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Luciano Teles

Professor adjunto de História do Brasil e da Amazônia da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e autor de artigos e livros sobre a história da imprensa operária e do movimento de trabalhadores no Amazonas.

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O contexto atual e a mídia corporativa: cadê a autocrítica?

Ninguém é ingênuo em achar que há neutralidade na mídia, que ela não representa grupos sociais específicos e seus projetos políticos e sociais. Porém, nesse movimento, a mídia corporativa ultrapassou todos os limites do jogo democrático e colocou em risco a própria democracia.

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Que o bolsonarismo é filho da Lava Jato é consenso. Quem coloca em xeque essa obviedade é no mínimo desonesto intelectualmente. Da mesma forma, quem afirma que a mídia corporativa, impressa, digital e televisiva (particularmente a Globo, a Record, a Band, o SBT, o Estadão, a Folha de São Paulo, etc.), tratou de analisar as ações da Lava Jato de maneira crítica, de modo a ter cuidado e responsabilidade com as informações, notícias e discussões políticas a fim de não cometer injustiças com pessoas e grupos políticos e sociais, apenas está expressando e exercitando o seu cinismo. 

Na mídia corporativa não houve tratamento crítico em relação às ações da Lava Jato e de setores do legislativo e do judiciário. Toleraram-se, cinicamente, os diversos abusos – hoje estudados e perscrutados seriamente – cometidos por esta Operação, sobretudo aqueles direcionados aos políticos do PT e da esquerda em geral, cujos maiores exemplos foram à condução coercitiva do ex-presidente Lula e a sua rápida prisão sem provas. A prisão preventiva virou uma forma de exercer tortura aos “presos” com o objetivo de conseguir “delações premiadas”, em especial aquelas até mesmo criadas para construir o teatro midiático e, assim, destruir reputações de personalidades políticas e empresariais.

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Dia após dia e de forma ampla, a mídia corporativa, num espetáculo de som e imagem, veiculava nas suas redes comunicativas as conduções coercitivas, as prisões arbitrárias de personalidades brasileiras, os vazamentos seletivos (inclusive de uma presidenta da República), as entrevistas de juízes antecipando condenações (como foi o caso de Thompson Flores, do TRF-4, que nos microfones em que falava dizia que a sentença de Moro era “tecnicamente irrepreensível”, mesmo sem lê-la), e uma espécie de “exaltação” da Lava Jato e do ex-juiz Sérgio Moro. Este recebeu prêmios das mãos dos Marinhos, por exemplo. 

Como se isso não bastasse, as fake news, que tinham como alvos políticos, partidos e personalidades de esquerda, foram toleradas e não combatidas com a mesma intensidade em que eram disparadas e divulgadas. O próprio Jair Bolsonaro, político do “baixo clero” improdutivo e que nunca escondeu ser favorável à ditadura e a tortura, foi abraçado por amplos setores da burguesia nacional, dos ultraliberais, dos neopentecostais e dos militares (Forças Armadas e Polícias Militares), muitos deles dando sustentação ainda hoje as asneiras, aos delírios e aos ataques feitos por Bolsonaro às instituições e a democracia brasileira. 

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A própria mídia corporativa ainda hoje expõe um “vai e vem” sobre uma posição que já era para ser consenso: a do impeachment de Bolsonaro ou a cassação da chapa, via TSE, Bolsonaro-Mourão. Isto demonstra que ela esteve/está ligada a este (des)governo por questões de política econômica, particularmente a agenda neoliberal radical conduzida pelo incompetente Paulo Guedes, que é outro que verbaliza várias besteiras e absurdos! 

Os jornalistas ligados a essa mídia corporativa – Miriam Leitão, Vera Magalhães, Demétrio Magnoli, William Bonner, dentre outros – são responsáveis (pensamos até que são mais responsáveis ainda do que os seus próprios patrões em função da própria ética jornalística, que deveria ter orientado as suas ações e os seus discursos) diretos por levar o país a essa situação de intolerância, ódio e movimentos antidemocráticos que assistimos atualmente. Certamente que a situação chegou a tal ponto que houve reações em defesa da democracia, do diálogo, do respeito, etc. Esperamos que não tenham sido tarde demais! 

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De qualquer forma, a mídia corporativa, esperamos, necessitará fazer uma autocrítica! Não pode passar incólume a todo esse processo histórico e político o qual ela infelizmente ajudou a constituir. 

Ninguém é ingênuo em achar que há neutralidade na mídia, que ela não representa grupos sociais específicos e seus projetos políticos e sociais. Porém, nesse movimento, a mídia corporativa ultrapassou todos os limites do jogo democrático e colocou em risco a própria democracia. 

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