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Carlos Alberto Mattos

Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

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Mostra Viva a Democracia

À medida que os motores da eleição de outubro começam a esquentar, a plataforma Itaú Cultural Play inicia nesta sexta (27/5) a mostra Viva a Democracia

(Foto: Divulgação)
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Com curadoria deste que vos fala, a mostra Viva a Democracia inclui 12 filmes brasileiros que enfocam campanhas eleitorais. A programação fica disponível online gratuitamente pelo prazo de seis meses. 

Também na sexta, às 17h30, eu e o cineasta João Moreira Salles vamos conversar com Gustavo Conde sobre campanhas eleitorais no cinema brasileiro numa live especialíssima que será transmitida pelos canais do Conde, da Rede TVT e do Grupo Prerrogativas. Neste link, por exemplo.
Desde que Robert Drew inaugurou, com Primárias (Primary), o cinema direto estadunidense cobrindo momentos da campanha pela indicação democrata à presidência dos EUA em 1960, o cinema descobriu o potencial desse tipo de acontecimento como matéria-prima cinematográfica. O pleno exercício da democracia é um espetáculo que envolve paixão, crítica, debate, liderança, ética, persuasão e, acima de tudo, as esperanças de um povo. Para o cinema, uma campanha eleitoral é argumento pronto, com dramaturgia, conflitos e um objetivo a ser alcançado.

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Os recursos audiovisuais têm assumido importância crescente, tanto na retórica da caça ao eleitor quanto nas estratégias de comunicação que visam à manutenção da confiança depositada nas urnas. E se a política se vale cada vez mais do “efeito cinema”, também o cinema vem dando sua resposta com a abordagem frequente do processo eleitoral.

A mostra Viva a Democracia oferece 12 exemplos de como o assunto foi tratado no cinema brasileiro ao longo de sete décadas. Na política partidária, numa escola ou num sindicato, em diversos pontos do país, entre o documentário e a ficção, esses filmes falam profundamente do Brasil. Neles, atores do cinema e atores da política se confundem em suas formas de “representar”. Plateia e eleitorado se refletem mutuamente no espelho do cinema.     

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Realizadores emblemáticos como Glauber Rocha, Olney São Paulo, Jorge Bodanzky, Roberto Gervitz, Lúcia Murat, Eduardo Escorel, José Joffily e João Moreira Salles se voltaram, em algum momento de suas carreiras, para o tema da caça ao voto. Cineastas de gerações mais recentes tampouco resistiram ao frisson das campanhas. Não falta variedade a esse conjunto de filmes.

Glauber, por exemplo, subverteu uma encomenda política para desconstruir o pomposo discurso de posse do governador José Sarney em Maranhão 66 (1966). A imagem e a fala do povo em meio à miséria e à desassistência contrastam com a exaltação pomposa de uma vitória eleitoral. Maranhão 66 é um raro exemplar de documentário num Cinema Novo dominado pelos filmes de ficção.  

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Na Bahia, Olney São Paulo canalizou sua indignação contra a ditadura através do igualmente perseguido Francisco Pinto, num raro filme de campanha eleitoral que desloca o eixo habitual de interesse dos candidatos para alguém que chega de fora para apoiar um deles. Além disso, o curta Pinto Vem Aí (1976) capta detalhes curiosos da preparação de uma cidade para um grande evento da política regional.  

Saltando para a Amazônia, encontramos o pouco conhecido Terceiro Milênio (1981), no qual a dedicação incansável de Jorge Bodanzky àquela região ganha um colorido particular. Nesse river movie, o primeiro longa-metragem brasileiro sobre uma campanha eleitoral, a personalidade extravagante de Evandro Carreira se apresenta, ao mesmo tempo que se discute o meio-ambiente e se expõe o abandono em que viviam os índios semi-aculturados da região. 

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Em Braços Cruzados, Máquinas Paradas (1979), Roberto Gervitz e Sérgio Toledo Segall documentaram o período em que o medo começou a desaparecer nas fábricas. Era 1978, o princípio de uma grande mudança de qualidade no movimento operário brasileiro. O filme aborda eleições sindicais e tem algumas cenas (inclusive ficcionais) que se tornaram referência quando se fala de cinema e trabalho no Brasil.
Único filme inteiramente ficcional da mostra, Doces Poderes (1996), de Lúcia Murat, faz uma análise penetrante dos limites éticos entre o jornalismo e o marketing político. Sem maniqueísmo nem esquematismos, ajuda a refletir sobre a situação brasileira nos anos 1990, quando o país voltava a viver plenamente a democracia com todas as suas armadilhas e ambiguidades.   

Já o brasiliense A Cidade é uma Só? (2013), de Adirley Queirós, transita entre o documentário e a ficção, usando o mote da campanha eleitoral para falar de várias questões políticas. Entre elas, o cinquentenário de Brasília visto através de uma reflexão sobre a Ceilândia, a remoção dos pobres do Plano Piloto nos anos 1970 e a especulação imobiliária mais recente. O filme é produto autêntico da periferia do Distrito Federal.
Eduardo Escorel e José Joffily se uniram para realizar Vocação do Poder (2005). Da montagem sintética e criteriosa do material filmado, eles extraem um instantâneo da disputa política naquilo que ela tem de mais cru e comezinho: o corpo a corpo com os eleitores nas ruas, a árdua conquista de espaços de exposição, o acionamento das máquinas eleitorais. Enfim, o quintal da política. 

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Ao evitar os grandes atos públicos cobertos pela mídia, João Moreira Salles nos oferece, em Entreatos (2004), o registro íntimo e exclusivo de um momento histórico. Assim, nos ajuda a compreender a grande transição vivida pelo país naqueles dias de 2002. Além disso, Entreatos exemplifica bem as virtudes e os limites do cinema direto, que depende de uma permanente negociação de acesso ao seu objeto.  

Por sua vez, Gretchen Filme Estrada (2010), de Paschoal Samora e Eliane Brum, mostra o que aconteceu quando a Rainha do Rebolado resolveu se arriscar na política. Eram dois espetáculos que se encontravam, ora nos shows de circo, ora nos comícios ou nas caminhadas pelos bairros da ilha de Itamaracá. Enquanto Gretchen tentava transferir sua popularidade para a candidatura e formar uma militância com poucos recursos, as câmeras flagravam com agilidade os pormenores de uma campanha no interior do Nordeste.

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Também no Nordeste se situa o documentário Camocim (2017), de Quentin Delaroche. A observação minuciosa do processo eleitoral numa pequena cidade pernambucana revela o momento em que a violência costumeira cede lugar a um esboço de vida democrática. A escolha de uma carismática chefe de campanha como protagonista fornece um acesso privilegiado às emoções da disputa pelo voto popular.  

No campo da micropolítica estudantil, Eleições (2019), de Alice Riff, é um documentário altamente imersivo sobre adolescentes secundaristas crescendo diante da câmera e aproveitando a chance de afirmar o que de fato lhes parece importante. A dinâmica política a que assistimos nesse filme é o anúncio de um possível futuro do país, onde o conservadorismo e a explosão de identidades têm muitas batalhas a travar. 

O título mais recente da programação é Sementes – Mulheres Pretas no Poder (2020). Nesse filme vibrante, as diretoras Ethel Oliveira e Julia Mariano demonstram senso de oportunidade jornalística, capricho documental e qualidade técnica impecável. Sem recorrer a entrevistas nem narração, elas souberam captar a batalha pelo voto com poucos recursos e sem máquina eleitoral. Ficam evidentes a garra e a personalidade de cada candidata, assim como o valor simbólico de suas campanhas potencializado pelo então recente assassinato da vereadora Marielle Franco.

As eleições, tais como vistas pelo cinema brasileiro, são um processo imperfeito e vulnerável, mas essencial. Nesse momento em que nos aproximamos de um pleito decisivo para o futuro do país e das nossas instituições democráticas, a mostra Viva a Democracia quer servir de estímulo à reflexão e à consciência política. 

O acesso à mostra pode ser feito pelo site da plataforma ou pelos aplicativos da Itaú Cultural Play nos sistemas Android e IOS.

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