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Roberto Ponciano

Escritor, mestre em Filosofia e Letras, especialista em Economia. Doutorando em Literatura Comparada

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Muito barulho por nada – ou golpear junto, marchar separados

Frente Ampla com a direita em 2022 e frente ampla para derrotar Bolsonaro nas eleições na Câmara não são assuntos conexos! Esta é a grande armadilha e mentira nesta discussão

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Muito barulho por nada é uma comédia de Shakespeare, em que nada é o que aparenta ser. Nela as burlas dão a essência: desde Cláudio e Beatriz, um casal de apaixonados que dizem se odiar, mas acabam assumindo seu amor e casando-se, por uma invenção de confissão da paixão de cada um, por parte dos amigos; ou uma traição forjada de Margarida com relação a Dom Pedro, príncipe de Aragão, por parte de seu irmão bastardo, Dom João. As burlas são desveladas, com mais uma burla, o falso suicídio de Margarida, que leva Dom Pedro a perdoar a amada e a criada a confessar a falsidade da traição. Ao final, a falsa morta aparece vivinha da silva e sabe-se que toda a confusão foi por absolutamente nada.

 Por que este nariz de cera? Para explicar a falsa polêmica sobre a eleição para a presidência e a mesa da Câmara dos Deputados. Misturaram-se alhos e bugalhos e parece que a eleição da mesa da Câmara é a eleição presidencial de 2022, que o PT abriu mão de lançar candidato e vai apoiar o candidato do DEM a eleição presidencial de 2022.

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 Lênin, o mais genial e arguto dos políticos marxistas, e também o mais radical, dizia que a primeira regra da dialética é “para problemas concretos, soluções concretas”.

 Não existe um princípio geral moral intangível para alianças. Alianças são basicamente de 2 tipos:

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1. Táticas – para questões emergentes de solução rápida, com adversários e mesmo com inimigos políticos: Lênin com os alemães logo depois de vencer a Revolução e necessitar da paz a qualquer custo (ele chegou mesmo a receber ajuda financeira e militar de um ex inimigo da URSS); Stálin e o pacto de não agressão com Hitler e a Alemanha nazista. Nenhum dos dois tinham ilusões, ambos sabiam que tanto a Alemanha Nazista queria destruir a República dos Sovietes, quanto o exército vermelho só teria como saída para a sobrevivência russa destroçar militarmente o nazismo. Cada um queria ganhar tempo e a guerra. Ao final, a tática pareceu ser mais conveniente na mesma guerra á URSS. E, ainda no campo tático, ainda a URSS na mesma Segunda Guerra, aliando-se aos Estados Unidos e à Inglaterra, que poucos anos antes tinham lançado os nazistas contra a URSS, dando a Tchecoslováquia para Hitler e fazendo começar o conflito. Mal findou a guerra e os aliados tornaram-se inimigos juramentados. Pela profissão de fé purista deste povo que defende dialética com fé imaterial, Lênin deveria ter deixado a nascente Revolução sucumbir para se manter puro, ou Stálin deveria perder a guerra para demonstrar a pureza do comunismo.

2. Estratégicas – entre aliados com perspectiva de longo prazo, a aliança entre a esquerda e o centro democrático no Brasil para derrotar a ditadura militar, a aliança entre comunistas e socialistas nos governos de frente ampla no Brasil e América Latina. Neste caso os objetivos são de mais longo prazo e é necessário firmarem-se compromissos com cessões de parte à parte.

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Veja que na caracterização da aliança não tem nenhuma prédica moral. Aliança tem que ter um objetivo, um fim a ser alcançado e um compromisso até se alcançar este fim. No caso da URSS x Alemanha Nazista, por exemplo, o compromisso era só um não atacar o outro. No caso do centro político com a esquerda, era a total recuperação das liberdades democráticas.

Eis que surge a eleição da mesa da Câmara dos Deputados e um tremendo ruído sobre ela. 

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Primeiro porque uma parte da esquerda, propositadamente, ou distraidamente, por interesses vários, os quais não caberiam neste artigo, pretendeu embotar a discussão e misturar frente de partidos para derrotar o candidato de Bolsonaro na Câmara (Arthur Lira – PP de Alagoas) com Frente Ampla (neste caso com maiúscula, por que seria uma sigla política) para eleição de 2022. 

E é importante afastar estas comparações. Tanto de um lado (dos que defendem a aliança com Maia e querem tirar casquinha disto para promover a tal Frente Ampla, incluindo Luciano Huck), quanto do outro (dos que são contra a frente ampla na Câmara e a comparam com 2022 para ter forças nos argumentos) a similitude é forçada para dar mais ênfase ao argumento.

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As eleições da Câmara não são por sufrágio direto e não tem debate popular. A esquerda marchando sozinha tem 53 deputados do PT, 10 do PSOL e 9 do PC do B, totalizando 72 deputados. De 513, dá cerca de 15% dos votos totais. E nem adianta conversar sobre “esquerda ampliada” porque PSB e PDT desde sempre não se prontificaram a participar de um bloco em separado de esquerda. 

Uma candidatura separada de esquerda no primeiro turno para “diferenciar-se e marcar posição”, numa eleição sem campanha aberta e sem voto popular, tem efeito nulo. Mas não tem efeito nulo na disputa de poder na Câmara. As mesas e secretárias da Câmara não são meramente burocráticas. Fui dirigente sindical mais de 15 anos e meu mister era em Brasília. Sem força nas secretarias e gabinetes, a esquerda vira passageira na Câmara e não pode intervir por dentro na tramitação dos projetos.

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O desastre de uma chapa nanica de PT-PSOL-PC do B, seria excluir a esquerda de todas as mesas da Câmara, limar o trabalho interno e isolá-la num gueto em termos de influência nas tramitações dos trabalhos congressuais. Saindo da moral e entrando na política, não me parece prático, inteligente ou nada revolucionário.

O denuncismo neste caso é puro denuncismo. Lênin denunciava o cretinismo parlamentar e dizia que o trabalho da esquerda não pode se limitar ao parlamento, no caso, aqui o cretinismo é invertido, até para denunciar a limitação burguesa deste Congresso é fundamental estar por dentro do que rola nos bastidores da Câmara e não se autossabotar para fazer bonito nas discussões internas partidárias, posando de ultraesquerda alternativa, ou arrumar mais um factoide para “denunciar o PT”.

Fora o fato de que numa eleição polarizada e indefinida, causar o risco de o candidato do presidente nazifascista assumir a Câmara, às vésperas da eleição de 2022, é cometer um erro condenável e colocar água nas pás do moinho do fascismo.

Deixar bem claro que sou contra a Frente Ampla em 2022, que a considero um movimento da direita para excluir Lula e o PT da eleição, que não defendo a aliança eleitoral com o Centrão (que na verdade é a direita ultraliberal fisiológica disfarçada), que de maneira nenhuma devemos apoiar um candidato ligado a Rodrigo Maia, a Ciro Gomes, a Luciano Huck em 2022. 

Frente Ampla com a direita em 2022 e frente ampla para derrotar Bolsonaro nas eleições na Câmara não são assuntos conexos! Esta é a grande armadilha e mentira nesta discussão. 

A esquerda tem que ter uma candidatura própria para 2022, vai sair com 20 a 30% dos votos e com certeza estará no segundo turno. Não precisa de Ciro, Huck ou Rodrigo Maia. Mas isto é o pleito popular, com debate aberto e voto do povo. Na Câmara, os 72 deputados de esquerda, isolados, podem dar a vitória ao fascismo. 

No momento é o famoso ditado, golpear juntos e marchar separados, sabemos que o Centrão ultraliberal e fisiológico luta é pela desgraça do povo brasileiro. Assumiram e gestaram o golpe, detonaram os direitos dos trabalhadores, fazem o trabalho de entregar o Brasil para o Imperialismo. Não, não tenho nenhuma ilusão com Botafogo e seus Blue Caps. Stálin tinha ilusões com Hitler? Lênin tinha ilusões com o imperialismo alemão? A questão é bem outra, é derrotar o candidato do nazista e no dia seguinte já somos oposição, dadas as devidas proporções, é o mesmo que o segundo turno com Paes no Rio. Votamos nele e no segundo seguinte já era “Fora, Paes!”.

Sem nenhuma ilusão com o DEMO, ou Rodrigo Maia, ou Ciro Gomes e quejandos, nossa primeira tarefa em 2021 é derrotar Bolsonaro na Câmara com os votos da direita fisiológica. No segundo seguinte eles viram nossos inimigos de classe a serem derrotados. E isto não tem ABSOLUTAMENTE NADA que ver com as eleições de 2022, na qual seguiremos nosso caminho, bem longe deles.

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