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Paulo Henrique Arantes

Jornalista há quase quatro décadas, é autor de “Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil”

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Nunes Marques, o ministro-biscoito

Pergunta-se se Kássio Nunes Marques vota ao arrepio do Direito para servir a Jair Bolsonaro ou serve a Jair Bolsonaro porque costuma votar ao arrepio do Direito

Jair Bolsonaro e Kassio Nunes Marques (Foto: Marcos Corrêa/PR)
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Perguntava-se há coisa de 40 anos se aquele biscoito vendia mais porque estava sempre fresquinho ou estava sempre fresquinho porque vendia mais. A questão encafifou o público da televisão, que ainda não dispunha de canais por assinatura. Como tudo na vida, as grandes indagações evoluem e hoje temos até ministros do Supremo Tribunal Federal a motivá-las, em detrimento da publicidade de alimentos. 

Pergunta-se se Kássio Nunes Marques vota ao arrepio do Direito para servir a Jair Bolsonaro ou serve a Jair Bolsonaro porque costuma votar ao arrepio do Direito. Decididamente, de comunicação, fake news e quejandos o ministro não entende nada. Se entende, disfarça-se bem de ignorante do tema.

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Na famigerada decisão em que devolveu o mandato parlamentar a Fernando Francischini, Marques mostrou nada saber sobre plataformas digitais, meios de comunicação tradicionais e a maneira como as fake news repercutem. Para o ministro-biscoito, seria desproporcional equiparar WhatsApp, Facebook e Instagram – redes usadas pelo deputado bolsonarista – com jornais, rádios e TVs, daí a fazer vista grossa às denúncias sem prova de Francischini.

Em primeiro lugar, mentiras e boatos existem desde sempre, bem como sua disseminação – é claro que nunca tiveram o acabamento formal e as estratégias de agora.  Ocorre que a comunicação digital, especialmente nas redes sociais e aplicativos de mensagem, opera mediante um poder de multiplicação inigualável. 

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Assim explica a jornalista Cláudia Malinverni, pesquisadora do Instituto de Saúde do Estado de São Paulo e que desenvolve um amplo estudo sobre as mazelas da comunicação no Brasil: “O pesquisador dinamarquês Stig Hjarvard lembra que no intercâmbio (nas redes e nos aplicativos de mensagem) as informações podem estar disponíveis de uma pessoa para outras e destas para muitas outras, em vários níveis de acesso e restrição. Imaginemos a fala de um virologista sobre o uso experimental da cloroquina para tratar Covid-19. Essa fala, eventualmente enviada para um grupo de expertos no Whatsapp pode parecer protegida, mas não há qualquer garantia de proteção, pois a tecnologia permite seu compartilhamento por qualquer um dos participantes do grupo, que potencialmente faz com que ela chegue para pessoas de fora do grupo e dessas para tantas outras, infinitamente, até viralizar e alcançar milhares de pessoas”.

Hjavard chama essa interação de “midiatização da vida cotidiana”. Ou seja, como explicou Maliverni à coluna, essas novas mídias estão ao mesmo tempo presentes em instituições com força própria - escolas, igrejas, polícias - e em nossos ambientes mais íntimos, sejam familiares, profissionais ou de lazer.

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O erro grotesco contido na decisão de Nunes Marques decorre, dentre outros equívocos, segundo Malinverni, do desconhecimento dele de que “a notícia, hoje, é também resultado da interação da mensagem encapsulada como notícia (de jornal, TV, rádio, internet) com os receptores, mais independentes e cooperativos, e, por isso, incontroláveis”. Nesse sentido, sabe-se o quanto a própria imprensa profissional alimenta-se dessas mensagens.

Nunes Marques aliviou para Franceschini porque o deputado soltou fake news pelo Facebook e não pela Rede Globo ou pela Folha de S. Paulo, em síntese.

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A jornalista e pesquisadora Cláudia Malinverni tem muito a ensinar ao magistrado-biscoito, assim como ensinou ao colunista, com as seguintes palavras: 

“Vivemos em uma sociedade em rede. Uma informação ou desinformação produzida em um suporte (áudio, vídeo ou texto, frequentemente combinados) pode ser compartilhada e disseminada sem praticamente nenhum obstáculo, numa velocidade e escalas inéditas, atingindo uma audiência exponencial, variada, heterogênea, múltipla. Por causa dessa capacidade técnica de transitar entre as diferentes redes, praticamente em tempo real, atinge-se ao mesmo tempo o tio do ‘Zap’, o filho adolescente no Instagram, a mãe no Facebook, o polemista no Twitter, o influencer do Youtube.”

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