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Carlos Alberto Mattos

Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

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Memórias (gays) do cárcere

A libertação dos campos de concentração ao fim da II Guerra não trouxe libertação para os homossexuais. "Great Freedom" conta uma história exemplar

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Estima-se que, entre os anos 1930 e 1969, um total de 100.000 homens foram presos com base num velho parágrafo do Código Penal Alemão de 1871. O tal Parágrafo 175 equiparava o sexo entre dois homens ao sexo entre homens e animais, classificando-o como “não natural” e punindo-o com a prisão e mesmo a perda dos direitos civis. Esse dispositivo legal, que permaneceu válido até 1969, continuaria a levar gays para a cadeia por muito tempo depois da II Guerra Mundial. Esse é o pano de fundo de Grosse Freiheit (Grande Liberdade em tradução direta), vencedor do Prêmio do Júri na seção Um Certo Olhar do Festival de Cannes e indicado pela Áustria para concorrer ao Oscar de filme internacional de 2022.

O filme de Sebastian Meise cobre três momentos na vida carcerária de Hans Hoffmann (Franz Rogowski): em 1945, 1957 e 1968/69. Seguidamente preso por ser gay, em cada um desses períodos Hans desenvolve uma relação de natureza diferente com companheiros de cela. Com Oskar (Thomas Prenn), seu vínculo é romântico e trágico. Com Leo (Anton von Lucke), o laço é de proteção. Por sua vez, com Viktor (Georg Friedrich), presente nas três épocas, ele mantém uma conexão de longo prazo que evolui da homofobia do amigo para a compaixão, a dependência mútua e uma estima gradualmente construída.

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A cada vez que Hans é "depositado" numa solitária nua e escura, o espectador é transportado de um tempo para outro. Assim, Meise nos oferece um retrato vívido da circulação dos afetos no ambiente prisional, ao mesmo tempo que sugere o valor relativo da liberdade quando se trata de um aprisionamento mais social que propriamente criminal. 

A libertação dos campos de concentração ao fim da II Guerra não trouxe libertação para os homossexuais. Da mesma forma, a abolição do Parágrafo 175 em 1969 não garantiu aos gays alemães uma alforria plena. O último ato de Great Freedom, passado nos subterrâneos de um bar gay, deixa claro que a prática da homossexualidade continuava a ser análoga à prisão. É o que vai motivar o ato derradeiro de Hans.
Um filme sóbrio, intensificado pelas performances low profile de Rogowski e Friedrich. Especialmente do primeiro, que perdeu mais de dez quilos para fazer o recém-egresso do campo de concentração em 1945. O ator está excepcional na transição sutil entre as três épocas, quando passa da inanição a um ensaio de rebeldia e depois a uma aparente resignação.

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Para além de suas grandes qualidades, o longa nos leva a avaliar o quanto se conquistou para a realidade LGBTQI+ desde aqueles tempos de proscrição e confinamento. Tempos em que a homoafetividade produzia também o encarceramento interior dos indivíduos.     

>> Great Freedom está na plataforma Mubi.

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Trailer legendado em inglês:

https://www.youtube.com/watch?v=3Ejx94LC1R8

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