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Paulo Kliass

Paulo Kliass é doutor em economia e membro da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental do governo federal

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O desespero do Guedes

A cada semana que se inicia, o Superministro da Economia se depara com novas dificuldades no seu front de atuação

Cavalo de Tróia contra a Previdência (Foto: REUTERS/Adriano Machado)
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A cada semana que se inicia, o Superministro da Economia se depara com novas dificuldades no seu front de atuação. Aquilo que por esses últimos tempos a grande imprensa tem escancarado como uma enorme surpresa, na verdade era um cenário mais do que previsível. Aquele que foi utilizado como a esperança de que havia afinal  alguma coisa de bom no governo do capitão não consegue nem mesmo realizar suas entregas mínimas.

Bolsonaro vai completar um ano de mandato e ainda não tem nada que possa ser oferecido como positivo pelo seu governo. São mais do que conhecidas aquelas promessas apresentadas pelo então operador do mercado financeiro ao então candidato a Presidente da República durante o ano passado. O diagnóstico repetido ad nauseam fazia coro com as avaliações equivocadas e viesadas da intelligentsia da nata do financismo tupiniquim. Na verdade, tratava-se pura e simplesmente de propaganda enganosa.

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No entender desse pessoal, o principal fator responsável pela crise que o Brasil atravessa se resume a um único binômio: excesso de Estado e falta de liberdade econômica. E dá-lhe medidas para reduzir a presença do setor público e para escancarar o país ao capital internacional. O aprofundamento da trajetória de austeridade fiscal a qualquer custo vem reduzindo ainda mais a capacidade de recuperação da atividade da economia. O Estado deixa de ser um agente importante para implementar as medidas chamadas contra-cíclicas, a exemplo do que fizeram os países do centro do capitalismo desenvolvido a partir da crise de 2008/9. A overdose de ultraliberalismo, por outro lado, serviria para estimular a tal “fadinha das expectativas” e entraríamos todos no melhor dos mundos do crescimento do PIB.

Receita para o fracasso

Ocorre que a receita não está funcionando. Apesar de óbvio para qualquer estudante dos primeiros anos de economia, a forma de raciocinar da ortodoxa monetarista não se preocupa com a realidade das pessoas e do país. Continuar insistindo cegamente na trajetória austericida não oferece a menor possibilidade de retomada do crescimento da renda das pessoas e das empresas. Sem esse elemento essencial, o reencontro do Brasil com o crescimento fica dificultado. O que dizer então de estímulo a novos investimentos? Redução dos gastos orçamentários em serviços essenciais e aniquilamento nos investimentos públicos não colaboram nesse sentido.

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Alertado a respeito da necessidade de mudar seu paradigma do neoliberalismo mais extremado, Guedes passou a flexibilizar um pouco sua rigidez doutrinária. A turma da “política-como-ela-é” passou a cobrar resultados e ele foi gentilmente sendo obrigado a conceder em medidas que estimulassem de alguma forma o crescimento. Oh, santa heresia! E lá vieram pacotes com alguma aparência heterodoxa, como as tentativas de injetar recursos na economia com a intenção de elevar a demanda de consumo por meio dos saques do FGTS fora das regras. No entanto, dado o alto grau de endividamento das famílias, o dinheiro foi quase todo dirigido para pagamento de dívidas. Nem mesmo um pífio voo de galinha foi observado com o primeiro sinal de desespero de Guedes há alguns meses atrás.

A tentativa de promover algum aquecimento das atividades por meio de um incremento nas exportações também não logrou êxito. No caso, o maior responsável tem sido o próprio governo, por conta de suas opções de alinhamento automático com a política externa norte-americana. As trapalhadas das declarações de reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel, as cutucadas no regime da China, as provocações incompreensíveis a Putin e tantas outras patacoadas no campo da diplomacia respingaram negativamente para o lado do comércio exterior. Com isso, a busca da saída pelo lado exportador tampouco se mostrou viável.

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Pré-Sal: leilão esvaziado

A Reforma da Previdência arquitetada pelo comando econômico pretendia destruir de uma vez por todas o regime do INSS, mas aqui também Guedes foi derrotado. A substituição do nosso RGPS pelo modelo chileno privatista da capitalização não foi aceita nem mesmo pelos partidos da base do governo no Congresso Nacional. O estrago foi feito, é verdade, mas não na intensidade pinochetiana desejada por ele.

A outra frente aberta para tentar algum refresco nas manchetes dos jornalões foram os leilões da cessão onerosa e de poços do Pré Sal. Representantes do governo cantavam por todos os lados que ali estaria a base do segredo do sucesso. Afinal, quem não gostaria de receber como oferta generosa os direitos de exploração de reservas petrolíferas trilionárias pelo módico pagamento antecipado de valores mínimos? Pois, o fato é que nem com tanta bondade apresentada com bandeja de prata as grandes empresas petroleiras do mundo aceitaram o risco.

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O resultado foi um tremendo fiasco. Apenas a Petrobrás se apresentou na maioria dos lances e foi acompanhada em 2 ocasiões por empresas estatais chinesas. Quis a ironia da História que Bolsonaro tivesse de se socorrer nos comunistas para resolver a falta de interesse declarado da fina flor do capitalismo financeiro entranhado no setor petrolífero. Na verdade, a leitura mais aceita atualmente dentre os operadores desse mercado é que os conglomerados não acreditaram em uma investida pelos próximos 30 anos a partir de hoje. A instabilidade evidente desse governo lhes recomendou cautela e aguardar um momento mais seguro para dar o grande bote.

O resultado foi um tremendo fiasco. Apenas a Petrobrás se apresentou na maioria dos lances e foi acompanhada em 2 ocasiões por empresas estatais chinesas. Quis a ironia da História que Bolsonaro tivesse de se socorrer nos comunistas para resolver a falta de interesse declarado da fina flor do capitalismo financeiro entranhado no setor petrolífero. Na verdade, a leitura mais aceita atualmente dentre os operadores desse mercado é que os conglomerados não acreditaram em uma investida pelos próximos 30 anos a partir de hoje. A instabilidade evidente desse governo lhes recomendou cautela e aguardar um momento mais seguro para dar o grande bote.

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Legalização do trabalho precário

Mais uma vez, repete-se a lengalenga de oferecer tudo de facilidades ao capital e colocar o fardo do pacote sobre a população mais pobre, sobre os trabalhadores. As empresas terão todas as vantagens para contratar aqueles que apenas têm sua força de trabalho para oferecer. E aqui vale, como sempre, a chantagem da faca do desemprego aberto, que já dura 5 anos, no pescoço de quem busca uma vaga. Os trabalhadores preferem continuar com o drama da falta de emprego ou podem eventualmente concordar com uma redução drástica de direitos para ter pelo menos o que comer no final do mês? Essa é a lógica de evitar a função reguladora do Estado, que deveria intervir nos momentos de crise para proteger os setores mais desguarnecidos da nossa sociedade. Não! Para esse pessoal deve valer a “lei do mercado” - salário de fome com apoio da lei e da ordem.

Com a demagogia de focar no trabalho do jovem de 18 a 29 anos, o Programa Verde Amarelo assume de forma explícita que a população com mais de 55 anos está de fora do raio de ação. Ou seja, o indivíduo não conseguirá emprego e tampouco será alcançado pela aposentadoria. Um jogo do vale-tudo ao vivo, com a legalização do jogo selvagem das “forças de mercado” no ambiente do mercado de trabalho estraçalhado pela recessão encomendada. Daqui apouco vão mandar medida provisória legalizando o trabalho escravo. Afinal, no entender dessa tecnocracia desalmada, deve ser melhor morar no barracão sem banheiro, comer as refeições oferecidas em condições abjetas e ter tudo isso descontado no final do mês do que continuar desempregado.

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Guedes está visivelmente desesperado em busca de alguma coisa que “dê certo”, no sentido de oferecer ao Presidente um mínimo que seja daquele verdadeiro “mundos e fundos” que vem prometendo há um bom tempo. O problema é que as consequências desse movimento descontrolado de biruta de aeroporto só faz aprofundar a trágica situação em que se encontra o Brasil e nosso povo. Ele tenta aqui e não consegue, mas o estrago está feito. Ele busca outra forma por ali e tampouco logra resultado. Mas a desgraça deixa suas marcas. É passada hora das forças progressistas e da população darem um basta a essa prática nefasta de experiências de laboratório.

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