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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

202 artigos

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Mortos sem sepultura

(Foto: Reprodução/Twitter)
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Com este título, Sartre publicou uma peça em 1946, mal terminada a guerra, envolvendo um grupo que invadiu uma aldeia e matou várias pessoas, incluindo inocentes. Por causa disso, e pelo absurdo da ação, caiu nas mãos das autoridades para ser julgado e punido. A questão do autor não se reduzia à gratuidade dos acontecimentos. Preocupava-se, sobretudo, com os efeitos da guerra sobre a moral e as atitudes de cada um. A barbárie deixava marcas indeléveis e impregnava gente que, em outras circunstâncias, se comportaria de acordo com as normas de civilidade. 

Pois aqui também, é como se houvéssemos saído de uma guerra. A violência, pregada em prosa e verso, funciona como um veneno e se espalha. Não quer saber se um certo indivíduo ou uma mulher em sua casa devam ficar imunes aos conflitos de rua. As balas da polícia, mal dirigidas, vão em frente. Para esses agentes do Estado, com o aval do governador Cláudio Castro, o importante é impor a ordem deles, ordem que mais parece, com efeito, desordem e declaração de arbítrio. Já tínhamos testemunhado o massacre no Jacarezinho. Agora, na Penha, na Vila Cruzeiro, o número de vítima atingiu 26 jovens, sem perdoar uma mulher, a quem se alvejou com um tiro perdido. 

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A Anistia Internacional se mexeu. A opinião pública não consegue absorver o volume dos crimes praticados pelo estado e se escandaliza. Edson Fachin, do STF, mostrou preocupação e pediu que o ministério público se movimentasse. Jair Bolsonaro elogia a energia dos policiais. Mas não paramos aí. A doença mostra os dentes, a barbárie levanta os seus tentáculos e, em Sergipe, pune um caso de esquizofrenia com uma medida que recebeu o nome de “câmera de gás”, na qual o preso, detido na caçamba de um camburão, onde se atirou gás lacrimogêneo, não tem condições de respirar e falece. Obra da Polícia Rodoviária Federal.

A tudo as autoridades respondem com indiferença. O Sr. Cláudio Castro chegou ao governo do Estado sem votos, como vice de Wilson Witzel. Eram os dois, então, seguidores de Bolsonaro. Ali permaneceu discretamente. Agora, segundo o Instituto Fogo Cruzado, que reúne dados sobre a violência, acrescido do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos, da Universidade Federal Fluminense, divulga-se “que, em apenas um ano de gestão”, o Estado do Sr. Cláudio Castro conheceu uma sequência de 39 chacinas, com 178 mortes promovidas por policiais. E ele, o governador, entende que essas cifras lhe trazem prestígio.

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A esta altura, o episódio descrito por Sartre para refletir sobre os efeitos da guerra dá a impressão de pequeno. Corremos, nós brasileiros, para nos mostrar superiores em termos de selvageria. 

Positivamente, estamos no meio de uma enfermidade social de vastas proporções, algo que contaminou as mentes e deformou consciências. Cabe lembrar que, desde os primeiros minutos, a administração Bolsonaro (apoiada por seus admiradores) pregou o armamento e o valor da brutalidade como sonhos de civilização. O resultado não se fez esperar. Dentro em pouco, a continuar a tendência, viveremos em permanente confronto com nossos amigos e vizinhos. Por sorte, nas eleições que se aproximam, um dos candidatos defende a paz e o amor como suas bandeiras de afirmação política. Um pouco de sanidade nos desvarios em que nos transformamos pode nos retirar desse desatino.

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