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Paulo Moreira Leite

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Mateus precisa de carteira assinada

"Agressão a um entregador de comida do interior de São Paulo mostra o que acontece numa sociedade onde o trabalho é tratado sem dignidade," escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia

(Foto: Reprodução)
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Por Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia

Com a dignidade daqueles que  reconhecem o próprio valor, o entregador Mateus Pires Barbosa, 19 anos, enfrentou de cabeça erguida o vômito moral de um cliente do Ifood, que o recebeu com um vocabulário degradante, que me recuso a reproduzir aqui.

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Exibido no país inteiro, inclusive por emissoras de sinal aberto, o vídeo que mostra a cena percorreu o país. Foi distribuído nas redes pela mãe de Mateus, Maria Pires, indignada com o que viu. "Não é por dinheiro, não é por nada. É por justiça", disse ela, à Folha.

Em imagens ofensivas, que ilustram um estado de demencia social cada vez mais presente no país,  o vídeo motivou denúncias da cultura racista presente na sociedade brasileira, alimentada por uma legislação -- não por acaso -- benevelonte no tratamento de infratores.  

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Essa reação em apoio a Mateus era esperada e é correta. Há outro aspecto, porém.

Como tantos brasileiros, Mateus é um dos milhões de trabalhadores que nos últimos anos foram forçados a ganhar o sustento sob a selvageria trabalhista implantado no país pela reformas de Temer, Bolsonaro e Paulo Guedes.

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Num sistema sem nenhum direito ou garantia, a humilhação pública pode se tornar uma condição inevitável para se levar uns trocados para casa. Como tantos senhores de engenho e fazendeiros do Brasil anterior ao 13 de maio de 1888,  a crueldade do cliente de Valinhos já era um fato conhecido entre trabalhadores da região e ninguém se atrevia a conter suas manifestações de barbárie.  

Se vivesse num país que garante direitos elementares e uma carteira de trabalho assinada a seus trabalhadores, Mateus teria virado as costas para ir embora, com a certeza de que a dignidade como cidadão -- e os trocados que leva para casa -- estavam assegurados.  

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Sem esse instrumento básico de cidadania dos assalariados, adolescentes como Mateus -- e seus irmãos, pais, até avós -- estão sendo conduzidos a um regime de trabalho de humilhação e violência, simbólica ou não, que só se conheceu sob a escravidão.

Esta é a raiz profunda da cena humilhante que chocou o país e motivou até manifestações bondosas de vozes do andar de cima que preferiam calar-se quando os assalariados perdiam garantias e direitos.

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Alguma dúvida?  

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