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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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Na Lava-Jato o crime compensa?

"Consciente dos crimes praticados à frente da Lava-Jato, ele sabe que se perder a blindagem será punido, daí o pedido a Fux para que o seu julgamento fosse suspenso", escreve o colunista Ribamar Fonseca em referência a Deltan Dallagnol. "Haverá um momento em que ele será punido, o que não parece muito distante considerando o clima hoje existente na Suprema Corte"

(Foto: STF | ABr)
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O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, decidiu suspender, na última terça-feira, o julgamento do procurador Deltan Dallagnol, chefe da Operação Lava-Jato, pelo Conselho Nacional do Ministério Público, acusado de ter ofendido a Suprema Corte. A decisão de Fux, atendendo a um pedido do procurador, criou um clima de franca animosidade dentro da Corte, porque a representação contra Dallagnol, mais uma entre as várias existentes no CNMP, foi assinada pelo próprio presidente do STF, ministro Dias Tóffoli, em defesa da instituição. A decisão, na verdade, não surpreendeu ninguém, porque Fux é considerado homem de confiança daquela força-tarefa, conforme revelou recentemente o  site The Intercept, ao divulgar os diálogos no Instagram entre membros da operação, nos quais  o então juiz Sergio Moro escreveu, em inglês, “in Fux we trust” (em Fux nós confiamos), após ser informado sobre uma conversa do procurador com o ministro. Blindado agora por Fux, Dallagnol, que é alvo de várias ações no CNMP, continua impune, apesar dos crimes revelados pelo The Intercept ao divulgar os diálogos dos bastidores da Lava-Jato.   

Por sua vez, o Procurador Geral da República, Augusto Aras, revelou recentemente que está buscando uma “saída honrosa” para afastar Deltan Dallagnol do comando da Lava-Jato. Saída honrosa?? É isso mesmo? Entre as opções está a promoção dele para Procurador Regional da República. Inacreditável. O sujeito é acusado de violar a Constituição, de atropelar leis, de desrespeitar decisões da Suprema Corte e conspirar contra seus ministros, de afrontar o PGR (Rodrigo Janot admite a insubordinação no seu livro “Menos que tudo”), de manipular pessoas e a mídia, de usar o cargo para ganhar dinheiro mediante palestras, de inúmeras ilegalidades e, ao invés de punição, ganha uma promoção! Pelo visto, na Lava-Jato o crime compensa. Ou, então, o poder de Dallagnol é tão grande que intimida todo mundo, o que parece se confirmar com o arquivamento, pelo Conselho Nacional do Ministério Público, de várias ações movidas contra ele. Mas de onde vem esse poder que intimida até os PGRs? Raquel Dodge, por exemplo, manifestou-se contra o seu afastamento da Lava-Jato, considerando-o inamovível. E por que o novo procurador, ao invés de puni-lo, quer uma “saída honrosa” para tirá-lo de Curitiba? Afinal, por que tanto medo se até o seu velho  parceiro Sergio Moro já quer distância dele?

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A impunidade na Lava-Jato é realmente surpreendente. A todo momento eles pedem prisões de pessoas acusadas de corrupção, na maioria das vezes sem qualquer prova, tendo por base apenas uma delação, mas se julgam acima das leis e, com a cumplicidade dos superiores hierárquicos, não sofrem qualquer punição pelos abusos. Pelo contrário, são premiados com promoções. É o caso, por exemplo, da procuradora Thaméa, da Lava-Jato de São Paulo, que foi promovida a procuradora regional depois de ter conspirado para derrubar o ministro Gilmar Mendes, inclusive redigindo, com a ajuda de um advogado conhecido, o pedido de impeachment. O ex-juiz Sergio Moro, por sua vez, nunca foi punido pelo grampo inconstitucional no telefone da presidenta Dilma Roussef. Ao contrário, foi premiado com o Ministério da Justiça, onde não apenas blinda o seu benfeitor, o presidente Bolsonaro, como, também, a si mesmo, e ainda usa a Policia Federal, subordinada ao seu gabinete, para intimidar os seus adversários e do capitão.  E com Fux brevemente na presidência do Supremo ninguém mais da Lava-Jato deverá se preocupar com possíveis ações contra eles naquela Corte.

Enquanto isso, Moro, que não é bobo, vai engolindo sapos de todo tamanho, aparecendo em quase todas as fotos como papagaio de pirata de Bolsonaro, para se consolidar como um dos principais trunfos do governo com vistas a um novo mandato. Ele agora joga em duas frentes: a primeira, movimenta-se nos bastidores do Planalto para realizar o velho sonho de ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal, o que teoricamente pode acontecer no final do próximo ano quando o decano da Corte, ministro Celso de Mello, se aposentar. Para isso, no entanto, o capitão precisa estar ainda no Planalto até aquela data, pois há quem acredite que o seu mandato não demore tanto. Na segunda frente, ele já está sendo cogitado para vice de Bolsonaro no caso de disputar a reeleição, porque o capitão já se arrependeu do “casamento” com o general Hamilton Mourão e pretende rifá-lo no próximo pleito. Ninguém pode garantir, no entanto, que o seu projeto terá sucesso, porque, além da variação de humor de Bolsonaro, que já descartou vários dos seus aliados, até o final de 2020 muita água ainda vai correr por baixo da ponte, sendo praticamente impossível qualquer prognóstico sobre os acontecimentos, sobretudo quanto ao panorama político. Afinal, Lula está na área, o que deu um novo dinamismo à política brasileira, especialmente à oposição. 

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Independente do caldeirão político, porém, que promete ferver nas próximas eleições, o esperto procurador Deltan Dallagnol continua impune, livre, leve e solto, faturando com suas palestras para trouxas, confiante na blindagem proporcionada pelos seus superiores e, também, pelo ministro Luiz Fux. Consciente dos crimes praticados à frente da Lava-Jato, ele sabe que se perder a blindagem será punido, daí o pedido a Fux para que o seu julgamento fosse suspenso. Até quando permanecerá impune ninguém sabe, mas como nada é eterno haverá um momento em que ele será punido, o que não parece muito distante considerando o clima hoje existente na Suprema Corte, que parece ter tirado a venda dos olhos e enxergado com maior nitidez a verdadeira cara da Lava-Jato. Por sua vez, o ex-juiz Sergio Moro também deverá experimentar as consequências dos seus abusos, pois a blindagem do Ministério da Justiça igualmente não é eterna. O cargo não é vitalício e, portanto, chegará o momento em que o deixará, ficando inclusive sem foro privilegiado. Será o fim do super-herói fabricado pela Globo, que já vem perdendo prestígio de modo acelerado no seio da opinião pública, segundo as pesquisas. É tudo, portanto, uma questão de tempo.  Até lá ele vai continuar papagaio de pirata do capitão e procurando distanciar-se do velho parceiro para não queimar-se. 

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