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Robson Sávio Reis Souza

Doutor em Ciências Sociais e pós-doutor em Direitos Humanos

159 artigos

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O deus-dinheiro, o impeachment e a volta da caça às bruxas

"Não serei eu a defender Paulo Bernardo e ninguém que, eventualmente, tenha praticado atos de corrupção. Mas, até para um idiota político valem as perguntas: alguém já viu ou ouviu falar que a polícia (política) federal tenha vasculhado as sedes nacionais de partidos inúmeras vezes citados em casos de corrupção como o PSDB, DEM, PP, PMDB? Alguém conhece pelo menos um tesoureiro nacional desses partidos que tenha sido investigado? Quantos ministros do governo FHC, flagrados em escutas comprometedoras em diferentes ocasiões, foram conduzidos à prisão, tiveram condução coercitiva ou prestaram depoimentos (cobertos ao vivo pela mídia?) Em síntese: a juristocracia seletiva tupiniquim faz com que o Tomás de Torquemada, no túmulo, sinta-se apequenado", diz o professor Robson Sávio Reis Souza

"Não serei eu a defender Paulo Bernardo e ninguém que, eventualmente, tenha praticado atos de corrupção. Mas, até para um idiota político valem as perguntas: alguém já viu ou ouviu falar que a polícia (política) federal tenha vasculhado as sedes nacionais de partidos inúmeras vezes citados em casos de corrupção como o PSDB, DEM, PP, PMDB? Alguém conhece pelo menos um tesoureiro nacional desses partidos que tenha sido investigado? Quantos ministros do governo FHC, flagrados em escutas comprometedoras em diferentes ocasiões, foram conduzidos à prisão, tiveram condução coercitiva ou prestaram depoimentos (cobertos ao vivo pela mídia?) Em síntese: a juristocracia seletiva tupiniquim faz com que o Tomás de Torquemada, no túmulo, sinta-se apequenado", diz o professor Robson Sávio Reis Souza (Foto: Robson Sávio Reis Souza)
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As novas ações midiáticas patrocinadas pela juristocracia tupiniquim (desta vez tendo à frente um pupilo da tresloucada autora do pedido de impeachment), recolocam no debate a questão acerca dos maiores interessados no golpe, esse estupro à democracia brasileira. Cada vez fica mais claro que, para além dos pastelões, corruptos e fanfarrões que abundam no Congresso e no governo interino, os verdadeiros interessados no imediato retorno de nosso país à velha categoria das repúblicas das bananas são os ricos e poderosos. Por isso, é fundamental entendermos o que está por detrás do jogo jogado do impeachment fajuto.

Giorgio Agamben, um dos principais intelectuais contemporâneos, professor em diversas universidades europeias e norte-americanas explicou, em entrevista recente (leia na íntegra, aqui), como funciona a atual fase do capitalismo (concentrador de riqueza, fundamentalmente rentista e excludente, que move todos os interesses, inclusive a determinar os rumos da política e da vida das pessoas). Agamben foi definido pelo Times e pelo Le Monde como uma das dez mais importantes cabeças pensantes do mundo. Sua obra, influenciada por Michel Foucault e Hannah Arendt, centra-se nas relações entre filosofia, literatura, poesia e, fundamentalmente, política.

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Quando lemos com atenção algumas considerações de Agamben sobre a democracia, por exemplo, entendemos com mais clareza o que está por detrás de afrontas à cidadania em várias partes do mundo, como o golpe em curso no país. Para ele, “a nova ordem do poder mundial funda-se sobre um modelo de governabilidade que se define como democrática, mas que nada tem a ver com o que este termo significava em Atenas”.

Para manter um empreendimento dito democrático e que, paradoxalmente, produz imensa concentração de renda e riqueza nas mãos do 1% mais ricos em detrimento à dignidade da absoluta maioria das pessoas, o capitalismo, atualmente, sobrevive da fabricação de crises: “Crise e economia atualmente não são usadas como conceitos, mas como palavras de ordem, que servem para impor e para fazer com que se aceitem medidas e restrições que as pessoas não têm motivo algum para aceitar. “Crise” hoje em dia significa simplesmente “você deve obedecer! ”. 

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Neste sentido, explica Agamben, “é preciso tomar ao pé da letra a ideia de Walter Benjamin, segundo o qual o capitalismo é, realmente, uma religião, e a mais feroz, implacável e irracional religião que jamais existiu, porque não conhece nem redenção nem trégua. Ela celebra um culto ininterrupto cuja liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro.  Deus não morreu, ele se tornou dinheiro. ”

Nos dizeres do professor Ladislau Dowbor, "a expansão dos lobbies, a compra dos políticos, a invasão do judiciário, o controle dos sistemas de informação da sociedade e a manipulação do ensino acadêmico representam alguns dos instrumentos mais importantes da captura do poder político geral pelas grandes corporações. Mas o conjunto destes instrumentos leva em última instância a um mecanismo mais poderoso que os articula e lhe confere caráter sistêmico: a apropriação dos próprios resultados da atividade econômica, por meio do controle financeiro em pouquíssimas mãos." 

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Ademais, a associação entre os grandes oligopólios do capitalismo internacional com a manipulação da mídia, serviçal desses grupos, naturaliza todo o tipo de violência real e simbólica contra a democracia:  “É mais simples manipular a opinião das pessoas através da mídia e da televisão do que dever impor em cada oportunidade as próprias decisões com a violência. ”

No caso brasileiro, a liturgia formal do voto popular deixou de ser um “esquema” a beneficiar os históricos usurpadores das riquezas e do trabalho nacionais e, assim sendo, não mais interessa aos donos do deus-dinheiro respeitar as regras procedimentais da democracia. O resultado eleitoral pode, portanto, ser anulado com desculpas das mais esfarrapadas. Os capachos tupiniquins do grande sistema de corrupção internacional que move o capitalismo atualmente resolveram jogar no lixo as deliberações eleitorais para tocarem um impeachment sem crime de responsabilidade. O que é isso? Simples: é golpe. 

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Essa percepção acerca do estupro à nossa democracia parece se tornar cada vez mais clara. Mesmo não apreciando certo culturalismo dependente que gosta de bajular as “inteligências” alienígenas como se fossem melhores que a produção da reflexão autóctone, é digno de destaque o fato de, nesta semana, intelectuais de referência em todo o mundo, como os filósofos alemães Jürgen Habermas, Axel Honneth e Rainer Forst, a filósofa norte-americana Nancy Fraser e o filósofo canadense Charles Taylor terem assinado um manifesto internacional de repúdio ao que classificaram como “golpe branco” contra a democracia brasileira. Expressão também já utilizada, mais de uma vez, pelo Papa Francisco. (Veja aqui >>>).

Segundo o manifesto internacional, a oposição no Brasil, formada por partidos de direita, aproveitou-se da crise econômica para levar adiante uma campanha “violenta” contra um governo eleito democraticamente. Por isso, o objetivo do impeachment da presidenta Dilma Rousseff é atacar direitos sociais, desregulamentar a economia e frear as investigações de corrupção.

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Noutro documento, com mais de mil assinaturas, artistas e intelectuais estrangeiros também manifestaram solidariedade ao Brasil. O texto diz que os movimentos sociais “estão sujeitos a uma ofensiva política de grande magnitude que leva o Brasil a um período de grande retrocesso democrático” e obscuridade.

Talvez, pelo fato de ameaçar a hegemonia dos donos do capital especulativo e rentista não somente daqui, mas do mundo (haja vista as potencialidades nacionais, como nossas reservas de petróleo e a biodiversidade – ativos valiosíssimos no presente e no futuro), a caçada ao PT voltou com toda a força nesta semana. Curiosamente, depois de uma reunião entre a ninfa justiceira e um ministro interino e, para o delírio dos moralistas sem moral, foram retomados mais uma vez os espetáculos policialesco-midiático-seletivos. Incrivelmente, logo após a divulgação de dezenas de áudios a comprovarem a corrupção endêmica e sistêmica envolvendo o PMDB, o PSDB e o DEM há anos, nestas plagas. A justiça brasileira é uma bênção para os homens e as mulheres de ben$, com cifrão no final.

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Não serei eu a defender Paulo Bernardo e ninguém que, eventualmente, tenha praticado atos de corrupção. Mas, até para um idiota político valem as perguntas: alguém já viu ou ouviu falar que a polícia (política) federal tenha vasculhado as sedes nacionais de partidos inúmeras vezes citados em casos de corrupção como o PSDB, DEM, PP, PMDB? Alguém conhece pelo menos um tesoureiro nacional desses partidos que tenha sido investigado? Quantos ministros do governo FHC, flagrados em escutas comprometedoras em diferentes ocasiões, foram conduzidos à prisão, tiveram condução coercitiva ou prestaram depoimentos (cobertos ao vivo pela mídia?) Em síntese: a juristocracia seletiva tupiniquim faz com que o Tomás de Torquemada, no túmulo, sinta-se apequenado.

O fato é que, como nenhum partido conseguiu ganhar quatro eleições seguidas para a Presidência em toda história republicana brasileira (e, não obstante o massacre midiático-justiceiro contra o ex-presidente Lula, uma liderança que continua firme numa provável disputa presidencial futura), o PT ainda é um perigo real e simbólico aos donos do capital internacional e seus capachos daqui e, portanto, deverá ser aniquilado. E o primeiro passo, dado o fracasso da cavalar campanha midiática contra o partido, é consolidar a empreitada golpista.

Os gigolôs do capitalismo rentista, sacerdotes e sacerdotisas do deus-dinheiro, e seus prepostos das coalizões que articulam o golpe nessas plagas (veja aqui >>>) querem manter o país como eterna colônia. E farão de tudo para trucidar quaisquer pessoas e grupos que se opuserem aos seus intentos.

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