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Paulo Kliass

Paulo Kliass é doutor em economia e membro da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental do governo federal

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Não toquem nos Correios!

Abrir mão de patrimônio em época de recessão é a pior alternativa que sempre se coloca para seus proprietários. A crise rebaixa os preços dos ativos e o resultado das negociações tendem a apresentar péssimas condições para o vendedor, seja em termos de preços, seja no que se refere às demais condições da operação. Assim, além de se desfazer de um setor estratégico para economia e para sociedade, nem mesmo a intenção declarada do governo de ajudar na suposta “crise fiscal” vai ser atendida

Paulo Guedes, Jair Bolsonaro e funcionários dos Correios (Foto: Reuters | Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)
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A estratégia de sobrevivência de Bolsonaro vem sendo marcada por sinais muitas vezes contraditórios. As denúncias mais recentes de corrupção no Ministério da Saúde vêm se somar aos escândalos de opções políticas e de sanitárias que levaram à tragédia de mais de 520 mil mortes pela covid. O ressurgimento de novas provas envolvendo os esquemas criminosos das “rachadinhas” em seu gabinete e nos de seus filhos contribuem para que os índices de popularidade caiam ainda mais. As pesquisas de opinião dando conta da superioridade de Lula na preferência do eleitorado também parecem tirar o ex capitão do sério e revelam um enorme despreparo dele para lidar com situações de crise política mais acentuada.

As jornadas de manifestações contra o seu governo e propondo bandeiras como seu “impeachment” têm crescido em força e adesão. Parte dos grandes meios de comunicação parecem também ter compreendido o grande desserviço causado por esse governo ao país. O isolamento político crescente de Bolsonaro faz com que ele recorra ainda com mais força à sua base ideológica mais fiel e às práticas do fisiologismo para manter o apoio de maioria no interior do Congresso Nacional. Apesar do protagonismo alcançado pela CPI do Senado Federal na apuração e denúncia do genocídio, no interior da Câmara dos Deputados a aliança com o presidente Arthur Lira ainda segue sólida. Afinal, depende apenas dele a decisão de dar prosseguimento ou não aos inúmeros pedidos de impedimento que se avolumam na sua gaveta. Na verdade, são mais de 120 processos aguardando alguma manifestação de Lira.

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Em uma conjuntura como essa, Bolsonaro segue flertando com o golpe e busca de forma ensandecida o apoio das Forças Armadas em seu intento que mescla tendências fascistas com uma espécie de bonapartismo doentio. Além disso, ele oscila entre uma adesão incondicional aos acenos do financismo extremado e o anúncio de medidas mas “populares”, com o intuito de recuperar parcela da opinião pública que se decepcionou com o próprio voto em 2018 e segue desgarrada. Mas o fato é Jair precisa manter Paulo Guedes em sua equipe, pois ele é o último elo de contato com parcela das elites que ainda não se convenceram plenamente da desgraça que representa o seu governo.

Desespero de Bolsonaro e artimanha de Guedes

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Pois esse é o quadro em que o superministro quer aproveitar o ensinamento de seu antigo colega de Esplanada, Ricardo Salles. Havia sido verbalizada pelo ex Ministro do Meio Ambiente a estratégia de “passar a boiada” enquanto o povo se preocupava com outras coisas. Pois é exatamente essa a intenção de Paulo Guedes. Trata-se de aproveitar essa dependência angustiante do Chefe do Executivo em obter algum sucesso na área da economia para colocar a cartada maximalista da privatização na mesa. Assim foi feito com a Eletrobrás há poucas semanas e agora se reforça com a intenção anunciada de vender os Correios ao capital privado.

O governo já havia enviado em fevereiro o PL 591/21 ao legislativo. Mas agora a orientação dada ao Presidente da Câmara é que a matéria seja apreciada e votada em ritmo de urgência. Em outras palavras, para que tudo seja concluído sem nenhuma discussão ampla e efetiva do projeto. Representantes do Ministério da Economia já começam a plantar notícias a respeito de qual seria o modelo de privatização a ser adotado nesse caso. Uma loucura! A ideia seria promover a venda da empresa de forma direta e integral para a melhor oferta apresentada em leilão. Atualmente a ECT é uma empresa pública, o que significa que 100% de seu capital pertence à União. O PL autoriza sua transformação em empresa de economia mista, com possibilidade de venda de até 49% do capital ao setor privado. Mas agora a intenção revelada é de transferir a totalidade dos Correios.

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Abrir mão de patrimônio em época de recessão é a pior alternativa que sempre se coloca para seus proprietários. A crise rebaixa os preços dos ativos e o resultado das negociações tendem a apresentar péssimas condições para o vendedor, seja em termos de preços, seja no que se refere às demais condições da operação. Assim, além de se desfazer de um setor estratégico para economia e para sociedade, nem mesmo a intenção declarada do governo de ajudar na suposta “crise fiscal” vai ser atendida.

Privatização dos Correios: crime de lesa Pátria

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A proposta de privatizar os Correios a toque de caixa atende em cheio aos interesses dos setores que dizem discordar de Bolsonaro, mas se sentem recompensados pela gestão de Guedes à frente da economia. O banqueiro na condução do superministério jamais perdeu a oportunidade de oferecer todo o tipo de facilidades ao topo de nossa elite, historicamente habituada a falar mal do Estado, mas que sempre se beneficiou de suas decisões envolvendo isenções e perdões tributários. Afinal, nunca faltaram recursos orçamentários quando se tratava de despesas de natureza financeira ou de projetos de interesse do grande capital.

É fundamental que o conjunto das forças democráticas e progressistas se manifestem contra mais esse crime de lesa pátria. A privatização dos Correios terá o inequívoco significado de piora na qualidade dos serviços e aumentos nas tarifas de forma generalizada. O interesse dos fundos financeiros e demais empresas do setor privado em se aventurar nesse domínio se explica pela expectativa de retorno financeiro e acumulação de capital. Passa longe qualquer tipo de preocupação com a característica social da prestação desse tipo de serviço. Além disso, a tendência é que se verifique também na área postal uma maior dependência ao capital estrangeiro. 

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O aprofundamento da crise política termina por antecipar o debate eleitoral e das alternativas para o pleito de 2022. Caberia aos candidatos se manifestarem publicamente a respeito do tema, condenando essa tentativa de privatização dos Correios e alertando os eventuais interessados na negociata que tal medida poderia ser revertida a partir de janeiro de 2023.

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