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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

199 artigos

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Mimesis predadora

Pela ausência de freios, o mimetismo predador do ilustre deputado não se deterá diante de nada, como não se deteve diante do nome de Marielle Franco, de quem quebrou uma placa. O chefe, também não. Por felicidade, no equilíbrio de poderes, ainda temos barreiras do alto judiciário. Esperemos que defendam a própria dignidade, e, com ela, a nossa.

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Num dos livros que atravessaram séculos, perfeitamente válido ainda hoje, Aristóteles dispõe sobre o fenômeno do aprendizado. Nota que, nas crianças, como uma tendência, começa-se pela imitação. A língua, que ninguém nos ensina, entra em nosso sistema porque, em volta, todos a praticam. Num instante, e sem querer, já tagarelamos, capazes de dominar com espontaneidade o exercício da linguagem. Entre os animais, comportamentos semelhantes se repetem, muitas vezes como autoproteção, para fingir uma coisa que não são. Há cobras corais falsas, com tiras de cores que confundem o observador. Em outros casos, insetos adquirem formas que não lhes pertencem, mas ajudam a se dissolver na cena e continuar sua trajetória, livres de ataques.  

Na política, não há grande diferença. Lideranças impositivas produzem seguidores que lhes seguem os passos e, quer como caricatura, quer como modelos de comportamento, movimentam-se no mesmo espectro. Por isso, pessoas no topo do sistema possuem dupla responsabilidade: a de conduzir os destinos do país e a de cuidar para que não lhe deformem as atitudes a ponto de lhe prejudicar a imagem. Por falta de equilíbrio em tais esferas, há os que degeneram e, em vez de facilitar, atrapalham ou até desmoralizam o chefe. 

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Pode-se imaginar, em certos regimes autoritários, como o fascismo italiano e o nazismo alemão, quantos, na saudação de levantar o braço, não tinham apenas a intenção de tirar proveito do prestígio que eventualmente alcançavam.  O deputado Daniel Silveira, do PSL, deixou-se embriagar por uma tal volúpia de imitador que, para se confundir com o mestre, só lhe faltava a voz esganiçada e as pompas de Presidente. Como se comandasse uma reunião de ministério, quando se tornaram comuns os palavrões, sentou-se diante de sua imagem e se pôs a discorrer sobre altas figuras do judiciário, incluindo ministros do STF. 

Achou que lhes fazer acusações levianas sobre corrupção, sexualidade e hombridade, garantiria o aumento de sua popularidade e quem sabe o conduzisse aos píncaros. É quando se nota, em torno do tema da liderança a importância do decoro no comportamento. Um mandatário não se limita a pensar por si mesmo, livre e solto como um passarinho fora da gaiola. Ele não é uma pessoa comum. Entre as suas responsabilidades está a de dar exemplo. Não surpreende que, nesse particular, caminhamos mal em todos os setores: na economia, no ensino, na saúde, etc. E não é apenas por falta de recurso. 

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Ainda possuímos riqueza para nos tirar de dificuldades. E não se confunda mau comportamento com falta de instrução. Já tivermos políticos que representavam nomes a seguir com menos escolaridade.  Há quem discuta se, em função da liberdade de expressão, há como colocar na cadeia quem não soube utilizá-la. Na verdade, a se permitir tais desmandos, logo estaremos nos ofendendo de todas as formas sem precisar de anteparo. 

Pela ausência de freios, o mimetismo predador do ilustre deputado não se deterá diante de nada, como não se deteve diante do nome de Marielle Franco, de quem quebrou uma placa. O chefe, também não. Por felicidade, no equilíbrio de poderes, ainda temos barreiras do alto judiciário. Esperemos que defendam a própria dignidade, e, com ela, a nossa.

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