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Roberto Bueno

Professor universitário, doutor em Filosofia do Direito (UFPR) e mestre em Filosofia (Universidade Federal do Ceará / UFC)

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Nova ordem fora da ordem: tudo é (des)ordem

Matando e derretendo, fundindo e escarnecendo, prendendo e fuzilando, isto é a ordem e progresso de país em pleno regresso, de plano, assim, ordenando periodicamente fazê-lo de vinte em vinte anos. Seu progresso é sem progresso, fora de ordem mas, declaradamente, sob a ordem. Isto é apenas a nova (des)ordem

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Matando e derretendo, fundindo e escarnecendo, prendendo e fuzilando, isto é a ordem e progresso de país em pleno regresso, de plano, assim, ordenando periodicamente fazê-lo de vinte em vinte anos. Seu progresso é sem progresso, fora de ordem mas, declaradamente, sob a ordem. Isto é apenas a nova (des)ordem. Ordem e desordem se mesclam e entrelaçam em um dueto suingado infernal, apontando o rumo da decomposição e da desnutrição geral. A ordem vislumbra o vapor barato, que serão evaporados logo ali quando preciso, assim reconhecidos por Caetano Veloso que no mundo real não passam de mero serviçal.

A (des)ordem objetiva apunhalar o chefe comunitário do tráfico, mas este é também um mero serviçal, de escala mais alta, mas todavia um serviçal do real narcotraficante que enxerga o fulgurante horizonte atlântico desde a Atlântica, olhando lá de cima o inferno que coordena lá embaixo, sob o Cristo Redentor a mal abençoar a sua íntima lama obscura. Esta a intensidade da ordem que quer derreter, fundir e escarnecer. Estão as multidões sob a ruína da construção de Caetano que apenas parece ser construção. Não é, e já não há projetos ou tijolos empilhados para as escolas, despartidarizadas sem partido prévio, mas sim apenas militarização realizada pelo partido verde-oliva. Sob eles, a renovada ordem unida, sem progresso possível e todo regresso admissível para as almas que devem empenhar-se heroicamente para sobreviver a esta ordem. Não ocorrerá se não for uma popular ordem, unida. Desunida, encontrará a desconstrução, ruína aberta, ofensa certa, demolição imediata. O fogo queima rápido, o oxigênio se esgota, o tempo de fuga é curto, reagir será viver.

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As ruas estão assim, as casas e as vidas, tudo em demolição, nenhuma engenharia, tudo dinamitação. As avenidas estão mesmo assim, tudo ruínas, como os gabinetes de ordenação, tudo invasão, ocupação, apropriação, povo excluído de um projeto popular de nação e soberania em outras mãos. Nada mais sob o sol pode ser esperança enquanto tudo for desunião, tudo sob a noite será a mais densa escuridão. Tudo descola da retina, tudo afasta de nossa esperança na menina, e nos meninos, pois a fome que lhes invade, a mim abate e destrói, tanto nele o estômago e o futuro, como a mim o presente e a moralidade.

Sou tão débil e fraco em aparente resistência como estes meninos e meninas destruídos, tudo no mesmo instante e com a mesma voracidade, mas neles se vê e testemunha, tantos com indiferença, sarcasmo e insano sadismo, os seus corpos caídos, carnes amassadas prontas para serem devoradas, já contaminadas pelo vício contraído. As ruas estão assim, nenhuma engenharia, tudo indiferença e dinamitação. Agora sobre crianças, homens e mulheres, a massa, e também os mais velhos, é sobre eles que o sistema atira as suas bombas, não mais sobre as bancas de jornais em dezembros quentes em que o sol também mal se reparte.

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Tudo à vista, mas eu já não, nos dinamitam a todos e implodem por dentro, restringem militarmente sem aparência da farda à rua, mas com o tacape articulado como se à nossa segurança servisse, ao menos enquanto resistência não houver. Crua é a vida de meninos e meninas, a minha, vestida, também compartilha crueza. O trânsito de suas vidas nuas não é sobre o asfalto quente, senão sob extorsão existencial, sob o olhar direto e discriminador destas milhões de vidas secas, que estão sob a nova (des)ordem sem progresso, articuladora de eficaz domínio. Estas crianças estão mesmo sob o cenário de Caetano cujo canto anuncia “[...] o cano da pistola / Que as crianças mordem / Reflete todas as cores / Da paisagem da cidade / Que é muito mais bonita / E muito mais intensa / Do que no cartão postal...”, e que beleza atroz, que consome aos Ulisses não amarrados que contemplam estas falsas sereias.

Vida nua, nada há fora da (nova) (des)ordem quando as crianças carregam pistolas ou estas lhes são colocadas à têmpora, pois esta é a cor e a lógica da (nova) (des)ordem. Esta é a paisagem da nova cidade, urbe desurbanizada, desumanizada. Mas esta não é uma desordem na nova ordem, pois não há violência imprevista ou indesejável na violação dos corpos dos pequenos, dos indígenas, nem das mulheres ou idosos, ou de travestis, de quem extraem até os seus corações, insatisfeitos bárbaros com arrebatar-lhes as vidas.

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Mas não haveria esta nova (des)ordem sem as Armas que asseguram a sua condição de expansão de um regime biopolítico que mata ao retirar o recurso à saúde. As armas são a condição da nova (des)ordem que glorifica a violência expressa na disseminação da tessitura do mal. Não há real ordem ou novidade nesta (des)ordem, da qual tudo que emana é o vetusto, tudo que exala é a insuportável mescla de cadaverina com ácido butírico. Este é o singular odor da nova (des)ordem, cuja regra é a violência, o violar, o vilipendiar. Matar já não lhe basta. Para os bárbaros habitantes desta nova (des)ordem é preciso ir além, muito além da agressão e esfacelamento dos corpos de suas vítimas, sim, é preciso a decomposição do humano. Esta é a emergente (des)ordem em que o luto é imperativo da existência realizando o trânsito de substantivo à verbo para vencer esta terra em transe.

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