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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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Neymar é humano; desumano é o mercado político da bola

"No fundo, Neymar pede socorro. Há um menino ali que quer existir. Todas essas quedas simuladas em campo, o teatro, o drama, são, na verdade, um sintoma. Ele está sendo caçado não por seus adversários em campo, mas por seus adversários em vida. Neymar se joga porque não sabe como responder a esse assédio subjetivo que sofre diariamente", diz o colunista Gustavo Conde, sobre o futuro de Neymar depois do deboche internacional que lhe arranhou a imagem

Neymar é humano; desumano é o mercado político da bola (Foto: Chris Brunskill/Fantasista)
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A campanha ‘NeymarHumano’, organizada por fãs (aham) é um desses equívocos de conceito que fazem a história da publicidade ser ao menos interessante. Neymar merecia algo melhor, até pela condição financeira que tem para obter produtos publicitários de qualidade.

A campanha faz uma compilação de imagens do jogador. Ora ele está chorando, ora cansado, ora beijando uma criança, ora caído, ora rezando, ora ‘com amigos’, ora vibrando e ora com outros clichês do mundo da hipocrisia. Tudo ‘amarrado’ com um texto precário e vitimista.

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A campanha deixa claro como o nosso jornalismo corporativo é um produto de marketing sem qualidade crítica. Eles replicaram – o Estadão – a campanha com obediência comovente. Triste.

Enquanto Neymar aceitar ser um boneco de marketing, ele vai continuar no topo do deboche internacional - e vai sofrer mais.

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Neymar sofre violência, mas não é nos gramados: é na vida pessoal. Ao terceirizar todas as decisões para o pai (que tem o mesmo nome que ele), ele se torna um não-sujeito, uma peça de marketing, um produto dentro do próprio entorno social.

E os abutres que o cercam – em função do seu notório talento com a bola – vão se tornando cada vez mais carniceiros e sedentos. O estafe de Neymar é seu grande drama. Deixam o sujeito numa bolha e ele aceita. Arrancam um naco do imenso volume de dinheiro que ele fatura com razoável tranquilidade.

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A situação deste menino que não é mais um menino vai piorar se ele continuar sendo tão apático no que diz respeito à sua própria existência. Neymar parece não ter amigos, mas interesses. Tudo aparentemente regado a extravagâncias e deslumbramentos. O pai tem ascendência nessa negação subjetiva que acomete a vida pessoal do filho. Ele parece lhe negar a ação, a passagem básica ao simbólico.

Talvez, seja por isso que Neymar se aproximou e se deixou tirar fotos com Aécio Neves. O anulamento de sua soberania de ação é tal, que qualquer assédio demagógico mais invasivo e destituído de conteúdo pode lhe tomar a rotina com facilidade.

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Neymar precisaria de um bom psicanalista. Mas se o psicanalista for indicado e remunerado pelo pai, danou-se. Vai dizer o que o pai quiser, não o que o filho precisa ouvir (que é: afinal, quem é ‘você’?).

Neymar precisa aprender a ‘falar’. Seria bom se ele escrevesse, se ele investigasse a história de grandes desportistas que souberam se posicionar por conta própria, como Muhammad Ali ou Jesse Owens, por exemplo.

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Responsabilidade não é algo que se compra. Sentido de humanidade, tampouco. Neymar deveria lutar contra o racismo, afinal ele é negro. Deveria combater a homofobia, a exclusão social, a violência contra a mulher, enfim, ter uma agenda digna de um grande jogador com vida própria.

No fundo, Neymar pede socorro. Há um menino ali que quer existir. Todas essas quedas simuladas em campo, o teatro, o drama, são, na verdade, um sintoma. Ele está sendo caçado não por seus adversários em campo, mas por seus adversários em vida. Neymar se joga porque não sabe como responder a esse assédio subjetivo que sofre diariamente.

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O assédio é tão invasivo, tão ‘bem amarrado’, que Neymar, certamente, tem a percepção de que está sendo protegido. É uma variante da Síndrome de Estocolmo: todos se apressam a tomar a frente da defesa de alguém que, no fundo, está sendo impedido de construir sua própria defesa.

Um drama a vida desse ‘menino’. Ele merecia algo melhor. 

 

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