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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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Não houve golpe ou golpe em andamento

"Golpe foi o de 1964, golpe foi o de 2016, que alteraram a realidade, romperam com a democracia existente até então. Temos que evitar de banalizar a palavra golpe. Considerar bravatas o que são bravatas", escreve o sociólogo Emir Sader

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São tantas e tão desbaratadas as bobagens que ele diz, que dá vontade de não levar em conta, de só ridicularizá-lo ainda mais. É um erro. Em primeiro lugar, porque ele está na presidência, tem certo poder. Em segundo, porque incentiva os seus adeptos a levar a sério as coisas que ele diz. 

Levá-lo minimamente a sério porque expressam pelo menos suas intenções. Dá pra medir suas possíveis ações, o que ele gostaria de fazer, se pudesse. 

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Ele já disse coisas tão absurdas tipo: Só' saio daqui morto, Só' Deus me tira daqui, Só' há dois poderes: o Executivo e o Legislativo, entre tantas outras bobagens. Além do desconhecimento do que o Judiciário decidisse. 

Mas outro erro é levar demasiadamente a sério o que ele diz. Por mais absurdas que sejam as coisas que ele diz, não tem o poder de transformar a realidade com suas palavras. 

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Ele ameaça sempre dar um golpe, voltou a fazer isso na semana de 7 de setembro. Houve gente que correu a dizer que já tinha havido um golpe, por ele desconhecer o Judiciário e por outras coisas afins que ele disse. 

É um risco cair no impressionismo, tão imbecis são suas palavras. Ou no jurisdicismo, de acreditar que o que ele diz basta para romper a realidade, para introduzir uma nova jurisdição. 

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Falta uma visão política da realidade. Não basta ele querer mudar a realidade com suas pregações, para que consiga. As palavras contam, mas não tem esse poder. 

Golpe foi o de 1964, golpe foi o de 2016, que alteraram a realidade, romperam com a democracia existente até então. Temos que evitar de banalizar a palavra golpe. Considerar bravatas o que são bravatas.

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Bolsonaro quer dar outro golpe. Romper com a institucionalidade existente, para concentrar mais poder em suas mãos. Ele o faz, agora, porque sabe que a continuidade desta institucionalidade, por limitada que seja, levará à sua derrota nas eleições. 

Daí que incita os militares e os policiais militares a brecar o que ele considera que seria um golpe contra ele, que teria tirado o Lula da prisão e o levaria à Presidência. Que o limita e até o impede de governar, com limitações impostas pelo Judiciário. 

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Mas é preciso evitar o impressionismo com suas bravatas e o jurisdicismo de considerar que a violação verbal de normas já representa a ruptura da realidade concreta. Ele disse essas coisas todas na terça, depois não apenas teve que se retratar (não importa quanto tempo demorará essa atitude), como se enfraqueceu e enfraqueceu o golpe. Erraram os que correram a dizer que tinha havido um golpe ou um golpe em andamento. 

Sabemos, com Marx, que as palavras, quando penetram na realidade, se transformam em força material. Mas precisam penetrar na realidade, precisam corresponder à realidade concreta. 

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Não aconteceu isso, pelo menos até agora. E parece, por enquanto, pelo menos, que está mais longe do que estava antes do 7 de setembro e não mais perto. 

É preciso ter uma visão política da realidade, inclusive das declarações bombásticas e das visões jurídicas da realidade. Senão nos impregnamos de uma dimensão subjetiva que deforma nossa capacidade de perceber e compreender a realidade. 

Da mesma forma, encarar as alianças para resistir a ele, com uma concepção política. Em princípio, somar a todos os que se oponham a ele. Mas não a ponto de participar de manifestações hegemonizadas pelos que a convocaram com o lema: Nem Lula, nem Bolsonaro. Sempre nos perguntamos se eles estão mesmo contra o Bolsonaro ou, na verdade, manipulam essa polarização para tentar desqualificar o Lula.

Uma das jornalistas mais tucanas que conhecemos, disse outro dia que Lula representa a extrema esquerda. Seria bom para eles. Os extremos se atraem! Outro disse que a maioria não quer os dois, quando lhe bastaria olhar as pesquisas e somar, para saber que pelo menos 75% dos pesquisados optam por um ou por outro, além dos indecisos. Deixando migalhas para as dezenas de candidatos à terceira via. 

A realidade política é implacável com os erros teóricos. Temos que ter capacidade política de limpar o campo teórico, para termos uma compreensão concreta da realidade concreta – conforme os termos do Lenin. 

A política é a síntese de tudo – das palavras, das intenções, da economia, da realidade social e cultural. É  o filtro que nos permite formular estratégias e táticas de transformação da realidade. Se não, são apenas palavras que o vento leva.

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