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Aloizio Mercadante

Aloizio Mercadante é economista, professor licenciado da PUC-SP e Unicamp, foi Deputado Federal e Senador pelo PT (SP), Ministro Chefe da Casa Civil, Ministro da Educação e Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação

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Netflix e os mecanismos da intolerância

"A série se presta a fazer um ataque político, maniqueísta e desqualificado contra os governos democráticos dos últimos anos, notadamente os do PT", critica o ex-ministro da Educação Aloizio Mercadante, sobre a série O Mecansmo, da Netflix, dirigida por José Padilha; "As fontes de financiamento desta campanha e série milionária permanecem desconhecidas. Caracteriza-se, ainda, como uma tentativa de desconstruir, no país e internacionalmente, a partir de manipulações grosseiras e ideologizadas, a imagem de dois ex-presidentes, Lula e Dilma, em uma plataforma de distribuição global de conteúdos", diz ele; "Netflix deve um pedido de desculpas ao povo brasileiro"

"A série se presta a fazer um ataque político, maniqueísta e desqualificado contra os governos democráticos dos últimos anos, notadamente os do PT", critica o ex-ministro da Educação Aloizio Mercadante, sobre a série O Mecansmo, da Netflix, dirigida por José Padilha; "As fontes de financiamento desta campanha e série milionária permanecem desconhecidas. Caracteriza-se, ainda, como uma tentativa de desconstruir, no país e internacionalmente, a partir de manipulações grosseiras e ideologizadas, a imagem de dois ex-presidentes, Lula e Dilma, em uma plataforma de distribuição global de conteúdos", diz ele; "Netflix deve um pedido de desculpas ao povo brasileiro" (Foto: Aloizio Mercadante)
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A experiência democrática é incompatível com a difusão de mentiras e de manipulações grosseiras da realidade nos meios de comunicação, sem qualquer possibilidade de defesa ou do rápido e efetivo direito de resposta. A série "O Mecanismo", do cineasta José Padilha, na Netflix, é mais um exemplo que aponta para a urgência de uma discussão séria, profunda e transparente sobre a democratização e a regulação dos meios de comunicação, no Brasil.

Com um aporte publicitário poucas vezes visto em produções nacionais, ocupando a contracapa das revistas e grande espaço nos jornais de maior circulação, no fim de semana, a série se presta a fazer um ataque político, maniqueísta e desqualificado contra os governos democráticos dos últimos anos, notadamente os do PT. As fontes de financiamento desta campanha e série milionária permanecem desconhecidas. Caracteriza-se, ainda, como uma tentativa de desconstruir, no país e internacionalmente, a partir de manipulações grosseiras e ideologizadas, a imagem de dois ex-presidentes, Lula e Dilma, em uma plataforma de distribuição global de conteúdos.

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Ainda que ficcional, a série seria inadequada. Ao se autointitular como "baseada em fatos reais", é inaceitável, porque procura reconstruir de forma nefasta uma narrativa histórica, contribuindo para a aprofundamento da intolerância e do ódio, em nossa sociedade. Se tal manipulação política grosseira ocorresse em uma campanha eleitoral, certamente, os órgãos de controle, como os tribunais eleitorais, por exemplo, assegurariam o direito de resposta aos prejudicados. Agora, como ficam os direitos de defesa e ao contraditório e a reparação de danos contra calúnias e difamações, neste caso?

Até mesmo o grau de truculência e o ataque pessoal contra a presidenta Dilma, feitos pelo referido cineasta em resposta a nota lançada pela presidenta, que denuncia as distorções da realidade presentes em "O Mecanismo", são incompatíveis com o ambiente democrático, que pressupõe a liberdade de pensamentos e de opiniões, mas também o respeito e a convivência com a diferença. Como nenhum crítico importante se apresentou publicamente para defender a série, o diretor tenta justificar o injustificável a partir de novos e rebaixados ataques.

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Não podemos deixar de mencionar, no contexto da discussão da democratização e da regulação dos meios, a recente fraude da Cambridge Analytica, que obteve de forma irregular dados sigilosos de cerca 50 milhões de usuários do Facebook. A partir desses dados, a empresa atuou para moldar comportamentos, influenciar decisões e prever a escolha dos eleitores, atuando a favor da campanha de Donald Trump, na corrida presidencial norte-americana de 2016, além do Brexit e várias outras campanhas eleitorais relevantes.

Ao que consta, essa mesma empresa pretendia se instalar no Brasil para atuar na campanha presidencial deste ano, a favor do PSDB, e, também, em outros três estados, em mais uma ação de manipulação potencial do processo eleitoral.

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Vivemos, ainda, um ambiente de ampla circulação de notícias falsas, as chamadas fake news, que agridem e atacam reputações. Pesquisa DataFolha, divulgada no último final de semana, apontou que 60% dos moradores da cidade do Rio de Janeiro receberam fake news a respeito da vereadora Marielle Franco, assassinada de forma covarde no dia 14 de março.

O mais impactante é que 10% das pessoas que receberam as notícias falsas acreditaram que elas eram verdadeiras e outros 15% não souberam distinguir se as fake news sobre Marielle eram falsas ou verdadeiras. Ficou provado, ainda, que portais difamatórios, ligados a grupos de extrema direita e de inclinações fascistas, atuaram coordenadamente nesse processo difamatório, covarde e criminoso.

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Além disso, essa grave manipulação cinematográfica, vem dentro de um cenário de escalada do ódio, da intolerância e do aumento dos casos de agressões, igualmente inaceitáveis, para a nossa democracia. É inegável que as fake news, a violação de dados pessoais na internet, o jornalismo de guerra e, agora, a produção cinematográfica de guerra têm contribuído e muito para fomentar esse ambiente, que pode ter desdobramentos imprevisíveis para a sociedade como um todo.

A caravana de Lula pelo sul do país foi vítima de agressões e intolerâncias inadmissíveis, inclusive com ataques físicos, como a arremesso de pedras contra o ônibus do presidente. Onde estão as lideranças dos campos ditos como social democrático e democrático, que não condenaram ou sequer se manifestaram a respeito dos ataques e agressões físicas contra militantes e a caravana de Lula?

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Em 2010, a grande mídia tratou o chamado caso da "bolinha de papel", que atingiu o então candidato José Serra, como um caso gravíssimo de ataque contra a democracia. Agora, quando Lula é alvo de pedradas e agressões físicas contamos com o silêncio, com a cumplicidade e uma quase celebração velada da mídia tradicional sobre o caso.

Como sempre, volto a defender que a internet, a imprensa e a produção cultural devem ser ambientes livres de qualquer tipo de censura. Entretanto, não podemos deixar de apontar para a urgência de uma normativa que assegure a realização de uma eleição livre e equilibrada.

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A democracia só será fortalecida com a ampliação e o respeito integral a toda e qualquer corrente política e a pluralidade de pensamentos e de opiniões, em um ambiente em que sejam assegurados os direitos de defesa, de resposta e ao contraditório. A Netflix deve providências imediatas contra esta tentativa rebaixada de manipulação política. Mais que isso, a Netflix deve um pedido de desculpas ao povo brasileiro.

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