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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

199 artigos

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Moro não mora na moralidade

A pergunta vem à mente: o que aconteceu? O herói da virtude se cansou de sua missão? Está disposto, de uma hora para outra, a descobrir os prazeres de quem transita do outro lado? É possível que não se trate de nada disso. Seja o que for, parece evidente que, ao contrário do que se imaginava, Moro não mora na moralidade

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Marx talvez haja tido razão ao afirmar que, na História, não existem repetições. Quando isso dá a impressão de se verificar, os fatos aparecem, primeiro, como tragédia; depois como farsa. Não é o caso, no entanto, de parcelas da população. Estas reincidem nas escolhas e erram duas, três, inúmeras vezes. As classes médias, em particular, deixam-se enganar por bandeiras da propaganda, como nos ataques em favor da moralidade. Custa-lhe perceber que, muitas vezes, são bandeiras que dizem respeito a interesses, para remover adversários do poder. Foi assim com Getúlio Vargas. Depois de morto, ele se provou honesto. E ocorreu com Fernando Collor, o caçador de marajás, removido mais tarde por impeachment, exatamente por corrupção! 

Há quadros prestigiados pela força de sua honestidade, elevados a altas posições. Sergio Moro, o juiz da lava-jato, acumulou prestígio pela determinação que demonstrou em condenar aqueles, tidos por ele, como desonestos. Em sua peregrinação, não mediu esforços. Se faltavam as provas, ouvir dizer e denúncias premiadas bastavam para lhe fortalecer os processos e aplicar penas altas. Assim, tirou de cena um número de personalidades da política, incluindo o antigo presidente Luís Inácio Lula da Silva, até hoje lutando para se livrar da pecha de culpado. 

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E, de repente, a nação parou, estarrecida. O magistrado tenaz, algoz de todos os que saíram da linha, aceitou o cargo de Ministro da Justiça do Governo Bolsonaro, uma clara utilização de seu prestígio. 

Infelizmente, surpresas não vêm sozinhas. Andam em séquitos, uma atrás da outra, para deixar o espectador cada vez mais perplexo. A entrada e a saída do cargo não desmentiram o que já se começara a pensar. O magistrado gostava de aparecer. Dava um boi para entrar nas manchetes e uma boiada para continuar nelas. Mas é como se assinalou: surpresas não vêm sozinhas. Acabamos de tomar conhecimento agora que o ás da justiça, o paladino da virtude, o caçador de marajás revisto e aumentado, aceitou um contrato de sócio diretor de consultoria na firma Alvarez & Marsal. Diga-se em letras miúdas que a empresa trabalha na defesa da Odebrecht, empreiteira que, em seus tempos de cruzada, o juiz arruinou com suas acusações de desonestidade. Além disso, logo se divulgou, por acréscimo, numa das primeiras funções, que o Moro redigiu um parecer em favor do magnata Benjamin Steimetz contra a Vale. O cliente figura como investigado por corrupção e lavagem de dinheiro em pelo menos cinco países.

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A pergunta vem à mente: o que aconteceu? O herói da virtude se cansou de sua missão? Está disposto, de uma hora para outra, a descobrir os prazeres de quem transita do outro lado? É possível que não se trate de nada disso. Seja o que for, parece evidente que, ao contrário do que se imaginava, Moro não mora na moralidade. Só para refrescar a memória, vale a pena citar Robespierre, na Revolução Francesa, cometendo o equívoco de imaginar que o problema dos franceses era não serem virtuosos. Sonhando com o impossível, quis condenar à guilhotina todos os que rejeitava por falta de lisura. Não demorou e ele próprio, o único na França cognominado de o Incorruptível, perdeu a cabeça. 

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