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Leo de Brito

Deputado federal pelo PT/AC

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O AI 5 da educação no Brasil

Na contramão da história, os defensores do "Escola sem Partido" se perdem num delírio conservador que faz da sala de aula um difusor de ideologias. Nesse embalo, eles comprometem a pluralidade de ideias e incentivam, em nome da moral e da ética, discriminações

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Em 13 de dezembro de 1968, o general Artur da Costa e Silva jogou a última pá de cal sobre a democracia brasileira com o Ato Institucional 5 (AI-5). Este instrumento permitiu aos golpistas da época decretar a intervenção em estados e municípios, suspender direitos políticos, cassar mandatos, invalidar habeas-corpus e confiscar bens – tudo "sem as limitações previstas na Constituição".

O AI-5 se ancorou nos "fundamentos e propósitos" lançados pelos articuladores da ditadura militar. Textualmente: "Dar ao País um regime que, atendendo às exigências de um sistema jurídico e político, assegurasse autêntica ordem democrática, baseada na liberdade, no respeito à dignidade da pessoa humana, no combate à subversão e às ideologias contrárias às tradições de nosso povo".

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A marcha a ré engatada pelo governo interino de Michel Temer tende a aproximar o Brasil, cada vez mais, dos patamares (nada) democráticos instituídos pelo golpe de 64. Felizmente, os protestos da sociedade têm conseguido, muitas vezes, brecar este processo.

Na segunda semana de julho, o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Adolfo Sachsida, foi nomeado assessor especial do ministro da Educação interino, Mendonça Filho (DEM), e exonerado 24 horas depois. Sachsida é apoiador ferrenho do movimento "Escola sem Partido", que prega o fim da "doutrinação ideológica" nas salas de aula. Em maio, a mesma pauta foi discutida em encontro entre Mendonça, o ator Alexandre Frota e ativistas do grupo "Revoltados Online", que esteve à frente das manifestações pró-impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

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Curiosamente, o programa autoproclamado 'escola sem partido' é abraçado por partidos políticos que defendem o governo interino de Temer, como o DEM, o PSC e o PSDB. Vale lembrar que ele foi levado ao Legislativo em março do ano passado, com o Projeto de Lei nº 867/2015, do Deputado Izalci (PSDB/DF).

Outros governistas de plantão também defendem o projeto. O deputado tucano Rogério Marinho (PSDB-RN) é autor do PL 1411/2015, que tipifica e estabelece punições para o crime de "assédio ideológico". Essa obsessão dos tucanos em promover a censura em diversos meios é no mínimo curiosa. Quem não lembra do PL 84/1999, de autoria do ex-senador Eduardo Azeredo, apelidado de AI-5 digital, que visava censurar a internet? Esse fantasma ainda ronda o debate legislativo.

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De forma oportunista, em razão da conjuntura sofrível que vivem os partidos no Brasil, o movimento se aproveita para atacar um dos princípios basilares da educação: a liberdade de cátedra. Segundo o próprio site do movimento, em leitura de 13 de julho, a proposta é "descontaminar" o sistema de ensino da "doutrinação" que "a imensa maioria dos educadores promove ou apoia".

Mal comparando, em 68 o ministro do Trabalho, Jarbas Passarinho, reintroduziu o atestado de ideologia como requisito para a escolha dos dirigentes sindicais. Nas palavras do então ministro do Exército, Aurélio de Lira Tavares, o governo precisava ser mais enérgico no combate a "ideias subversivas".

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Para educadores republicanos, como eu, o nome disso é censura. Na contramão da história, os defensores do "Escola sem Partido" se perdem num delírio conservador que faz da sala de aula um difusor de ideologias. Nesse embalo, eles comprometem a pluralidade de ideias e incentivam, em nome da moral e da ética, discriminações por motivos étnicos, culturais, religiosos ou de gênero. Os princípios fundamentais da educação brasileira encontram-se sob forte ataque.

Deliberadamente ou não, o movimento repete o discurso da ditadura, que pregava o combate a "ideologias contrárias às tradições de nosso povo", sem se dar conta da rica diversidade que é a população brasileira. Seus defensores esquecem que toda a opinião é política, inclusive a 'escola sem partido'. O programa se coloca como uma afronta ao professor, visto como subversivo, e à Constituição, que enfatiza a importância do pluralismo de ideias e concepções pedagógicas e da liberdade de pensamento.

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