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Wilson Luiz Muller

Integrante do Coletivo Auditores Fiscais pela Democracia (AFD)

33 artigos

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O assassino semeou pistas para ser descoberto

A arma, a roupa, o álibi, as pessoas que poderia encontrar na saída ou no retorno, tudo ele repassou inúmeras vezes em pensamento, a ponto de virar um filme que se reproduzia automaticamente

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A decisão de matar a mulher que ele considerava um piolho estava tomada. O assassino elaborou um roteiro mental com todos os cuidados que deveria tomar para não ser descoberto. A arma, a roupa, o álibi, as pessoas que poderia encontrar na saída ou no retorno, tudo ele repassou inúmeras vezes em pensamento, a ponto de virar um filme que se reproduzia automaticamente. Enquanto premeditava, a cabeça rodava confusa. Tinha calafrios e sentia o corpo ardendo em febre, ameaça de eclosão de alguma estranha doença.

Morta a mulher-piolho, o assassino, delirante, eufórico, tremendo de febre e de medo, meteu-se na cama, cobriu-se até a cabeça e ficou deitado, imóvel, até o dia seguinte. Ainda sentado na cama, rememorou o seu feito. Não tinha saído tudo conforme planejado, mas o objetivo fora cumprido. O plano era matar apenas a mulher, mas na hora, para não deixar testemunhas, outra pessoa acabou sendo eliminada também. Paciência. 

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Passado o transe febril em que estava metido há algum tempo, o assassino tentou retomar a normalidade da sua vida. Porém, em quase todos os lugares, tinha a impressão de que as outras pessoas estavam sempre tratando de algum tema que remetia à morte da mulher. E por menos razoável que fosse, ele não se continha e entrava a discutir acaloradamente os diversos ângulos relacionados ao crime; ou então acabava endossando a tese de que nada se perdia com a morte da mulher-piolho. Esse comportamento público – diga-se de passagem – não lhe tinha serventia alguma, muito ao  contrário.

A maioria dos interlocutores do assassino discutia o assunto como se estivesse diante de uma  tese acadêmica. A polícia tinha inclusive prendido um suspeito, o qual chegou a confirmar a autoria do assassinato, estória não levada a sério por ninguém do círculo íntimo do grupo de pessoas que se relacionavam com o verdadeiro assassino. De qualquer modo, apesar do sentimento de culpa,  que projetava na psique do assassino um clamor punitivo, tudo parecia correr a contento, não havendo motivos para alarde.

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Um investigador, que participava desses saraus metafísicos, tinha grande conhecimento psicológico sobre o funcionamento de mentes psicopatas. Aproximou-se do assassino fazendo-o crer que admirava a sua inteligência desprovida de sentimentalismos baratos, que era aquele sentimento piegas de compaixão pelas pessoas tidas como inferiores. O assassino tinha pretensões literárias e publicava algumas de suas teses inovadoras. O investigador o estimulava a detalhar as premissas filosóficas dessas teses. Sem se dar conta, o assassino foi revelando, por um processo mental inconsciente de auto-purgação, uma sequência de pistas que deram ao investigador a convicção de que estava mesmo diante do assassino da mulher. 

O fato que tinha despertado a atenção inicial do investigador foi um texto  escrito pelo suspeito em que este afirmava que a certas pessoas era permitido não se deter diante de nada, porque elas estavam predestinadas a fazer coisas grandes; tudo lhes era permitido. O astuto investigador disse ao assassino, depois de descobrir a verdade: “um homem destes não se contenta com isso”. Ou seja, quem defendia que a morte de outrem era justificável para o bem maior do que se considerava portador de desígnios superiores, não iria se contentar apenas em falar; iria se sentir autorizado, ou melhor, compelido a realizar o seu pensamento.

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Mais que isso não se deve falar, pois poderia estragar a fascinante leitura do romance do escritor russo Fiodor Dostoiévski, “Crime e Castigo”, no qual a trama, resenhada acima, é desenvolvida com a genialidade típica dos antigos escritores russos.

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