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Marcelo Auler

Marcelo Auler, 68 anos, é repórter desde janeiro de 1974 tendo atuado, no Rio, São Paulo e Brasília, em quase todos os principais jornais do país, assim como revistas e na imprensa alternativa.

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Morte do miliciano não inocenta os Bolsonaros

"Mesmo se considerando que se queimou um arquivo, em nada aquela morte ameniza ou arrefece o envolvimento do ex-policial militar e seus familiares com o esquema da chamada 'rachadinha' montada no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro", escreve o jornalista Marcelo Auler. "Tampouco modifica as relações de amizade da família presidencial com os milicianos do Rio de Janeiro"

Bolsonaro assumiu ser o elo do clã com o miliciano. (Foto: Reprodução)
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Por Marcelo Auler, em seu Blog e para o Jornalistas pela Democracia 

Não resta dúvida de que a morte do miliciano, ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) do Rio, Adriano Magalhães da Nóbrega, que foi homenageado pela família Bolsonaro, além de ter tido o atual presidente, Jair Bolsonaro, como sua testemunha em um processo criminal que respondia por homicídio, precisa ser melhor esclarecida.

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Queira ou não o governador petista da Bahia, Rui Costa, paira sobre ela a forte suspeita de uma queima de arquivo. Um arquivo, diga-se, qualificado, uma vez que além dos crimes relacionados à sua atuação como miliciano, poderia ajudar a esclarecer o esquema da “rachadinha” que servidores do gabinete de Flávio Bolsonaro, quando deputado estadual do Rio, teriam sido obrigados a participar. Sua morte, portanto, a princípio beneficia enormemente os Bolsonaros, ainda que se possa contestar que o miliciano, caso preso, dificilmente denunciaria alguém

Mas as dúvidas que se levantam a partir da execução pelos policiais militares baianos – que estavam em muito maior quantidade, – do marginal mais procurado pela justiça fluminense não autorizam que a família Bolsonaro tente desviar o foco da questão. Independentemente de como tenha se dado a morte do ex-capitão do Bope do Rio, aquilo foi como se diz no direito, um crime autônomo.

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Mesmo se considerando que se queimou um arquivo, em nada aquela morte ameniza ou arrefece o envolvimento do ex-policial militar e seus familiares com o esquema da chamada “rachadinha” montada no gabinete do então deputado estadual, hoje senador, Flávio Bolsonaro. Tampouco modifica as relações de amizade da família presidencial com os milicianos do Rio de Janeiro, sempre defendidos pelo filho, Flávio, e pelo pai, Jair.

É certo que para o próprio PT seria de bom tom esclarecer como ocorreu a morte. Nisso, em muito, ajudaria uma perícia independente. Quem sabe encomendada a especialistas ligados a universidades públicas. Pessoas isentas e com credibilidade. Como muitos petistas têm defendido, entre eles o ex-deputado federal Wadih Damous (PT-RJ), “a imagem do PT não pode sair arranhada desse episódio. Foi queima de arquivo. Quem mandou queimar?”

Ao PT deve ser fundamental tentar provar que a queima de arquivo não foi algo premeditado por parte dos policiais. De que realmente não foi iniciativa deles ou cumprimento de alguma ordem, mas apenas resultado de uma operação desastradas. Incompetência pura e simples. Só assim afastará a possibilidade de as forças policiais baianas terem feito o jogo de milicianos, ou mesmo de bolsonaristas.

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Na verdade, a iniciativa desta apuração deveria partir do Ministério Público estadual baiano, ao qual cabe fiscalizar o cumprimento da lei e, em especial, manter o controle externo das ações policiais no estado. Até agora, porém, quem correu atrás disso foi o próprio advogado criminal do miliciano, Paulo Emílio Catta Preta de Godoy, em nome da última companheira do ex-capitão do Bope, Júlia Emília Mello Lotufo, de 28 anos.

Um pedido que se contrapôs ao formulado por outro ramo da família do foragido. A depender da mãe, Raimunda Veras Magalhães, e das duas irmãs, Daniela e Tatiana Magalhães da Nóbrega, de Adriano, o corpo dele já teria sido cremado, na quarta-feira passada (12/02). Intenção manifesta em uma petição encaminhada à Vara de Registros Públicos do Rio pela advogada Cintia Paula Pereira Cadete.

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Esbarraram na posição da juíza Maria Izabel Pena Pieranti, de plantão no judiciário fluminense na noite do dia 11. Para ela, ainda restavam dúvidas sobre o acontecimento. Ao rejeitar o pedido, ela explicou que não poderia “desprezar a possibilidade de vir a ser necessária a realização de diligência, a melhor elucidar a ocorrência. Acaso fosse deferida a cremação dos restos mortais de ADRIANO, inviabilizadas estariam eventuais providências a serem levadas a efeito pela Autoridade Policial. Não é despiciendo enfatizar que o interesse público na cabal elucidação dos fatos tem preponderância sobre o desejo de seus familiares”.

Esta “disputa” pelo corpo do miliciano é algo ainda a ser explicado.  Principalmente depois que ninguém menos do que Flávio Bolsonaro veio a público reclamar do assassinato e cobrar uma investigação de como a morte ocorreu. Foi o início das tentativas da família, agora reverberadas pelo próprio presidente, de desviar o foco do assunto principal – o envolvimento deles com milicianos que participaram do esquema de servidores fantasmas no gabinete de Flávio, na Assembleia Legislativa do Rio – ALERJ.

Na realidade, pelo envolvimento com o esquema da “raspadinha”, a mãe de Adriano, a princípio, deveria endossar a tese dos Bolsonaros, para ajudar a desviar as atenções. Afinal, ela, ao lado da ex-companheira do ex-capitão, Danielle Mendonça da Costa, é suspeita de ter sido uma das servidoras fantasmas do gabinete do então deputado estadual. Ambas, inclusive, são apontadas como tendo dividido os salários com o indefectível braço direito da família presidencial, Fabrício Queiroz. As três, porém, tentaram se ver livre do corpo de imediato.

Já a mais recente companheira do miliciano, Júlia Emília, embora tenha sido também servidora da ALERJ, tal como noticiaram Vera Araújo e Chico Otávio em Viúva pode ajudar a traçar os últimos passos do ex-capitão do Bope, passou longe do esquema dos Bolsonaros. Seu emprego foi na Subdiretoria-geral de Recursos Humanos, entre agosto de 2016 e julho de 2017, sem qualquer suspeita de ter sido fantasma ou ter dividido os rendimentos com algum parlamentar.

A ela, porém, deveria ser mais interessante enterrar o ex-companheiro e, com isso, tentar se livrar das dores de cabeça que terá. Afinal, como o acompanhava nesse período em que ele esteve como fugitivo, será também investigada. Inclusive por ter ajudado ao miliciano a tentar se esconder na casa onde foi encontrado. Alertou-o, no sábado, após a Polícia Rodoviária a ter parado na estrada em que circulava.

Nesta terça-feira (18/02), depois que o juiz do 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro, onde Adriano era processado por homicídio e outros crimes relacionados à milícia, extinguiu a punibilidade dele por conta de sua morte e liberou o corpo que ele determinara ao IM manter em estado de refrigeração, o advogado Catta Preta informou a O Globo, que insistirá em nova perícia. O pedido foi feito ao juízo de Esplanada, município baiano onde ocorreu sua morte.

Na reportagem assinada por Vinicius Sassine – Mesmo após liberação, família de Adriano da Nóbrega decide não sepultar o corpo – Catta Preta não deixa claro os motivos de sua insistência. Tampouco o que pretende com isso. Admite apenas ter convencido as irmãs do ex-capitão do Bope em retardar o enterro à espera de um posicionamento da justiça baiana. Reclamou ainda da interferência política no caso, por considerar que ela atrapalha a sua elucidação e dificulta o esclarecimento sobre a execução do ex-policial. Por fim garantiu que nenhum dos Bolsonaros conversou ou sequer procurou a família do miliciano.

Seja como for, o que os Bolsonaros tentam com toda esta onda que veem criando é desviar as atenções. Em Brasília, na semana passada, logo após a postagem de Flávio, em 12 de fevereiro (reproduzida no quadro acima), um senador disse ao Blog que a família do presidente certamente relacionaria a “queima de arquivo” a um governador com quem os Bolsonaros vêm se desentendendo. Fato que, até esta terça-feira (18/02), não ocorreu.

Mas os Bolsonaros não perderam a oportunidade de atacar – mais uma vez – os petistas. O que só ocorre por ter o governo baiano aberto seu flanco. Tivesse tomado providências imediatas para esclarecer todas as dúvidas e provar que a realidade dos fatos condiz com o relato que vem sendo feito, dúvidas não se alimentariam. Mas elas persistem. Inclusive entre os petistas. O que obriga o governador baiano a sair da defensiva e tomar medidas que ajudem, definitivamente, esclarecer o que ocorreu. Se for o caso, punindo quem tiver que ser punido. Do contrário, o fantasma da queima de arquivo o acompanhará para sempre. Atingindo, inclusive, petistas que sequer são da Bahia. Em especial nas próximas eleições.

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