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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Não se pede a cabeça de Múcio. Apenas um ajuste no discurso

"Não se trata de pedir que ele saia convocando a Polícia do Distrito Federal para distribuir bordoadas entre eles num confronto de consequências inimagináveis"

José Múcio (Foto: José Cruz/Agência Brasil)
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Ao mencionar o nome do ministro da Defesa, José Mucio, imediatamente o que se ouve são elogios ao seu estilo afável, de bom trato, conciliador e de paz. 

Todos sabemos o quanto era delicado o momento em que o seu nome foi apontado para a pasta como uma ponte entre o presidente então eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e o meio militar, envolto em um vespeiro, onde era difícil enxergar quem estava nas fileiras bolsonaristas e quem acatava com respeito devido o resultado saído das urnas.

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Fora dos quartéis reinavam imagens que não deixavam dúvidas: alguém ali estava conivente com um bando de fascistas que já resvalava para o terrorismo gestado na porta da unidade militar, conforme declarou à Polícia o Alan Diego Rodrigues, o autor do atentado frustrado, ao aeroporto internacional de Brasília e participante também da noite de terror, em 12 de dezembro, quando os “acampados” saíram pela capital ateando fogo em tudo o que viam pela frente.

É possível que o ministro, apreensivo em estabelecer diálogo com os comandos militares para cumprir bem sua missão, nem tenha percebido o tamanho do problema, que obrigou o ainda indicado ministro da Justiça, Flávio Dino, sair de seus cuidados para, às 23h30, convocar uma coletiva em que explicou todas as providências tomadas naquela noite. 

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Àquela altura, o indicado Múcio examinava uma “agenda” elaborada no meio militar, estabelecendo algumas “sugestões” ao governo que chegava, em nome da boa convivência. Ao que se sabe, o ministro Mucio acatou a não reforma dos currículos escolares nas escolas militares, a não alteração do sistema de previdência diferenciado para a categoria dos militares e vários outros itens cuidadosamente costurados para que a categoria seguisse o princípio constitucional que diz serem eles servidores do Estado e não dos governos de ocasião.

É bom que se diga que o governo vitorioso nas urnas listou e procurou nomes dos que considerou viáveis para a função. Ouviu recusas ou encontrou particularidades e impedimentos à nomeação. José Mucio, que veio de longe, lá do PFL, passando pelo DEM, aportando, enfim, no PTB, trazia a seu favor além do rótulo positivo de apaziguador, uma passagem bem-sucedida pelo Tribunal de Contas da União (TCU), onde transitou entre civis e militares com tranquilidade e fidalguia. Ele também teve uma longa trajetória como deputado federal por Pernambuco, no total foram cinco mandatos, atuando, ainda, como secretário dos Transportes durante o governo Roberto Magalhães

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Lançado às manifestações das feras da ultradireita a fim de debelar as sandices pacíficas – como tentativas de falar com Ets – e os parrudos que portam armas nos acampamentos e viram carros de pernas para o ar, incendiando-os, (numa atitude nunca vista em Brasília), adoçou a voz e disse que mais cedo ou mais tarde haveria um esvaziamento natural das “manifestações pacíficas”.

Alegou que os manifestantes apenas expressam opinião – de forma contundente, eu diria, com botijões de gás e tochas de fogo às mãos – e que ele até tem parentes e amigos entre eles. Ao ser efetivado no cargo, fez declaração protocolar, em cima apenas do tolerável. Disse que tem a intenção de: “contribuir às missões da Marinha, do Exército, da Força Aérea e do Estado-Maior Conjunto”,

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Evidente que não vamos aqui monitorar as amizades do ministro. Lamentamos que tenha de conviver em família com radicais de ultradireita. Não se trata de pedir que ele saia convocando a Polícia do Distrito Federal para distribuir bordoadas entre eles num confronto de consequências inimagináveis.

O que se aposta de um nome tão elogiado e considerado no meio político e que, louve-se, foi o único a aceitar colocar o guizo no pescoço do gato - indo em pessoa enfrentar as carrancas e resmungos militares -, é que não espere que esse lumpesinato branco, classe média e sustentado sabe-se lá por quem, se perpetue em tristes figuras pelas portas dos quartéis uma infinidade.

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Longe do conjunto da militância progressista torcer por sua queda ou pedir a sua cabeça. A torcida é apenas para que afine o discurso ao falar com a mídia, evitando tamanha condescendência com os arruaceiros, e que use de sua influência para sugerir aos comandos militares a solicitação em seus estados de uma ação de desmonte das instalações que propiciam o mínimo de “conforto” dos ali acampados, forçando, assim, a saída deles, por falta de condições mínimas de permanência.

Sem o conforto das barricadas de linguiça, fogões industriais, vagas nos estacionamentos dos quartéis, barracas espaçosas, galões de água mineral, banheiros químicos e a permissão de que portem armas, talvez eles desistam, mesmo, como prevê o ministro. E, certamente, com mais brevidade do que deixá-los pura e simplesmente com todo esse aparato de camping, nas áreas militares. Tirem-lhes o mínimo de “conforto” e não ficarão sob o sol escaldante e as chuvas ocasionais, sem abrigo, sem comida e suas adoradas (e ameaçadoras) armas. Tente não os chamar de manifestantes, ministro. São terroristas e, a longo prazo, podem desgastá-lo.

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