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Lelê Teles

Jornalista, publicitário e roteirista

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Mestre cafuna recebe os bolsominions arrependidos

Mestre Cafuna, convidado a um familiar churras de boas vindas em Brasília, espantou-se ao presenciar uma cena semelhante à que Moisés encontrou ao descer da grande montanha: Irmão esmurrando irmão, amigo estapeando amigo, tios dando pernadas em sobrinhos, espeto sendo usado como arma....

(Foto: REUTERS/Adriano Machado)
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Ausente de sua pátria-mãe por dois anos, Mestre Cafuna esteve retirado no cume de uma montanha no Himalaia, tendo como única companhia o eloquente silêncio e o silente exemplar dos Devaneios do Caminhante Solitário, de Rousseau.

Magro como um faquir e leve como o vento, o fundador da Grande Ordem do Cafunismo está de volta ao Brasil.

Porém, aqui, só encontrou desordem e regresso.

O país purga uma catarse interminável, a Loucura passeia pelas ruas, nua e com a faca nos dentes, padres e bispos ensovacam Vade Mécuns, juízes e advogados empunham bíblias, psicólogos e psicanalistas estão no divã, sendo analisados.

A era bozozóica provocou uma purulenta necrose social, uma gangue de sociopatas tomou o país de assalto, armados até os dentes e desalmados até os ossos.

Mestre Cafuna, convidado a um familiar churras de boas vindas em Brasília, espantou-se ao presenciar uma cena semelhante à que Moisés encontrou ao descer da grande montanha:

Irmão esmurrando irmão, amigo estapeando amigo, tios dando pernadas em sobrinhos, espeto sendo usado como arma....

Soube, por interlocutores insentões, que as eleições presidenciais foram marcadas por duas facadas desferidas por dois alucinados:

Um, Adélio, numa atitude tresloucada e corajosa, enfrentou a multidão de fanáticos, peixeira em punho, e golpeou o bucho do ídolo dos midiotas, que fazia dos ombros de um marombado o seu andor.

O outro, de nome Ciro, numa desatitude bravatosa e covarde, esfaqueou seus eleitores pelas costas e fugiu para Paris, como um flaneur flatulante e fratricida.

Em meio ao caos e à fumaça de florestas em chamas, o fundador do cafunismo entendeu o chamado, viu-se necessário e entregou-se à sua missão.

Aproveitou que Caronte, o barqueiro do inferno, singrava as turvas águas do Paranoá e pegou uma carona, montando a Tenda da Cafunagem na Praça dos Três Poderes.

O diligente internauta há de se lembrar dessa esquálida figura e recorda que o cafunismo tem como única finalidade curar os enfermos acometidos pela midiotia, o mal do século.

O midiota, hoje, foi renomeado com a alcunha de bolsominion; muitos desses espécimes, como que saindo de um pesadelo, buscam a cura e, humildemente, rabo entre as pernas, proclamam-se arrependidos.

O método, meticulosamente criado por Mestre Cafuna, consiste em 25 minutos de cafuné no cocuruto do mazelado, seguido de profiláticas lapadas de chinela molhada na bunda do infeliz que, ao fim e ao cabo, sai curado.

Perdigueiro que sou, lá estive, farejando a fuleiragem, e presenciei uma cena bíblica: a fila do arrependimento tomava os dois lados da Esplanada dos Ministérios, transformada num Jordão de asfalto e grama seca.

Cada contrito, ao adentrar a tenda diáfana – que tem formato de um pálio, emparedada por tecido feito de finos fios de algodão peruano -, repete a ladainha:

“Venerando Mestre Cafuna, fui um zápico midiota, cri que as pirâmides não eram triangulares, que a terra era plana, que o ovo era quadrado, que bebês mamavam mamadeiras de piroca, que Cristo comia goiabas, que Olavo era filósofo e que  satanás frequentava igrejas. fiz arminha com os dedos, votei em corruptos que combateriam a corrupção, desfiz amizades antigas, xinguei negros e não heterossexuais e, com isso, joguei meu país na merda e no caos. hoje mesmo volto aos livros, às caminhadas peripatéticas e à minha sanidade mental. castigue-me, pois mereço”.

E, ao dizer isso, inclinava-se, arriava as calças, cerrava os olhos e esperava.

O mestre, paciente como um tantra, retirava a sandália da bacia d’água e desferia as impiedosas chineladas: láput, láput, láput...

E encerrava a sessão dizendo, de forma respeitosa e môngica:

“Vai-te e não peques mais”.

Palavra da salvação.  

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