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Jean Menezes de Aguiar

Advogado, professor da pós-graduação da FGV, jornalista e músico profissional

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Metrô: o governador e seus vândalos prediletos

Se 'contra a força não há resistência', como diz o velho ditado, contra a força maior a menor terá que ceder. No caso da greve do metrô-SP não é muito simples saber qual é a força maior

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Em junho-2013, quando houve as primeiras manifestações de rua, a imediata reação do governador de SP, Geraldo Alckmin, foi chamar manifestantes de 'vândalos'. Havia ali o típico ódio rácico dos autoritários. Ou, numa versão chuchu, um faniquito de príncipe mimado que foi contrariado. Mas o que o governador queria mesmo era ofender. Isto estava na cara.

Num segundo momento teve que se desdizer, ao ser melhor informado, quando soube que eram famílias que tomaram as ruas, pacificamente. Para quem não tem cabeça lá muito democrática, manifestações sociais nas ruas são, efetivamente, um atentado.

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Agora, com a greve do metrô, o governador se repete. Deve achar bonita a palavra 'vândalos'. Até porque seu ritmo proparoxítono a torna empolada, boa para pequenos-ditadores enrustidos.

Certamente toda greve envolve um defeito em Negociação. Aí está uma área do conhecimento humano, estudada por acadêmicos e cientistas do comportamento. A literatura é vasta. Eugenio do Carvalhal (FGV), Carlos Alberto Carvalho Filho, Brian Clegg, Herb Cohen, Roger Fisher, Willian Ury, Bruce Patton, são apenas alguns nomes conhecidos.

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Negociação requer inteligência, perspicácia, mas, sobretudo, conhecimento técnico. Pessoas autoritárias que veem 'desrespeito' em tudo, ou arrogantes que não aceitam ser contrariadas, têm muitas dificuldades com o assunto. Negociar, ensinam os livros, não exige demonstrações de força, intimidação ou prepotência.

Se 'contra a força não há resistência', como diz o velho ditado, contra a força maior a menor terá que ceder. No caso da greve do metrô-SP não é muito simples saber qual é a força maior. Se a força do governador e mesmo do Poder Judiciário com suas sentenças e multas; ou a força sindical e das ruas. Mesmo que uma massa social imensa não apoie e greve dos metroviários. Mas o problema é um só: e se eles resolverem peitar? O evento Copa-2014 não espera. Nem se corrige com multas milionárias.

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Sindicalistas são um povo meio casca-grossa-jiu-jitsu, acostumados a pressão, desafios e enfrentamentos. Físicos inclusive. Isto não quer dizer que sempre se tenha que ceder. Mas diante de um evento como a Copa às portas de casa, talvez fazer o que o malandro governador do Rio de Janeiro fez tivesse um preço negocial muito melhor. Ceder, rapidinho. Ou mesmo o que o governo Dilma fez com a lépida polícia federal, ceder, rapidinho. Mas Alckmin é Rambo.

O governador nunca foi um Leonel Brizola, de ginga marota. Nunca foi um Lula, de escapismo sindical malandro. Nunca foi um Sarney, de poder oculto só igual a Deus. Nem um Maluf, de vitalícias mentiras financeiras que deram certo perante um eleitorado bobinho. O bom-moço Alckmin é apenas um burocrático governador, com aquela cara de coroinha no meio de vampiros profissionais – os políticos.

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No episódio do metrô, em arroubo, o governador prontamente demitiu às dúzias. Mas aí despertou a fúria e o espírito de corpo. O questionamento se repete por si só: quem tem a força, o governo ou uma área sensível que prejudica a toda uma população?

É claro que grevistas numa situação dessas prejudicam a muitos. Mas utilizando-se a mesma 'técnica' do governador, como seria se o colega do Rio agisse igual? E se Dilma não corresse e atendesse à polícia federal? Será que o enfrentamento alckminiano é o modelo de negociação correto, ou correto foram seus outros colegas de profissão, Sergio Cabral e Dilma?

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O que está em jogo é o manejo negocial, o método escolhido para uma crise. A força é apenas um dos métodos. Mas invariavelmente o pior de todos. Mesmo quando se é inicialmente agredido, considerando-se uma atitude institucional de governo.

Tanto em junho-2013 como agora a opção 'um' do governo paulista foi a força. Todo mundo se lembra a vergonha que foi, depois da reação inicial destemperada da PM paulista – a mando do governo, que fique bem claro-, participando das manifestações seguintes com cara de chuchu, deixando todo mundo depredar à vontade.

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O presidente do sindicato dos metroviários afirma que há uma tendência na continuidade da greve, a ser resolvida em 11.6. Alckmin já deu o primeiro sinal de fraqueza, readmitir 'alguns'. Grevistas sabem que se forçarem, faz-se um trem da alegria, todos sendo readmitidos. O problema é que a Copa que prejudicam, sem metrô, também acabará prejudicando a imagem deles. Esta é a cruciante balança dos grevistas.

Outra saída que pode ser costurada é que, sem muita conversa por parte do governo, grevistas possam fazer uma trégua estratégica por hora e voltar depois às atividades. Não atraírem visão negativa por parte da população e imediatamente depois retomarem a pauta de reivindicações que supõem válida.

Não se acha que grevistas tenham direito sempre e que sempre tenham que ser acatados. O erro como estratégia ou tática pode acometer indistintamente a ambos os lados. Mas espera-se que um governo, remunerado pelo povo erre muito menos. Conte com gente preparada e equilibrada para sopesar saídas e soluções inteligentes.

O Rio e o governo federal quando atenderam às reivindicações de seus grevistas de última hora, conseguiram sair tranquilamente do cenário conturbado. Pagaram um preço talvez desconfortável, mas não abriram mão da calma estratégica. Grande parcela do transtorno paulista cabe ao governo que optou pelo enfrentamento, a pior das vias. A menos que sua estratégia seja causar caos na Copa. Só que o tiro sairia pela culatra. A Copa já chegou.

Do blog Observatório Geral

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