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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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O alerta de Lula para o adesismo dos manifestos

"Lula não se nega a compartilhar assinaturas com eventuais figurantes, com os milhões de anônimos arrependidos com Bolsonaro, mas se recusa a estar ao lado de expressões do golpismo, com lideranças agora assustadas com o fascismo que ajudaram a criar", diz Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia

Lula (Foto: Ricardo Stuckert)
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Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia 

Os jornais uruguaios deram nas capas, há alguns dias, uma notícia que seria improvável na maior parte do mundo. O presidente Luis Lacalle Pou colocou sua máscara anticoronavírus e foi à casa do seu antecessor.

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Queria conversar com Tabaré Vazquez sobre detalhes da estratégia de combate à pandemia, que coloca o Uruguai entre os países mais bem sucedidos nessa guerra.

Foi um gesto que os uruguaios viram com naturalidade, apesar de Lacalle Pou ter sido eleito com o apoio da extrema direita. O que importava era o significado da atitude: um presidente conservador visitava, menos de três meses depois de assumir, um ex-presidente da esquerda que ficou 15 anos no poder.

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Podem querer saber o que Tabaré teria dito a Lacalle Pou sobre como lidar com a peste. Mas parece que nem isso rendia notícia, porque ambos concordavam em tudo, principalmente em relação ao isolamento social que no Brasil a direita transformou em controvérsia.

O que Lacalle Pou queria dizer com a visita era que fazia o possível para tentar salvar as pessoas e tinha, no que é essencial, a concordância do seu adversário político.

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Lacalle estava falando também para o povo de Tabaré: nós estamos juntos. Acontecia a convergência de políticos que discordam sobre quase tudo, mas concordam em como lidar com a urgência da pandemia.

Só não pensem que Lacalle Pou pode visitar Tabaré em busca de outras afinidades. Eles irão discordar em relação à economia, a políticas sociais, à educação, ao enfrentamento do poder financeiro mundial, às questões agrárias e às prioridades do setor público.

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Mas nessa questão específica do combate à pandemia não se discute que eles estão juntos. É no que concordam.

Trazendo esse dilema para o Brasil, o apelo hoje é para que os democratas se juntem no esforço geral pela salvação das liberdades. Não é uma questão específica, não se trata da pandemia (até porque não haveria consenso), mas da chamada questão maior da democracia.

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É a nossa prioridade, porque a emergência da peste nunca vai unir direita, centro e esquerda. O esforço deve ser para salvar a Constituição de 88 e alertar a Bolsonaro e seus cúmplices que a maioria não concorda com o golpe anunciado.

Está certo e assim deve ser feito de todas as formas possíveis, inclusive por manifestos que agregam a diversidade de nomes, tendências e partidos com o mesmo foco.

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E aqui vale seguir o exemplo inspirador dos uruguaios. Chama-se Frente Ampla, desde os anos 70, a força que juntou setores progressistas para governar.

Para pegar o exemplo dos argentinos, chama-se ‘Todos’ a frente que elegeu Fernández e Cristina. Nenhum desses agrupamentos se chama Frente de Esquerda, como alguns propõem que se defina a resistência no Brasil.

Então, que sejamos amplos e sejamos todos, no sentido de acolher e compartilhar os mesmos projetos progressistas para resistir à extrema direita. Mas que sejam estabelecidos alguns limites, ou estaremos, daqui a pouco, aliados com Aécio Neves e José Serra.

É nesse contexto que deve ser entendida a posição de Lula. O ex-presidente se posiciona como líder de esquerda, não para determinar uma orientação que pretenda ser hegemônica, mas para deixar claro: eu decidi, nessas circunstâncias, não me misturar a ‘todos’ os que assinam manifestos.

Lula se sente constrangido com o apelo para que, em nome da defesa de democracia, sente-se ao lado de quem até bem pouco desprezava a democracia.

Lula não se nega a compartilhar assinaturas com eventuais figurantes, com os milhões de anônimos arrependidos com Bolsonaro, mas se recusa a estar ao lado de expressões do golpismo, com lideranças agora assustadas com o fascismo que ajudaram a criar.

Vamos fazer como uruguaios e argentinos fazem. Vamos definir até onde poderemos ir, para que o nosso ‘todos’ seja amplo, mas não seja nunca marcado pelo adesismo.

Que os líderes dos arrependidos assinem manifestos, no que estão certos, para tentar apagar a tatuagem bolsonarista. A democracia precisa deles. Que retornem à luta.

Mas que fique claro que o conceito de 'todos' deles pode ser abstrato e gasoso. E muito diferente de todos os que resistiram ao golpe contra Dilma e ao encarceramento de Lula.

Todos tão diferentes não precisam nem devem estar assim tão próximos nem tão juntos, nem em manifestos.

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