria tal, na Subprefeitura tal, só quem me apoiar, quem me garantir mais votos na próxima eleição".

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Há muitas coisas que fazemos no dia a dia, ocorre de agirmos de forma direcionada, praticar boicotes e também praticar favorecimentos. "Compro só na vendinha tal, o dono, conheço, vai de Lula". Ou, por outro lado, que seja, "O dono é fechado com Bolsonaro". Portanto escolhe-se a quem distribuir renda e fazer girar a economia local.

"Em 2003, por aí, eu tinha de comprar um carro pra trabalhar, estava entre um Fiat Uno e um Gol. A Alemanha não estava apoiando a invasão no Iraque, a Itália sim, achei por bem boicotar produtos italianos e norte-americanos, mas não deu, o Uno tava mais barato".

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Outro, um morador da Zona Sul de São Paulo: "Na rua de casa passa carro do ovo que só, uns quatro diferentes, todo mundo comendo ovo enquanto não consegue comprar carne, sei lá por que tanto carro de ovo. Uma vez comprando o motorista falou que o Lula é um pilantra, que esfaqueia pelas costas. Nunca mais comprei no tal carro do sujeito, agora só compro no carro do ovo do Manelão, ele que além de tudo é uma figuraça, sempre nas ruas cantando com um vozeirão anunciando ovo quando ele para a Kombi dele aqui na esquina".

Outro: "Ontem fui ao médico, toque retal, mais um, dizem que é pra fazer uma vez por ano, mas meu PSA no sangue deu alto, fui pro toque então em nove meses desde o último, um outro médico do convênio. Conversa vai, conversa vem, falamos sobre política, me expus, meu posicionamento, o médico não, calado, estranhei, só depois fui reparar na parede do consultório, ao lado de diplomas, um retrato emoldurado dele com o Bolsonaro. Na foto ambos sorridentes, aparentemente o sujeito é afamado, nem era foto de encontro casual, pois pareceu ser tirada em evento formal da classe médica, oncologia, ou algo assim."

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"Fiquei apreensivo, será que o médico iria querer me maltratar após minhas falas ousadas? Mas já estava falado, não haveria como recuar, fui pra maca, e não é que o sujeito judiou mesmo. Nunca fiz um exame de toque retal tão dolorido, o cara até resolver achar o lugar certo da hemorroida pra deixar o troço todo ainda mais sofrido e demorado".

Um jovem: "Sempre tive um lance com tatuagens que nunca me sai da cabeça. Se um dia for atropelado, ou o SAMU me pegar de ambulância por algum motivo qualquer, vão ver minhas tatuagens expostas, meu gosto sinistro por esoterismo, satanismo, vão ver o Baphomet cabuloso que tenho tatuado no antebraço. Fico pensando se dou o azar de pegar uma enfermeira crente, daquelas amalucadas e radicais, vingadoras, fico pensando se ela não vai querer mais é que eu empacote mesmo, morra logo, querendo que eu não resista a seja lá o que tiver de ser tratado como um primeiro socorro. Estranho isto, sempre tive este receio, esta pulga atrás da orelha, mesmo sabendo que eles e elas fazem juramento de atender a todos e sempre se empenhar na manutenção da vida. Fico pensando como um inimigo de guerra ferido em combate seria tratado pelos socorristas rivais".

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Esta das gringas, EUA: "Te pagamos umas Budweiser e KFCs se brigar com seus camaradas moradores de rua, mas tem que ser bumfight, brigar de verdade, sangue escorrendo, dentre quebrado e tudo o mais. A gente filma e te trata como herói se vencer".

Esta nossa: "E aí, camarada, tá frio aí na rua? Olha só, temos um frango frito aqui e um cocão, são seus, de boa, na faixa, mas mostra aí esta sua banguela da boca e faz um "ih, nojento" do Tião Macalé pra gente filmar".

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Imaginemos um catastrófico provável voto impresso instituído em próximo pleito eleitoral, seja ele para qual esfera de poder for. Se impresso, será entregue comprovante ao portador do título eleitoral que acaba de se dirigir à votação na cabine onde se situa a urna eletrônica.

Muita gente terá de mentir repetidas vezes, aceitar contradição cabisbaixo/a, passar por humilhação desnecessária, muita e muita gente. Espere-se. Contingentes populacionais significativos em comunidades de periferia economicamente carentes, gentes as quais diplomas de graduação em economia doméstica seriam mais do que merecidos. Pechincham e pedem fiado no mercado, usam de escambo quase diariamente, alguma tralha usada ou algum serviço que estas pessoas possam prestar em troca de um objeto necessário qualquer.

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Cozinham com madeira de entulho de obra quando o gás de cozinha está caro. Tiram leite de pedra, fazem de limão, uma limonada. Tomam sopa de ossos descartados em açougue, botam salgadinho imitação bacon com aroma e sabor artificial, aparência mesmo, ao lado de um pouco de arroz branco quando não há nada para a mistura do almoço do dia.

Caso voto impresso, imagine-se a quantidade inumerável de vezes em que o sujeito terá de mentir para dissimular a escolha por sua ideologia democrática. Porém, um cidadão inábil ao engodo denotará contradição, sua consciência e sua honra, a estima pessoal, sua cabeça entrará em conflito. "Votou em fulano? Mostra aí o papel / Votei sim, deixa eu ir pegar o comprovante / Mas seu sobrinho falou que estavam todos na sua família fechados pra votar no sicrano! / Olha só, na verdade, o papelzinho do dia da votação perdi. Fazer o quê?".

A você: se lhe oferecerem cem mil reais para imitar uma foca dos antigos circos e tentar equilibrar uma bola no nariz tais quais as focas faziam, quase com certeza você o fará achando até muita graça. Ocorre que sua canhestra imitação de foca de circo não se dá em decorrência de seu absoluto, preocupante, dolorido e agonizante estado de subnutrição, carência de nutrientes, debilidade, confusão mental, fraqueza. E tudo isto mesmo se você estivesse barrigudo, entupido de carboidratos vazios, que geram calorias, mas que o mantivessem faminto de comida de verdade. Não é o seu caso, você embolsaria os cem mil reais, acharia graça, e nem em carência alimentar estaria.

"Estou doando, é meu, meu dinheiro, dou a quem eu quiser". O raciocínio lógico, embora pareça à primeira vista razoável, não bate, não condiz, pois seu ato é parcial, ignora o contexto e um imperioso conceito humanitário, solidário, fraterno, de mínima compaixão.

Viver em sociedade, seja qual for, demanda isto, a convivência entre cidadãos, uma mínima tolerância comportamental que seja, todos e todas em um mesmo ambiente, todos cruzando os seus caminhos comuns em vias públicas, em transportes públicos, serviços públicos e privados.

Quem assim não desejar ou assim não se sentir confortável, tem todo o direito do mundo de tentar uma vida isolada, aos ermos, sem um traço sequer de convívio com outro ser humano qualquer que, este outro sim, exerça uma vida de forma cotidiana e regular, interativa, em mescla social, portanto em necessária integração comportamental.

Pão se come. Fome é uma só, seja ela a de rico ou a de pobre, também a sede, a dor e o sofrimento. Marmita, ou cesta básica, o que for, que sejam a quem as necessitem, tão somente por isto, por necessitarem.

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