Napoleão de hospício
"Hospícios não há mais; mas Napoleões de hospício, esses continuam por aí, livres, leves e soltos. Inclusive no Brasil. E alguns moram em palácios", escreve o jornalista Alex Solnik após Jair Bolsonaro ameaçar as eleições de 2022
Por Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia
Tudo indica que Jair Messias Bolsonaro resolveu ampliar seus poderes para acabar de vez com tudo o que está errado no Brasil. A presidência não basta. Baixou um Napoleão Bonaparte nele.
Ele assumiu, ontem, por indicação e decisão dele mesmo, sem deixar de ser presidente da República, a presidência do Tribunal Superior Eleitoral, com uma missão específica, à altura de seu segundo nome: acabar de uma vez por todas com os golpes baixos praticados pela maioria dos políticos brasileiros - nem ele nem seus amigos, é claro, estão nesse rol - que teimam em ganhar eleições no tapetão.
Em seu primeiro pronunciamento ele foi categórico:
“Ou teremos eleições limpas ou não haverá eleições”!
Só um justo forjaria uma frase desse teor. Se as eleições não forem salomônicas ele prefere sacrificar a própria reeleição, pois, se não houver eleições ele não poderá ser reeleito.
Talvez ele suponha que o povo, diante da impossibilidade de sua reeleição, o obrigue a permanecer no Palácio do Planalto enquanto não houver garantia de eleições dignas da sua moral. O que poderá demorar um pouco. E enquanto isso ele continua no timão do Titanic.
Ou que as Forças Armadas o impeçam de deixar o palácio, em gratidão a todo o bem que tem proporcionado à instituição. E coloquem canhões para impedir que seus detratores o retirem de lá a pontapés.
Depois de 1840, quando o rei Luís Felipe, em meio a uma cerimônia épica, trouxe de volta à França os restos mortais de Napoleão, que morrera, em 1821, na ilha de Santa Helena, começaram a surgir nos asilos franceses os Napoleões de hospício. Só no manicômio de Bicêtre havia 14.
Hospícios não há mais; mas Napoleões de hospício, esses continuam por aí, livres, leves e soltos. Inclusive no Brasil. E alguns moram em palácios.
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* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
