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Evilázio Gonzaga Alves

Jornalista, publicitário e especialista em marketing e comunicação digital

48 artigos

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O Brasil acaba com Bolsonaro, ou Bolsonaro acaba com o Brasil

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Golpe à vista

Bolsonaro apareceu neste dia 18 de janeiro, depois de um longo e inédito silêncio nas redes sociais, com o semblante visivelmente abatido. Depois de quase cometer um ato falho e criticar o medicamento do Butantan, o presidente ligado a milicianos declamou o novo discurso oficial: “a vacina não é de nenhum estado, mas do Brasil”.

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Porém, Bolsonaro é Bolsonaro e, logo depois, em outro encontro com a claque de policiais à paisana e outros desocupados que o acompanham, ele não conseguiu conter sua língua e acabou dando a declaração mais importante do ano. Com todas as letras o pior presidente da história do Brasil revelou todo o seu desprezo pela democracia, a rejeição que ele cultiva contra a Constituição e ameaçou o país com uma ditadura militar. 

Suas palavras não deixam dúvida: “quem decide se um povo vai viver democracia ou ditadura são as forças armadas”.

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Três dias depois a ameaça nenhuma autoridade do comando das forças armadas criticou ou procurou amenizar a declaração do presidente amigo de milicianos. 

O breve discurso expressa com absoluta clareza a visão de mundo do ex-tenente, promovido a capitão, para que ele não criasse mais tumultos na sua expulsão do exército.

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Desde antes de eleito Bolsonaro e seus seguidores mais próximos se posicionam contra a democracia e são apologistas da violência, como método de disputa do poder. Os gabinetes parlamentares da família nunca se preocuparam em aprovar leis em benefício do país. Sempre foram uma espécie de esconderijo de milicianos. A prática parlamentar dos Bolsonaro sempre foi votar contra os interesses populares – como no caso dos direitos das domésticas, que eles foram contra, visitar cerimônias da baixa oficialidade das forças armadas e das polícias estaduais, operar rachadinhas e vender barato (no preço do baixíssimo clero) votos nos parlamentos, como foi o caso no impeachment/golpe contra Dilma. 

Antes e, principalmente, durante a campanha eleitoral foi notória a presença de policiais e baixos escalões das forças armadas nas claques que o recebiam nas suas viagens pelo Brasil. Já naquela época os indícios são muito fortes em apontar para o embrião de uma organização armada nacional, ainda desarticulada. 

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ALTA OFICIALIDADE FERE A CONSTITUIÇÃO

Os oficiais de alta patente das Forças Armadas embarcaram na canoa bolsonarista, quando perceberam a possibilidade da vitória do antes desprezado tenente expulso, que nas palavras de Ernesto Geisel, era um “mau militar”.

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Tampando o nariz, o alto escalão das forças armadas, principalmente os oficiais do exército, perceberam a possibilidade de volta ao poder, através do “mau militar”. Foi implementada, a partir da decisão, um plano de cooptação de Bolsonaro, que incluiu sessões de terapia, sabe-se lá de que espécie. 

Com promessas de ambos os lados (e eventualmente muito fingimento), foi estabelecida uma espécie de aliança entre a alta oficialidade das Forças Armadas e Bolsonaro. 

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Contando inclusive com a participação do seu mais alto posto, o Comandante do Exército, General Vilas Boas, os militares se empenharam ativamente na campanha do amigo dos milicianos. 

A participação da alta oficialidade na campanha Bolsonaro foi uma continuação de uma série de atitudes contra a constituição cometidos pelos altos postos das três armas – no episódio do golpe contra Dilma houve quebra de lealdade com a comandante em chefe das Forças Armadas. 

A adesão do comando das Forças Armadas teve um peso tão grande na eleição do bolsonarismo, quanto o apoio explícito ou dissimulado e a omissão de setores da sociedade brasileira, como os políticos de centro esquerda, liberais, grande parte do aparato judiciário, a maioria do empresariado de todas as áreas e a mídia tradicional que mentiu ao dizer que Bolsonaro e Haddad eram a mesma coisa.

QUEM SÃO OS MILITARES       

Os oficiais de hoje são absolutamente distintos da geração que promoveu o golpe de 1964. A quartelada (com apoio de civis) dos anos 1960 foi conduzida por militares semifascistas, autoritários e violentos, porém nacionalistas e desenvolvimentistas.

É bom situar que o bolsonarismo não é fascista nem protofascista, pois não é nacionalista nem desenvolvimentista. Os bolsonaristas são violentos, autoritários e antidemocráticos, porém fingem ser patriotas para dissimular, não se importam com o desenvolvimento e desprezam a ciência. 

O grupo político liderado por Bolsonaro tem muito mais a ver com as quadrilhas criminosas, que chegaram ao poder em seus países, como os Somoza, na Nicarágua; os Batistas, em Cuba; ou a família Trujillo, na República Dominicana.  

Por seu lado, os militares golpistas do século passado eram as últimas gerações formadas pela missão francesa, que chegou ao Brasil, para modernizar o exército em 1919. Os oficiais franceses, principais heróis da vitória aliada na Primeira Guerra Mundial, eram positivistas, uma corrente filosófica neoplatônica que prega a ordem, o progresso, a eficiência, a ciência e o nacionalismo. 

A frase da bandeira do Brasil vem daí, revelando que a influência positivista nas forças armadas já vinha desde o início da República.

A Missão Francesa saiu do país apenas em 1940, após a derrota da França pela Alemanha.  

Os militares formados pelos mestres franceses estiveram presentes, para o bem e o mal, nos principais eventos da maior parte do século XX, desde a Marcha dos Tementes em Copacabana, em 1922; passando pela revolução republicana gaúcha; a Coluna Prestes, a Revolução de 30; o levante paulista de 1932; a tentativa de rebelião comunista de 1935; a derrota do integralismo; a participação do Brasil na Segunda Guerra (da qual muitos altos oficiais tentaram escapar à convocação); a remoção de Getúlio; a tentativa de impedir a posse de JK.; até o golpe de 64 (entre outros episódios).

As turmas formadas pela missão francesa prepararam oficiais de diferentes matizes políticos (indo da extrema esquerda, até a extrema direita fascista), porém a grande maioria (senão a totalidade) era composta por nacionalistas e desenvolvimentista, com profunda convicção de que o Brasil deveria avançar na educação, ciência e tecnologia, para ocupar em lugar entre as grandes nações do planeta.

As gerações formadas entre 1919 e 1940, assim como aqueles que ainda estudaram sob os métodos franceses, criaram ou participaram do estabelecimento das principais escolas técnicas militares do país, como o ITA, Instituto Tecnológico de Aeronáutica, o IME, Instituto Militar de Engenharia, e o IPQM, o Instituto de Pesquisas da Marinha. 

Estudantes formados nestas escolas e outras tiveram importante participação na criação das principais estatais brasileiras, como Petrobras, Eletrobras, Furnas, Embratel, Embraer e Nuclebras. O almirante Othon Luiz Pinheiro, principal responsável pelo domínio da tecnologia nuclear pelo Brasil é um rebento tardio das gerações de 22. 

Em qualquer lugar do mundo, o almirante Othon, um brilhante físico nuclear, seria considerado um herói. No Brasil, ele foi preso pela Lavajato – para variar, sem provas.

Os militares de hoje não são desta estirpe. A partir da segunda metade do século XX, a oficialidade brasileira passou a ser adestrada (a melhor palavra é esta, para diferenciar da formação, que foi a característica dos franceses) pelos militares estadunidenses.

FORMAÇÃO SUBSTITUÍDA PELO ADESTRAMENTO

Diferente dos franceses, os militares dos EUA limitaram o adestramento dos militares brasileiros apenas às questões técnicas (ainda assim em nível rebaixado), tendo em paralelo um poderoso esquema de cooptação. Desta forma, as forças armadas brasileiras atualmente são preparadas para atuarem como forças auxiliares do império informal dos EUA – em um modelo semelhante ao utilizado pelos impérios Romano e Britânico, nos seus protetorados. 

Com isso, na medida em que os últimos remanescentes do espírito francês foram se afastando, as forças armadas brasileiras perdiam seu élan nacionalista e qualquer desejo de se fortalecerem tecnicamente até o estado da arte. Consciente ou inconscientemente o militar brasileiro padrão da atualidade pensa que não há necessidade de modernização verdadeira ou preparo em alto padrão, porque as guerras serão lutadas pelos Estados Unidos. 

Lula tentou mudar as coisas, entretanto foi de forma apenas parcial: o ex-presidente, com assessoria de uma equipe liderada pelo professor Mangabeira Unger – um brasileiro que dá aulas em Harvard –, estabeleceu um programa de modernização das forças armadas, no bojo de um projeto de planejamento geoestratégico, consolidado no Livro Branco de Defesa.

O planejamento se concentrou no preparo técnico, na modernização tecnológica e no domínio nacional da indústria de defesa, porém cometeu o lapso de não influenciar os programas de formação dos oficiais.   

Todos os planos de modernização da defesa brasileira partem deste trabalho. Infelizmente, atualmente muitos projetos de avanço tecnológico e autonomia industrial foram extintos, como o a pesquisa, desenvolvimento e produção de misseis avançados, tocados por empresas controladas pela Odebrecht; e os que sobraram andam a passos de tartaruga. Por exemplo, o submarino atômico corre sério risco de ser apenas um sonho; os caças Gripen 39E serão comprados, por força de um contrato internacional, porém a transferência de tecnologia está sendo deixada de lado; a aquisição de três mil blindados Guarani, de fabricação nacional, só prossegue com extrema lentidão (não devendo atingir o número pretendido) e a adoção do fuzil de assalto concebido e produzido pela IMBEL está sob risco. 

Isto para citar apenas alguns exemplos.

O ambicioso projeto de autonomia industrial e modernização das forças armadas corre riscos, pois os oficiais brasileiros preferiram voltar ao velho hábito de comprar equipamentos obsoletos, retirados dos depósitos de sucata militar dos Estados Unidos. Um exemplo foi a aquisição dos M 113, um velho blindado dos anos 1960, que foi criticado até mesmo quando foi lançado. Utilizado na Guerra do Vietnam, o veículo era apelidado pelas tropas estadunidenses como fogareiro móvel, tanta era a facilidade de explodir e pegar fogo, mesmo quando atingido por projéteis de baixo caibre.

Este é o perfil dos militares que apoiam o bolsonarismo. 

BOLSONARISMO VIVE MAIOR CRISE

Ao completar pouco mais de dois anos da posse do pior presidente da história brasileira, o cenário é de absoluto desgaste do governo bolsonarista. 

Os militares que participam do governo, também são tragados pela corrosão da imagem que atinge todo o governo, que é agravada pela desastrosa condução do Ministério da Saúde, pelo general da ativa Eduardo Pazuello. 

Bolsonaro e seus ministros erraram tudo em que se meteram e jogaram o país na maior crise de sua história. É a tempestade perfeita: crise econômica, crise política, crise social, crise sanitária, crise cultural, crise na educação, crise de credibilidade, crise nas relações internacionais. 

As pesquisas indicam que cresce a impaciência da população com relação ao governo desastrado. 

Os grupos mais ricos também vão deixando de apoiar o miliciano que ajudaram a eleger, porque estão perdendo dinheiro e prestígio internacional. 

Até mesmo os setores do capitalismo que mais se entusiasmaram com Bolsonaro, como o agronegócio, a saúde privada e o capital financeiro vão abandonando aos poucos o tenente, que tentou explodir bombas nos quarteis. 

O bolsonarismo somente se mantém intacto nos seus núcleos duros. Com o fim da ajuda emergencial, a fuga de indústrias, o aumento do desemprego, o aperto financeiro crescente da classe média, a inflação em alta sobre a economia popular e o desastre sanitário a popularidade do amigo dos milicianos deve desabar – aposto que no primeiro semestre cai abaixo de 25%.

Além das questões internas, a derrota de Trump determinou o fechamento do cerco internacional sobre o governo bolsonarista. O Brasil é um pária internacional, o que deve agravar o quadro econômico e sanitário. 

A tempestade perfeita se aproxima de Bolsonaro. Em um ambiente democrático normal, mesmo que nos limites do sistema político liberal, bastaria aos adversários do bolsonarismo deixarem o governo ir se desgastando (ou sangrando, como gostam os tucanos), até uma inevitável derrota eleitoral, em 2022.

O BOLSONARISMO ARMA SEU EXÉRCITO PARTICULAR

Porém, o ato falho ou a fala intencional de Bolsonaro, que colocou o componente armado novamente na política, fazem soar os todos alarmes.

A ameaça de golpe militar deste início de 2021 não foi a primeira tentativa de tomada violenta do poder. Ele já havia tentado uma solução de força, em junho de 2020, quando a recusa das forças armadas de participarem da aventura abortou a ideia. 

O amigo dos milicianos, no entanto não desistiu. Sem confiar nos oficiais das forças armadas, o bolsonarismo se articula com as polícias militares e as baixas patentes das três armas (estimulando a quebra da hierarquia e da disciplina), além das milicias, os clubes de tiros, os empregados das empresas de segurança e os bandos de jagunços das quadrilhas disfarçadas de empresas que corroem o meio-ambiente. 

É um exército considerável. Só computando as polícias militares e civis dos estados, o contingente é de pouco mais de 500 mil efetivos, de acordo com o IBGE – para comparar as três armas contam com uma força total 334 mil tropas, sendo cerca de 70% recrutas temporários mal treinados. Existem ainda 516 clubes de tiro (dados Folha de SP) legalizados no país (há inúmeros sem clandestinos), que são verdadeiras escolas de guerra; e 2600 empresas de segurança privada, com 173 mil profissionais treinados para o uso de armas e lutas corporais (dados FENAVIST). É preciso contar ainda as polícias municipais, corporação presente em 247 cidades, segundo o Ministério da Justiça. Além das organizações legais, devem ser contados também as milicias do crime e os jagunços dos bandos particulares. 

Obviamente, o bolsonarismo não colocará todo este pessoal (mais de um milhão de tropas), no seu exército de ocupação. Entretanto, estimando que apenas 25% deste pessoal possa atender à convocação bolsonarista, o Brasil poderá atravessar dias caóticos, com sangue nas ruas. 

A declaração de Bolsonaro sobre o golpe militar, a irresponsabilidade aventureira que caracteriza seu núcleo de decisão e o exemplo da invasão do congresso dos EUA, em Washington, sinalizam que um perigoso ambiente pode estar sendo formado no país. O bolsonarismo não vai sair do poder facilmente.

Não é possível saber se o esquema armado de Bolsonaro já está plenamente organizado e pronto para ser utilizado. É provável que não, pois nem foi cogitado o seu emprego há apenas seis meses, quando o amigo dos milicianos arriscou um fechamento institucional, mas não contou com apoio das forças armadas.

Porém, desde então, intensificou seu relacionamento com as bases militares e planeja facilitar ainda mais o acesso a armas de fogo.

REMOVER BOLSONARO ANTES QUE ELE REMOVA A DEMOCRACIA

Como cautela nunca fez mal, é prudente não dar tempo ao bolsonarismo, para organizar o seu esquema armado. Significa que é preciso aproveitar o momento de maior enfraquecimento do governo, para remover o amigo dos milicianos do poder. 

O processo de remoção do bolsonarismo do comando do país, entretanto, deve ser cuidadoso e bem preparado. O impeachment exige dois terços dos votos nas duas casas, para ser efetivado. Neste momento não há possibilidade de alcançar esta conta, porque Bolsonaro ainda conta com forte apoio parlamentar e mantém um terço da população favorável a ele. 

Um impeachment açodado pode fortalecer Bolsonaro. Será necessário preparar uma estratégia de bom combate eficiente. 

Os passos iniciais serão corroer sua aprovação popular, obter o apoio de setores da sociedade para o impeachment e articular a adesão de parlamentares ao afastamento do amigo dos milicianos, até obter, com folga, os dois terços. 

O melhor caminho para atingir estes objetivos passa por iniciar o mais breve possível uma CPI, com o objetivo investigar os crimes do governo bolsonarista. Há vários, basta escolher. 

Esta estratégia somente terá possibilidade de sucesso, através de uma aliança ampla de partidos, representantes da economia, organizações sociais, mídia, setores sociais e instituições do estado brasileiro. Esta é a primeira tarefa a ser levada à frente, porém pode ocorrer paralelamente à CPI, que inclusive será um mecanismo para a ampliação da aliança antibolsonarista. Todos os que percebem o perigo, que representa o amigo dos milicianos na cadeira de presidente, podem e devem participar desta aliança pontual.

O resultado será Mourão como presidente, para cumprir o restante do mandado. Porém, o atual vice não é bolsonarista, nem comanda as bases armadas organizadas por Bolsonaro e seu grupo. Ele será um presidente enfraquecido e com baixa popularidade, do tipo que pode ser deixado para derreter até o final do seu mandado.

Durante a aliança pontual, várias negociações e acordos podem e devem ser feitos, inclusive a que devolve para Lula todos os seus direitos políticos.

Eliminado o bolsonarismo e com Lula retornando à cena, voltamos à guerra política contra o neoliberalismo e vamos firmes para as eleições de 2022.

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