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Hélio Rocha

Repórter de meio ambiente e direitos sociais, colaborador do 247

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O caos social que ameaça Minas

Enquanto seguem os resgates das vítimas do desastre de Brumadinho, problemas diversos vão surgindo na região, em decorrência da maior tragédia em vidas humanas da história da mineração brasileira

O caos social que ameaça Minas (Foto: Ricardo Stuckert)
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Enquanto seguem os resgates das vítimas do desastre de Brumadinho, problemas diversos vão surgindo na região, em decorrência da maior tragédia em vidas humanas da história da mineração brasileira. Afinal, não se está falando apenas em mais de 100 pessoas mortas e quase 200 desaparecidas, muitas das quais (as autoridades estão demorando ao máximo a dizer) jamais serão encontradas e serão dadas por mortas e enterradas. Quem sabe, para "amenizar os danos", a empresa não erguerá sobre o amontoado de lama um memorial às pessoas mortas no local, para o "conforto das famílias". Está se falando, também, de centenas de desabrigadas e desabrigados que não encontram respostas das autoridades sobre quando retomarão suas vidas.

Nesse fim de semana, a Defesa Civil do Estado de Minas Gerais desalojou populações do distrito de Socorro, no município de Barão de Cocais, num total estimado de 300 pessoas, sem o devido diálogo com a população para o esclarecimento dos perigos dos rejeitos de lama, que ainda se deslocam pela região, sobretudo pelos mananciais locais. Também foram afetadas comunidades de Tabuleiro e Piteiras, também em Barão de Cocais, que poderiam ser afetadas por eventual rompimento da barragem da mina do Gongo Soco, também da Vale e igualmente construída sob o periclitante método de alteamento a montante. A Arcellor Mittal também interrompeu atividades na barragem da mina de Serra Azul, em Itatiaiuçu, até que se averígue as condições de segurança da estrutura. Até lá, mais de 60 pessoas estarão fora de suas casas, alocadas em hotéis pagos pelas empresas.

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O problema é que o mal diálogo com a população, já vitimada física (no caso das mortes de Mariana e Brumadinho, além dos desalojados) e psiquicamente (todos que, agora, vivem à sombra de barragens as quais se desconhece a segurança) pelos desastres de Mariana e Brumadinho, é responsável por imbróglios que vão além dos casos específicos das duas barragens rompidas, mas espraiam-se para as instituições, empresas e cidadãos, num clima de desconfiança que ameaça de paralisia a organização social e econômica do estado.

No episódio do desalojamento de moradores em Socorro, no município de Barão de Cocais, o Movimento dos Atingidos por Barragens (Mab) denuncia truculência por parte das autoridades estaduais diante de cidadãs e cidadãos que tiveram de deixar suas casas. Segundo o membro da coordenação-geral do movimento Joceli Andriolli, a Vale teria "terceirizado a truculência e o descaso, com que age com os atingidos, para a Defesa Civil em Barão de Cocais". Um oficial de segurança teria ameaçado uma moradora de Socorro, repetindo "cuidado, cuidado" diversas vezes, enquanto se aproximava da atingida. A moradora alegava querer participar da reunião com a Defesa Civil, que ocorria no momento, para discutir os porquês de ter sido desalojada e quando retornaria à vida normal. Enquanto isso, conforme Joceli, "a Vale se esconde dentro da Universidade Aberta do Brasil (UAB) e não aceita dialogar com a população. Atingidos estão espalhados em diversos hotéis e casas de parentes sem qualquer informação e esclarecimentos após serem retirados de suas casas durante a madrugada de sexta-feira, dia 8".

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A Defesa Civil informa que, tão logo sejam averiguadas as condições de segurança das barragens, bem como reparadas eventuais falhas encontradas, informará à população o momento de retornar para as casas. O trabalho é pela segurança da população, não para impor de forma truculenta a autoridade do estado.
"Diante de observações e monitoramento realizados pela Agência Nacional de Mineração (ANM), Defesa Civil do Estado e do município, e pela empresa Vale, foi acionado o Nível 2 de risco na barragem Sul-Superior da Mina do Gongo Soco. A informação até esse instante é de um desnível na estrutura. Por esse motivo, seguindo as recomendações repassadas pelos entes responsáveis e pela mineradora, os moradores da comunidade do Socorro e adjacências estão sendo evacuados neste momento por ônibus da Vale e demais veículos de apoio. O evacuamento está sendo realizado por precaução", informou, por nota, a Prefeitura de Barão de Cocais.


A Vale, por sua vez, vem reiterando estar de luto pelo ocorrido, admitindo que muito pouco foi aprendido com Mariana, visto que o mesmo caso se repetiu em condições dezenas de vezes mais devastadoras em vidas humanas, num intervalo de apenas três anos. Também anunciou medidas como desativar todas as suas barragens construídas a montante e realizar nelas monitoramentos precisos. Vai, também, pagar R$ 100 mil por família de pessoa morta ou desaparecida no desastre de 26 de janeiro. O Governo de Minas, sob Romeu Zema (PN), bloqueou R$ 5 milhões em contas da Vale, embora autoridades governamentais, jurídicas, parlamentares e mesmo cidadãs e cidadãos admitam a importância da empresa para a economia mineira, visto ela gerar milhares de postos de empregos e milhões em impostos que sustentam muitos municípios.

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O que permanece em questão, porém, é a insegurança a que está lançado o estado de Minas Gerais, sobretudos suas regiões rurais no chamado "quadrilátero ferrífero", região que vai de Congonhas a Belo Horizonte em seu eixo norte-sul, e de Itabirito a Ouro Preto e Mariana, em seu eixo leste-oeste. Itabira e Itabirito, onde nasceu a nova onda da mineração brasileira, com a criação da Companhia Vale do Rio Doce durante a Era Vargas, possuem as maiores barragens de minérios, algumas quatro ou cinco vezes maiores que as que se romperam. Nesse quadrilátero estão circunscritos dezenas de municípios, dentre os quais Brumadinho e Mariana, onde morreram centenas de pessoas, e Barão de Cocais e Itatiaiuçu, onde famílias estão sendo desalojadas.

Centenas de autoridades, sobretudo parlamentares da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e de Câmaras Municipais espalhadas pelo estado, visitam desesperadamente as estruturas de contenção de rejeitos de minérios de seus municípios. Afinal, apenas em Minas, o número de barragens como as que se romperam chega a 700, entre as formais e as informais, muitas das quais consideradas inseguras (só há números sobre as formais) e, o que gera mais insegurança, a que se rompeu não estava entre elas.

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Não é exagero vislumbrar que a crise na mineração em Minas Gerais (quase um pleonasmo, tamanha a identificação do estado com a extração de minérios) pode aprofundar o caos econômico no estado e se ampliar para a desordem social, visto a desconfiança geral na principal empresa atuante no estado, a Vale, e nas autoridades que com ela negociam licenciamentos e cessões de terreno (estado e municípios). Vide a história recente do Rio de Janeiro com seu principal ativo econômico, a Petrobras assolada pela crise política e seus cada vez mais escassos royalties de petróleo, para confirmar essa possibilidade.

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