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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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O Brasil que os brasileiros não querem

Jornalista Ribamar Fonseca avalia os primeiros dias do governo de Jair Bolsonaro; "O novo governo não se entende e cada um dos seus ministros diz o que pensa, um verdadeiro caos; o conflito entre o grupo civil e o militar é evidente; a proposta de extinção da Justiça do Trabalho é um brutal retrocesso; uma ministra que viu Jesus apanhando goiaba quer vestir os estudantes de azul e rosa; um ministro da Economia suspeito de corrupção; um governo-sanfona com avanços e recuos; submissão aos Estados Unidos", resume

O Brasil que os brasileiros não querem
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Se alguém tivesse passado todo o ano de 2018 em coma e despertado nos primeiros dias deste ano certamente não entenderia o que está acontecendo no Brasil. "Meu Deus! – pensaria – Parece que todo mundo enloqueceu". O povo elegeu para a Presidência da República um ex-capitão da extrema direita, que imita Donald Trump em tudo – só falta pintar o cabelo de amarelo e ostentar aquele topete ridículo – e parece não saber o que fala, sendo desmentido a todo momento pelos próprios auxiliares; o novo governo não se entende e cada um dos seus ministros diz o que pensa, um verdadeiro caos; o conflito entre o grupo civil e o militar é evidente; a proposta de extinção da Justiça do Trabalho é um brutal retrocesso; uma ministra que viu Jesus apanhando goiaba quer vestir os estudantes de azul e rosa; um ministro da Economia suspeito de corrupção; um governo-sanfona com avanços e recuos; submissão aos Estados Unidos, etc. Por sua vez, o povo carioca, considerado um dos mais politizados do país, elegeu para governador do Rio um ex-juiz que é um carbono do presidente Bolsonaro, quer matar bandidos e, também, a instalação de uma Guantânamo na Cidade Maravilhosa. Como diria Silvio Brito: "Todo mundo louco, oba!" Afinal, o que aconteceu com o Brasil?

Aparentemente tudo é consequência da campanha sistemática da mídia contra as esquerdas, em especial contra Lula e o PT, que promoveu uma verdadeira lavagem cerebral em grande parte da população, imbecilizando milhões de brasileiros. A partir daí a classe política passou a ser vista como corrupta, preparando-se o terreno para o crescimento do fascismo no país e a ideia de que somente não políticos, empresários e militares seriam capazes de consertar o Brasil. O ex-capitão Jair Bolsonaro surgiu, então, como o salvador da Pátria, mesmo tendo quase 30 anos de mandato parlamentar. E nessa esteira também foram eleitos alguns governadores, como os desconhecidos Witzel e Zema, no Rio e em Minas, afinados com o novo Presidente. Também João Dória que, mesmo não fazendo nada em São Paulo a não ser tirar fotos fantasiado de gari, além de abandonar o mandato de prefeito pela metade, foi eleito governador. Não é difícil perceber que os danos causados pela lavagem cerebral na população, particularmente no Sul e Sudeste, foram decisivos para a construção do Brasil que saiu das urnas em outubro do ano passado.

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O segundo maior responsável por essa situação, que deixa estarrecidos não apenas os brasileiros lúcidos como, também, o resto do mundo, sem dúvida foi o Judiciário que, através de farsas e manobras jurídicas, completou a obra da mídia, impedindo Lula, o favorito em todas as pesquisas, de concorrer às eleições presidenciais e facilitando a eleição de Bolsonaro. A imprensa, ao que parece, já se arrepende do que fez, certamente porque tem sido hostilizada pelo novo Presidente, mas o Judiciário, especialmente o Supremo, não mudou o seu comportamento. Muito pelo contrário, atrelou-se ao novo governo, com um general na assessoria do presidente da Corte, Dias Toffoli, fungando no seu cangote. Talvez por isso Toffoli já deixou claro que não pretende libertar o ex-Presidente que o nomeou para o STF, pois o desejo de Bolsonaro é que ele apodreça na prisão. Além de derrubar a decisão do ministro Marco Aurélio Mello, que mandou soltar todos os presos em segunda instância, ele pautou o julgamento das ADCs que questionam a prisão após condenação em segunda instância para abril, após o julgamento, pelo Superior Tribunal de Justiça, de nova ação em favor de Lula. Como sabe que o pedido será negado, estaria pretendendo usar a decisão do STJ como argumento para manter o líder petista preso, já agora por condenação em terceira instância.

O estranho panorama hoje observado no Brasil, no entanto, não fica por aí. Após mais de 50 anos o comunismo continua assombrando os congelados do século passado. Graças à lavagem cerebral feita pela mídia tradicional em parte da população, aliada à milionária indústria de fakenews montada pelos mesmos técnicos norte-americanos que elegeram Donald Trump, o anacrônico presidente Jair Bolsonaro, recém empossado, chegou ao poder junto com os saudosistas da ditadura militar com o mesmo discurso da década de 64 do século XX. E falou do parlatório do Palácio do Planalto transformado em palanque, arrancando aplausos entusiásticos do povo presente, a mesma tolice repetida inúmeras vezes na campanha eleitoral: "Nossa bandeira jamais será vermelha". Em primeiro lugar nunca, em toda a história do país, alguém disse que pretendia mudar a cor da bandeira brasileira: e, em segundo lugar, como Presidente da República ele deveria conhecer a Constituição e saber que os símbolos nacionais são dispositivos pétreos da Carta Magna. Não podem ser alterados, mesmo que um maluco pretendesse fazê-lo. Esse discurso anacrônico, portanto, há muito está ultrapassado.

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Por outro lado, sem moderar o discurso de ódio usado na campanha, o novo Presidente classificou os seus adversários de "inimigos da Pátria", fingindo não saber que os verdadeiros inimigos da pátria são os que entregam o nosso petróleo para os estrangeiros, os que pretendem privatizar as nossas estatais; os que estão entregando a Embraer e a base espacial de Alcântara para os americanos; os que querem uma base militar dos Estados Unidos em território brasileiro; os que pretendem entregar as terras dos índios na Amazônia para serem exploradas por poderosos grupos estrangeiros de mineradoras, etc. E todos eles estão no seu governo. Alguém precisa dizer ao Presidente que o seu mandato já começou e, portanto, o discurso de campanha não faz mais sentido. O importante, agora, é acabar com as improvisações e iniciar as ações que prometeu para solucionar os problemas do país, como o desemprego, a saúde precária, a educação, mas sem perseguição ideológica e sem aquela tolice de mudar o ensino para "formar cidadãos, não militantes políticos". Afinal, é o saber que faz militantes políticos, não os professores. Quanto mais conhecimento maior capacidade de discernimento. A única maneira de mudar isso é deixar o povo analfabeto.

Lamentavelmente Bolsonaro parece mais perdido do que cego em tiroteio logo no inicio do seu governo. Ele não sabe o que diz e quando fala alguma coisa é imediatamente desmentido pelos seus auxiliares. Á falta de um programa de governo prefere xingar Lula e Haddad, ao mesmo tempo em que cria uma atmosfera de tensão, com essa história de ameaças, provavelmente para justificar medidas repressoras. O exagerado aparato de segurança na sua posse, nunca antes registrado em outras cerimônias do gênero, que permitiu até a invasão dos gabinetes dos deputados da oposição, transformou maçãs em armas perigosas e confinou jornalistas, parece ser apenas uma amostra do que vem por aí. A pretexto de garantir a sua segurança tudo pode ser válido. Virou paranoia. Afinal, se existe ameaças à sua vida por que ainda não prenderam os suspeitos? Quais são os tipos de ameaças? Como elas são feitas? Com todos os recursos que a Policia Federal e o Exército possuem por que ainda não conseguiram afastar essas ameaças? Por que tanto mistério? São perguntas que permanecem sem respostas, o que contribui para agravar o estranho panorama brasileiro, onde já se fala até em instalar uma base militar norte-americana em território nacional. Esse, certamente, não é o Brasil que o povo queria quando depositou seu voto nas urnas nas eleições de outubro último.

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