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Luis Costa Pinto

Luis Costa Pinto é jornalista, escritor e consultor na Ideias, Fatos e Texto. É também membro do Jornalistas pela Democracia. Twitter: @LulaCostaPinto, Facebook: lula.costapinto

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O colosso brasileiro

"Amplia-se entre nós a percepção de que um brasileiro resiliente, convicto dos compromissos democráticos que tem e carregado de esperança na neutralidade do Estado de Direito pode terminar por integrar o rol das biografias colossais: Luiz Inácio Lula da Silva"

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Por Luis Costa Pinto, para o Jornalistas pela Democracia - As adversidades forjam estadistas, lustram suas biografias. Foi assim com o pernóstico Winston Churchill, corretamente convertido em herói da civilização ocidental ao liderar a resistência britânica e a aliança das nações democráticas contra a aventura paranoica do facínora Adolf Hitler. Também o francês Charles De Gaulle, um reacionário de fancaria, tem seus restos mortais depositados no Panteão da Pátria, em Paris, porque soube ser irredutível no momento exato em que a História assim o exigia. Com Nelson Mandela a vitória pela resistência se deu sem necessidade de armas: a grandeza de seus gestos de perdão uniu uma África do Sul que parecia fadada a ser pulverizada numa guerra civil irrigada pelo ódio racial e pela vingança da espoliada e vilipendiada maioria negra contra a opressora minoria branca. 

Há outros exemplos semelhantes, mas Churchill, De Gaulle e Mandela são suficientemente próximos de nossa realidade brasileira e servem à condução do raciocínio que se pretende tecer aqui. O trio, com justiça, é merecedor perpétuo de todas as homenagens que a humanidade desejar fazer-lhes.

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Amplia-se entre nós a percepção de que um brasileiro resiliente, convicto dos compromissos democráticos que tem e carregado de esperança na neutralidade do Estado de Direito pode terminar por integrar o rol das biografias colossais. Luiz Inácio Lula da Silva, encarcerado há quase dezoito meses na esteira de um processo suspeito conduzido por um juiz parcial em conluio com uma tropa de procuradores imbuídos de um projeto político assentado na lógica da destruição, enfrenta as tempestades adversas com a dignidade das efígies históricas.   

Quando Monica Bergamo e Florestan Fernandes Filho deixaram Curitiba depois da primeira entrevista concedida por Lula desde o dia em que sabiamente resolveu se entregar à Justiça, quis saber deles como haviam encontrado o líder político. A resposta, apressada e dada por meio de aplicativos de mensagens porque iam rapidamente degravar a entrevista magistral: “bem, forte”. E foi o que se viu naquela entrevista, nas outras subsequentes, e é o relato que se tem de quem está com ele. Também é o que se lê e o que se depreende nos maravilhosos bilhetes por meio dos quais Lula trata de fazer uma ação política epistolar cuja dimensão desmantela os adversários rasos e rastaqueras. De dentro do retiro involuntário na caverna curitibana o ex-presidente que transformou o Brasil entre 2003 e 2011, fazendo dessas vastas extensões de terra à deriva no Atlântico se tornarem o melhor lugar para estar em todo o planeta, vê e sente o país com o pulso e o olhar de quem conhece como nenhum outro a alma dos brasileiros. Vê, sente e projeta o futuro a partir desses dias tão esgarçados e divididos. Não necessariamente o petista tem antevisões róseas do que ainda virá, porque as tragédias que nos aguardam nas curvas da estrada são ainda maiores do que os desastres do passado recente que puseram um estúpido boçal na cadeira de comando da Nação de 210 milhões de habitantes. Mas ele sabe olhar para o para-brisas, para o horizonte, aprendendo lições que ficaram no retrovisor. Com a frieza dos enxadristas, a resistência dos boxeurs, a sabedoria dos monges e a perspicácia ardilosa dos grandes cardeais da Igreja, mesmo que alguns dos grandes cardeais nem sempre tenham agido para o bem do seu povo, Lula consegue travar o jogo de seus perseguidores fitando-os olho no olho a e desafiando-os a julgá-lo dentro das regras de neutralidade judicial das democracias. Condenado sem provas e no curso de um processo eivado de erros e de má-fé, o ex-presidente ganha paulatinamente a adesão à sua causa de antigos adversários. Tem sido assim entre políticos, na área jurídica, na mídia tradicional que o crucificou usando ritos sumários de condenação. A causa de Lula não está perdida, e ela vale não só a restauração do Estado Democrático de Direito no Brasil. A causa Lula, Livre significa hoje a defesa dos princípios basilares da civilização ocidental que construiu na Europa e na América a ideia do Estado Liberal. No curso dos 13 anos e meio em que estiveram no poder nem Lula, nem o PT perfilaram como ameaças à democracia e às liberdades individuais. 

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O Partido dos Trabalhadores disputou eleições locais e nacionais em toda a sua trajetória até a chegada ao poder. Perdeu muitas. Ganhou quatro na esfera federal, elegendo duas vezes Lula e Dilma Rousseff presidentes. O PT disputou e perdeu diversas vezes o comando do Parlamento. Ganhou-o três vezes. Mesmo tendo a maior bancada de deputados federais, disputou eleições na Câmara e perdeu algumas delas, convivendo com lideranças adversárias na cadeira de comando do Legislativo. 

Só Lula e Dilma, enquanto presidentes, seguiram a regra consuetudinária de nomear procurador-geral da República o subprocurador mais votado na lista tríplice apresentada pelos integrantes do Ministério Público. Foram esses procuradores-gerais que desfrutaram de toda a liberdade e independência para investigar e denunciar os dois presidentes. E tais liberdade e independência são alvissareiras, posto que republicanas. Nem antes do PT no governo federal, com Fernando Henrique Cardoso (PSDB), nem agora com Jair Bolsonaro (PSL), o costume republicano valeu. O que era um avanço consuetudinário virou letra morta – e a República dançará ao sabor dos favores que Bolsonaro e seus indicados para a PGR, para o Ministério da Justiça e para a Polícia Federal trocam entre si. Nesse troca-troca, delenda Brasil; delenda República.

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Do cárcere, Lula assiste à conversão de seus algozes em réus. Nesse teatro de absurdos em que fomos transformados desmoralizam-se todos os verdugos de causas viciadas. E está aí a dimensão da sabedoria de Lula ao aceitar o veredito viciado que o levou à cadeia: estar de pé enquanto caem os paladinos de espuma do outro lado. O conjunto de desmoralizações dos adversários do ex-presidente expõe a imoralidade do processo judicial politizado por meio do qual ele foi condenado. No curso desse processo torto que envergou uma Nação inteira, destruiu-se a civilidade do convívio entre as pessoas. Destrói-se igualmente a universidade pública brasileira e a nossa produção científica e tecnológica, aniquila-se a independência investigativa da Polícia Federal e enterra-se o pudor de procuradores da República que não veem problema em se expor como entes de projetos político-partidários.

Lula, Livre é uma causa urgente e necessária. Pode ser um ponto de inflexão a partir do qual a lucidez encontre portas abertas para voltar a frequentar as outrora consolidadas democracias do ocidente. Está evidente que essa não é só uma causa brasileira – joga-se aqui um jogo mais complexo, um xadrez estelar. E é nesse tabuleiro intangível que ele terminar por perfilar ao lado de biografias como a de Churchill, de De Gaulle, de Mandela. De Curitiba, a partir da sala minúscula de onde sente o país e o mundo com a sabedoria dos escassos estadistas que tivemos, Lula se converteu num colosso da luta democrática brasileira. A luta não é por ele, é pelo Estado de Direito.

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