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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Não toquem nesses destroços! Eles já são história

"Os restos da charge de autoria do artista Carlos Latuff, transformada em poster para compor a exposição, na entrada da Câmara, em Brasília, e atacada pelo deputado federal Coronel Tadeu (PSL) deveriam ser transformados em uma 'instalação'", opina a colunista Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia. "É assim, como uma denúncia contra a violência que os visitantes precisam olhar para o que restou da atitude desse coronel fascista"

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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia -

A Igreja do Kaiser Wilhelm é um dos monumentos mais interessantes de Berlim. Seu estilo peculiar de castelo destruído consegue alcançar seu objetivo: lembrar a todos aqueles que o vejam que, com a guerra, só se consegue destruir pessoas e tesouros arquitetônicos. Em 1950 houve planos de demoli-la, mas os cidadãos se negaram e a decisão foi a de criar um monumento comemorativo com os restos da igreja.

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Seu exterior destroçado e enegrecido pretende recordar a insensatez da guerra. No interior, uma pequena exposição mostra algumas fotos da época em que a igreja foi atingida pelos bombardeios. A igreja, no coração de Berlim, lembra a quem a mire: houve um tempo em que a intolerância apagou a arte e embruteceu os homens.

Portanto, curadores da exposição “Trajetórias Negras Brasileiras”! Não toquem nessesdestroços. Eles viraram história.

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Os restos da charge de autoria do artista Carlos Latuff, transformada em poster para compor a exposição, na entrada da Câmara, em Brasília, e atacada pelo deputado federal Coronel Tadeu (PSL) deveriam ser transformados em uma “instalação”.

A charge, enquanto conteúdo/denúncia, precisa necessariamente ser reproduzida e reconduzida à parede - de onde jamais deveria ter sido retirada -, mas o resultado do ato de vandalismo, de crime contra o patrimônio público e racismo, necessita ser isolado e mantido, como um monumento à intolerância. É assim, como uma denúncia contra a violência que os visitantes precisam olhar para o que restou da atitude desse coronel fascista.

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Embora ele diga que agiu para proteger as fileiras de 600 mil policiais PMs, (segundo suas contas), e o fará de novo, caso a charge volte a integrar o conjunto de objetos que compõem a exposição, seu ato deve ser enquadrado nos termos da Constituição Federal de 1988. O seu Art. 3, inciso XLI determina: "Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”; e no Art. 5º, inciso XLI, que “a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais".

Há os que estejam atribuindo ao gesto do coronel, apenas os crimes de cerceamento, deexpressão e vandalismo. É também, mas não só. O desconforto e a inquietação causados pelo traço preciso e sensível do artista fez aflorar no deputado instintos e sentimentos violentos, a ponto de levá-lo ao ataque a um quadro inanimado. Não era um espelho, mas o coronel se viu ali refletido.

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“Isto não vai ficar na parede, isto aqui é contra a Polícia. A Polícia está aqui paradefender a sociedade. Eu vou queimar esse cartaz que não deveria estar aqui” – esbravejou.

Levando-se em conta que a exposição tem como objetivo promover reflexão nosvisitantes sobre o passado que nos legou todo o preconceito que aí está, foi, sim, um ato de racismo. O Coronel Tadeu quis esmurrar esse passado até que ele caísse morto como o negro do desenho.

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O que a excelência se esquece é que aquele crioulo, negro, preto, estirado no chão -representante de um exército de adolescentes abatidos a tiro todos os dias país afora – vai nascer de novo, e de novo, e de novo. O que incomodou (e a arte incomoda), é saber que suas mãos e a dos colegas estarão sempre manchadas do sangue desses meninos. Os “bandidos em potencial”. Eles brotam das barrigas negras e teimosas. E não precisam de balas e algemas. Precisam de futuro. O futuro que o governo que o deputado defende, insiste em lhes tirar.

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