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Paulo Moreira Leite

Colunista e comentarista na TV 247

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O defeito de Temer é ser óbvio demais

"Por mais que a condição possa desagradar ao ocupante do posto, como ficou claro até mesmo numa carta espantosamente queixosa vazada pelos jornais, a função de todo vice-presidente é exatamente essa: decorativa", afirma Paulo Moreira Leite, colunista do 247; citando gestos incômodos do vice, como a participação em um evento organizado por alguém que defendia o golpe, a apresentação de um programa de governo e a não demonstração de solidariedade quando seu colega de partido, Eduardo Cunha, aceitou o pedido de impeachment, o jornalista afirma que Temer "ganhou o perfil de um vice-presidente de comédia pastelão, aquele que não consegue disfarçar o caráter óbvio de suas intenções"

"Por mais que a condição possa desagradar ao ocupante do posto, como ficou claro até mesmo numa carta espantosamente queixosa vazada pelos jornais, a função de todo vice-presidente é exatamente essa: decorativa", afirma Paulo Moreira Leite, colunista do 247; citando gestos incômodos do vice, como a participação em um evento organizado por alguém que defendia o golpe, a apresentação de um programa de governo e a não demonstração de solidariedade quando seu colega de partido, Eduardo Cunha, aceitou o pedido de impeachment, o jornalista afirma que Temer "ganhou o perfil de um vice-presidente de comédia pastelão, aquele que não consegue disfarçar o caráter óbvio de suas intenções" (Foto: Paulo Moreira Leite)
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Ao mesmo tempo em que se consolida a visão de que os pedidos de impeachment contra Dilma Rousseff não passam de uma manobra inaceitável para derrotar um projeto político que os adversários não puderam vencer pelas urnas, acentua-se o caráter grotesco do comportamento do vice Michel Temer.

Por mais que a condição possa desagradar ao ocupante do posto, como ficou claro até mesmo numa carta espantosamente queixosa vazada pelos jornais, a função de todo vice-presidente é exatamente essa – decorativa. E é assim que cumpre a função essencial de lembrar que o país tem uma constituição e que a continuidade democrática estará assegurada em caso de necessidade. E só.

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Um vice não manda nem tenta mandar. Não é meio presidente, nem um quarto ou um décimo. Nem um milésimo.  É zero. Só abre a boca quando autorizado, só intervém a pedidos. Sempre obedece e nunca deve dar sequer a impressão do contrário. Não tem o direito de divergir. Sequer de convergir. Sua obrigação é o silêncio.

É um poder na geladeira.

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Além de ter acesso aos direitos e incontáveis confortos materiais do cargo, com os quais os mortais comuns não têm direito de sonhar, um vice só tem uma missão a cumprir: demonstrar respeito absoluto pela modéstia da função, onde deve preservar-se de modo integral para assumir, com 100% de legitimidade, uma tarefa tão relevante que de quatro em quatro anos o país vota num candidato a presidente e num segundo cidadão cujo trabalho consiste, essencialmente, em hibernar pelo quadriênio seguinte.

Nenhuma tarefa adicional deve ser ambicionada fora da ocasião apropriada – pois até isso já seria prova de deslealdade.

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Para colocar a questão em termos claros, podemos pensar num exemplo que nada tem a ver com a situação atual no Brasil. A tragédia de Dallas, em novembro de 1963, quando John Kennedy foi fuzilado a tiros durante um desfile da comitiva presidencial desfilava pela cidade. Imagine se surgissem fotos do vice Lyndon Johnson em conversa com Lee Oswald, dias antes dos disparos.

Também podemos ficar com um exemplo próximo: Itamar Franco. Foi o anti-Temer e só por isso teve condição, quando a hora chegou, de assumir a função que o titular, num processo onde não faltavam provas de corrupção, foi afastado do cargo. Não lhe faltou um grama de legitimidade, embora sempre tivesse sido um adversário integral – mas silencioso -- das ideias políticas de Fernando Collor.

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Incapaz de manter em seu devido lugar a possibilidade de assumir o lugar da titular, Temer ganhou  o perfil de um vice presidente de comédia pastelão, aquele que não consegue disfarçar o caráter óbvio de suas intenções. Tem sido acima de tudo um péssimo ator, como um desagradável cartola de futebol que resolve falar mal da diretoria quando o time se encontra em desgraça e a torcida não para de reclamar. Aquilo que poderia parecer astúcia e maquiavelismo transformou-se em baixeza.

Foi capaz de deslocar-se a São Paulo para ser sabatinado num evento promovido por uma colunável que apoia um desses grupinhos fascistas que berram a favor de um golpe de Estado. Reuniu-se privada e acintosamente com Geraldo Alckmin numa hora delicada. Numa iniciativa que só serviu para constranger a presidente, apresentou um programa de governo como demonstração de que tem todas as condições de assumir o posto dela. Não demonstrou a mais leve solidariedade quando seu colega de partido, Eduardo Cunha, acolheu o pedido de impeachment.

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Tamanha sucessão de gestos incomodou até Aécio Neves, que sentiu-se na obrigação de dar uma cotovelada no vice, que sentiu-se ameaçado por um adversário que agora se porta como concorrente no lamentável jogo de tapetão às costas de mais de 54 milhões de eleitores. Ao contrário do candidato tucano, porém, Temer votou e pediu votos para Dilma.  

Assumindo a postura que define o pior comportamento possível numa hora de perigo, suas atitudes apenas reforçam a noção de que, para um vice presidente, o trabalho é acima de tudo um exercício permanente de caráter, um teste sobre valores morais, acima de tudo.

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A única virtude que não pode perder é a credibilidade. Desse ponto de vista, o vice fica menor a cada dia que passa.

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