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Nívea Carpes

Doutora em Ciência Política e mestre em Antropologia Social

27 artigos

blog

O desafio do anti-intelectualismo estratégico na Guerra Híbrida

É preciso construir um norte para a militância, os partidos políticos e as lideranças progressistas, uma vez que a esquerda brasileira tem estado muito atrás em suas ações de combate ao extremismo e à neocolonização do Brasil

(Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil)
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O Brasil surreal que Jair Bolsonaro nos impõe é um desafio para o entendimento e para a elaboração de reações. Precisamos da ajuda de Rousseau, em termos de espaços de convivência democrática, se é possível ainda um ambiente político democrático. A recorrência de discursos e narrativas descoladas da realidade, impulsionando questões mal resolvidas no comportamento humano, constrói uma barreira para o real.

As crenças pessoais conquistaram destaque e contorcem a construção da história, forçando consequências. Não é um recurso novo, muitos eventos políticos e guerras foram justificados através da manipulação da realidade, transformando a realidade e fazendo crer em fatos que nunca ocorreram. 

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Podemos citar as revoluções de 1789 e de 1848 a 1851 na França, genuínos conflitos de classes, que escrevem na história francesa narrativas com pretextos de impulsionar reações que não apresentavam completo entendimento sobre a realidade, formatando ambientes e percepções para a tomada de poder e construção do Estado burguês. 

Na Alemanha, já no final da Primeira Guerra Mundial, quando a extrema direita passa a produzir ações utilizando-se da disputa de narrativas para tomar o poder, o nazismo tem seu embrião gestado. Um discurso traiçoeiro, personagens que estimulam um estado emocional do horror, conflitos dividindo a sociedade e a recusa da tolerância – o projeto de um “Estado novo”. 

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A geopolítica mundial não pode deixar de ser considerada quando tratamos da construção de verdades. 

No final da década de 70, guerra fria, o governo americano armou rebeldes no Afeganistão contra o próprio governo, que era apoiado pela União Soviética. Naquele período, os Estados Unidos tinham uma relação próxima do líder afegão Osama Bin Laden. Produzidos os efeitos desejados pelos americanos, Bin Laden passa a posicionar-se contra as bases americanas instaladas nas regiões consideradas sagradas. As verdades dessas relações nunca ficaram explícitas, deixando margens para múltiplas interpretações.

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Em 2001 acontece o ataque às torres gêmeas e o grupo jihadista de Bin Laden é considerado o mentor dos ataques. Nesse período construiu-se a ideia do eixo do mal, dentre os países estava o Iraque. Outro episódio decorrente do rompimento das boas relações com Osama Bin Laden, que nunca ficou bem esclarecido. Há quem acredite que o governo americano construiu uma motivação para contra-atacar o Afeganistão. 

Em 2003 os Estados Unidos dão publicidade para a suposta existência de armas químicas no território do Iraque. Inspetores da Organização das Nações Unidas, em visita ao Iraque, nunca conseguiram encontrar provas concretas das acusações. Os americanos, mesmo assim, iniciam uma guerra contra o Iraque, a despeito do veto da ONU à ocupação. A justificativa era destituir governos autoritários e promover governos justos e democráticos.

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As motivações nunca expressas desses eventos têm direta ligação com a importância geopolítica e econômica dos poços de petróleo dessa região. O etnocentrismo norte-americano dissemina uma interpretação de si mesmos como salvadores da humanidade, impondo o “bem” às demais nações. A visão sobre si mesmos está na indústria massiva de filmes e no controle das informações que chegam ao mundo sobre o papel dos Estados Unidos.

É tamanha a especialização que os métodos têm se expandido pelo mundo e se colocado como ferramentas para a conquista de espaços para a extrema direita numa esfera global.

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Atualmente, um boato sobre o apoio do Papa Francisco à candidatura de Donald Trump não vale menos do que a desconstrução da informação feita através de fontes confiáveis. A novidade é a quantidade de meios utilizados, a velocidade da disseminação de ideias e o alcance que as novas tecnologias de comunicação possibilitam quando se criam boatos, mentiras e interpretações que distorcem os fatos.

A Oxford Dictionaries, departamento da Universidade de Oxford responsável pela elaboração de dicionários, elegeu “pós-truth” em 2016 como palavra para a língua inglesa e definiu como um substantivo “que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”.

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Segundo a Oxford Dictionaries, o termo pós-verdade foi utilizado pela primeira vez pelo dramaturgo Steve Tesich, um sérvio-americano, em 1992. O termo é utilizado há mais de dez anos, mas cresceu sua utilização em 2000% em 2016. Pós-verdade é um conceito utilizado com grande frequência nos debates políticos e aparece nos textos de grandes publicações.

Frente a esse cenário global, o Brasil vive as consequências da Guerra Híbrida instalada no mundo contemporâneo, numa nova era de conquistas territoriais, movimentos de exploração econômica e dominação política. O governo brasileiro de Jair Bolsonaro está claramente subjugado aos interesses norte-americanos, no embate que envolve a nova organização geopolítica mundial entre Estados Unidos e o bloco China, Rússia e Índia.

A ascendência do conservadorismo, do neopentecostalismo, do anti-intelectualismo, da negação da ciência e da violência, através do governo de Jair Bolsonaro, demanda a produção de conhecimento sobre a manipulação de narrativas e sobre a utilização de tecnologias para isso. É estratégica a construção de alternativas à esta realidade, somente possível com a compreensão dos cenários que possibilitam e interrompem os estímulos fascistas. O Brasil é um ponto vulnerável no mundo atual que está sob ataque e reproduzindo as piores formas de nacionalismo. A ascensão da extrema direita no Brasil e em diversos países do mundo é uma realidade da década que precisa ser interrompida. 

É preciso construir um norte para a militância, os partidos políticos e as lideranças progressistas, uma vez que a esquerda brasileira tem estado muito atrás em suas ações de combate ao extremismo e à neocolonização do Brasil. A esquerda não percebeu o que estava acontecendo na trajetória do impeachment da presidenta Dilma Rousseff. A esquerda não entendeu tudo que representava a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A esquerda não entendeu o que significava a demonização do Partido dos Trabalhadores. Nesse sentido, nós, ativistas, a esquerda brasileira, precisamos aprender a enfrentar a Guerra Híbrida que vem atacando o Brasil. Precisamos aprender a proteger nosso povo, nossas riquezas e nossa soberania.

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