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Hélio Rocha

Repórter de meio ambiente e direitos sociais, colaborador do 247

119 artigos

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No Brasil, já se mata como numa ditadura

As últimas mortes foram de dois líderes indígenas do povo Guajajara executados no Maranhão. Especialmente, os responsáveis são chefes de estruturas de poder consolidadas nas regiões remotas do país, que atacam militantes de causas diversas que enfrentam, indefesos, uma rede de milícias regionais consolidadas

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Desde o fim do ano passado, quando começou essa tragédia brasileira chamada Governo Bolsonaro,que, por sua vez, já era extensão do Golpe de Estado perpetrado contra a presidente Dilma Rousseff (PT, 2011-2016), dezenas de pessoas já morreram nas cidades e nos campos, todas frutos de desavenças políticas. As últimas foram dois líderes indígenas do povo Guajajara executados no Maranhão. Especialmente, os responsáveis são chefes de estruturas de poder consolidadas nas regiões remotas do país, que atacam militantes de causas diversas que enfrentam, indefesos, uma rede de milícias regionais consolidadas já há muitos anos, mas empoderadas e legitimadas pelo atual Governo.

No entanto, o mesmo se passa nas regiões urbanas, onde os mais pobres e os líderes populares sãoatacados diuturnamente e, em alguns casos, mortos. Mestre Moa do Katendé e Marielle Franco são sua expressão mais conhecida, mas aí podem estar incluídos os jovens mortos pelo abuso policial durante o baile funk na favela de Paraisópolis, em São Paulo.

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A tragéda brasileira ceifa vidas tal qual uma ditadura latinoamericana do final do século XX, dentreelas a nossa mesma. A questão é que a população, e mesmo a sua fração mais esclarecida, ainda não se deu conta do tamanho desse mal, visto que a sequência de pessoas brutalmente assassinadas não têm no Estado o seu único executor. Talvez, esse novo modelo de Governo autoritário se estabeleça sobre essa base, fluida porém imperceptível, ao invés de sólida e ostensivamente repressora. Afinal, seguimos oficialmente livres para nos expressarmos e fazermos oposição ao status quo, até que lhe sejamos uma real ameaça. Extraoficialmente, porém, a morte, diluída em seus mais diversos autores, está legitimada se for em prol do regime.

Desde que existe a disputa de poder e, em especial, a luta de classes, o sujeito opressor (em Marx, aburguesia, mas ao longo do século XX o conceito sendo lapidado para incluir dominações simbólicas como o homem sobre a mulher, o branco sobre negros e indígenas, o cristão contra outras denominações religiosas, o paradigma heteronormativo contra outras identidades de gênero etc) tem de se reinventar toda vez que sai da invisibilidade do simbólico e passa ao real, sendo percebido e refutado pela sociedade.

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Assim, formas naturalizadas e legitimadas de exercício do poder caíram ou foram atenuadas aolongo dos séculos, como a supremacia branca, a exploração do trabalho assalariado, o cerceamento dos direitos da mulher e, politicamente, as diversas organizações do espaço político que lhes sustentavam: as repúblicas burguesas restritivas dos séculos XIX e início do XX, os regimes autoritários coloniais, o fascismo, a ditaduras militares etc. A seu tempo, todas tiveram seu verniz de legalidade, que pela extensão do texto não cabem ser refletidas aqui, mas talvez voltemos a tratar delas um dia. Todavia, igualmente a seu tempo, todas caíram e a opressão teve de tomar outra forma de se organizar politicamente para se perpetuar.

O que importa é que, agora, um sistema se impõe em que, utilizando-se de redes sociais para falardiretamente com seu grupo de apoiadores, um presidente eleito com base uma fraude eleitoral, e com discurso de ódio às mais diversas divergências de seu projeto de Governo, alimenta e ao mesmo tempo é sustentado por uma rede amorfa de indivíduos organizados para repudiar o politicamente diferente. E, aí, pouco importam as ferramentas utilizadas para neutralizar o inimigo, desde que ele seja silenciado. Essa forma fluida de organizar a repressão, líquida, como diria Zygmunt Bauman, é o retrato do que o próprio pensador diagnosticou sobre a sociedade contemporânea, capilarizando-se nas relações pessoais e mostrando agora a sua face autoritária e - por que não? - fascista.

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Apenas em perspectiva podemos definir e dar nome aos momentos históricos e às estruturas que osconstruíram. Se o futuro dirá que essa foi uma forma de fascismo, ainda não sabemos. Sabemos, sim, que embora as ferramentas sejam diferentes dos regimes assassinos dos anos 1940 e 1970 do século XX, os resultados podem se tornar os mesmos. Calcule-se que, a seguir por 20 anos o número de homicídios políticos contados desde 2016, teremos superados os números oficiais do regime militar de 1964-1985.

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