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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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O bolsonarismo é o nosso jornalismo no espelho

"O povo pobre e trabalhador aguarda bovinamente ser responsabilizado pelo fosso social profundo a que estamos sendo levados. Até a esquerda 'autoidentificada' prepara essa interpretação fácil, delicadamente macetada e posta no forno como pão da conciliação autocrítica", diz o colunista Gustavo Conde, do Jornalistas Pela Democracia

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Por Gustavo Conde, para o Jornalistas Pela Democracia - A imprensa está que nem pinto no lixo (com todo respeito aos pintos e aos lixos). 

Ela quis o pior presidente da face da Terra para voltar a parecer pura e honesta. 

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Essas matérias supostamente técnicas da Folha de S. Paulo sobre Dallagnol e Moro são apenas a fachada garantista que assegura um último suspiro de credibilidade. 

Merecemos. Todos. Para quem sabe como Brasil se formou é até pouco. 

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Tudo no Brasil se resolve neste mundo que sempre foi à parte também chamado de jornalismo político de bastidor. 

Essa bolha de realidade paralela foi furada por dois agentes fora do sistema de produção industrial de mentiras: a internet e Lula. 

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Antes de soluçarem ao ler "internet" - Lula é fácil de entender, admito - e mergulharem no clichê das redes sociais como origem de todo mal produzido pelo universo, um adendo. 

Esse colapso ora vigente no mundo da informação apenas mostra o quanto esse "mundo da informação" é estruturado todo ele com mentiras, blefes e idealismos liberais - sic - que versam sobre neutralidade e produção do contraditório. 

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O eixo conceitual do jornalismo, atual e obsoleto, é tão infame que nem resvala mais na palavra "contraditório". 

Eles certamente acham que é uma palavra de esquerda. 

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Em certo sentido, o jornalismo brasileiro subdesenvolvido se parece muito com o bolsonarismo. 

Eles criaram um Brasil paralelo durante séculos e promoveram um dos maiores genocídios cadenciados da humanidade, com requintes de crueldade, fetichismo e oportunismo. 

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Quem não se lembra de William Bonner e Fátima Bernardes narrando em tons de cinza a fome no nordeste ao final melancólico do governo FHC?

Não admira que a nossa classe média seja esse espetáculo de indigência intelectual, subserviência cultural e truculência classista. 

Mais que subproduto de uma elite apodrecida e carcomida pelo próprio egoísmo e cegueira, Bolsonaro é filhote desta nossa imprensa. Ele é seu grande castigo, seu grande espelho, sua humilhação final. 

Ver a imprensa brasileira cobrir o governo Bolsonaro - sic - é vê-la encurralada no próprio emaranhado de mentiras cultivado há décadas com esmero maternal. 

Essa imprensa, tão hipócrita quando falimentar, ensaia o divórcio conceitual do governo Bolsonaro como ensaiou seu litígio fake com a ditadura assassina, empresarial-civil-midiático-militar. 

Ela apenas se movimentou de maneira mais precoce - precipitada que é, temerosa que foi e acovardada que sempre será - em função do fracasso inacreditável que é Bolsonaro e o pastiche militar que o cerca. 

Reiterando: este arremedo de jornalismo subdesenvolvido que é a imprensa brasileira quis um vilão extremo no poder para tentar se reconectar com alguma cifra de história, posando de 'boazinha' e crítica.

Eles sabem do serviço sujo que prestaram à civilização (não só ao Brasil) com a criminalização desvairada dirigida aos governos mais democráticos que este país já teve, os governos populares, soberanos que garantiram a todo custo a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa. 

É mais do que óbvio que eles estão envergonhados. 

O problema é que a vergonha é um sentimento de difícil manifestação pública. Imprensa e eleitores de Bolsonaro estão com vergonha mas como eles também padecem de déficit de caráter, a responsabilidade será terceirizada como sói acontecer aos próceres da covardia e da demência forjada. 

O povo pobre e trabalhador aguarda bovinamente ser responsabilizado pelo fosso social profundo a que estamos sendo levados. Até a esquerda "autoidentificada" prepara essa interpretação fácil, delicadamente macetada e posta no forno como pão da conciliação autocrítica. 

Dói - de maneira lancinante como uma fisgada no membro perdido - saber que o Brasil precisou de um Bolsonaro para expor a podridão atroz de sua formação enquanto nação. 

Bolsonaro é o espelho mais bem acabado da nossa imprensa, da nossa elite e da nossa classe média. O povo, que o rechaçou (lembremos do nordeste, nossa reserva ética e civilizatória), não vê seu reflexo em espelho tão polido como seus algozes históricos - o patronato putrefato aqui escarrado pelo sistema colonial. 

Para o povo trabalhador, que não foge à luta e tem um particular gozo em assumir as responsabilidades do patrão, Bolsonaro é apenas um espelho daquilo que temos de pior. 

Todos nós temos o mal dentro de si. É esse mal que vemos encarnado em nosso infeliz horizonte. Que essa responsabilidade também seja nossa, pois, como expiação histórica. 

E que ironia. Pensar que há pouco menos de 10 anos tínhamos o melhor de si e da humanidade governando de maneira soberana, transbordando amor e desfilando o mundo como o mais apaixonante chefe de Estado já visto pelos corredores diplomáticos planeta afora. 

Era o que tínhamos - e temos - de melhor, a encarnação meridiana do povo, um ente solar, um depositário de perdão, solidariedade e inteligência. 

O povo não mais representa o Brasil neste momento histórico, lamentavelmente. Mas ele é forte, mais numeroso e, da sua prisão política executada à fórceps pelo sistema da vingança, ele acumula a energia e o conhecimento necessários para re-estabelecer a verdade e nos fazer sonhar de novo, sem essa mania terrível, que é o medo de ser feliz.

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