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Igor Corrêa Pereira

Igor Corrêa Pereira é técnico em assuntos educacionais e mestrando em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Membro da direção estadual da CTB do Rio Grande do Sul.

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O domingo dos 70% ou da democracia ateniense? Qual Frente Ampla?

Só há um caminho de Frente Ampla democrática hoje no Brasil, e o único elemento que não cabe nessa Frente é Bolsonaro, justamente por ser ele hoje a única ameaça a democracia.

Somos pela democracia, protesto antifascista em São Paulo (Foto: Pam Santos/Fotos Públicas)
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Os acontecimentos do domingo passado (31/05) revelaram uma situação limite no Brasil. Estamos perto de uma iminente ruptura da democracia. Quero tecer aqui alguns apontamentos sobre os caminhos que se apresentam diante dessa terrível encruzilhada, mas para apontar esses caminhos, preciso falar sobre qual democracia está em disputa hoje no Brasil, e sobre qual Frente Ampla deve ser formada para defendê-la. Tentarei ser breve, mas peço paciência aos leitores para acompanhar esse raciocínio.

A cidade-Estado de Atenas produziu por volta de 510 antes de Cristo, um processo democrático que serviria como inspiração para as discussões contemporâneas de democracia. A democracia ateniense, no entanto, não permitia a participação de mulheres, estrangeiros (metecos) e escravos. Estima-se que somente 10% da população participava das decisões. 

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Nos cinco séculos de Brasil, somente três presidentes eleitos pelo voto universal concluíram seus mandatos: Juscelino Kubitschek, Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio Lula da Silva. Isso demonstra que nossa elite política e econômica nunca conviveu muito bem com a mínima interferência social da maioria no processo de tomada de decisões. Embora não possam dizer abertamente, o que lhes agradaria seria o ressurgimento da democracia ateniense de 510 antes de Cristo. Somente os proprietários, os homens de bem (ou de bens), a "massa cheirosa" como disse Eliane Cantanhêde, decidiria as coisas. Essa é a democracia dos sonhos de quem tem poder hoje no Brasil. 

Somente essa perspectiva justificaria o editorial escrito pelas organizações Globo em 31 de maio de 2020. Num texto contraditório, primeiro reconhecem que Bolsonaro ameaça a democracia, e depois propõem um pacto democrático com a participação de Bolsonaro. Ora, como é possível se fazer um pacto pela democracia com quem a ameaça? Por que insistir num acordo que visivelmente é inviável? Algumas pistas e hipóteses surgem.

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No mesmo dia em que esse editorial foi escrito, a TV Globo veiculou no seu programa Fantástico, matéria sobre as investigações das chamadas "fake-news", que procuram esclarecer como elas são produzidas, quem são os financiadores e organizadores. Segundo a matéria, "Supremo Tribunal Federal fechou o cerco contra influenciadores digitais e empresários apoiadores do presidente Jair Bolsonaro". Na semana que inicia, deputados aliados do presdiente serão ouvidos, e pode ocorrer a prisão da ativista Sara Winter, que organiza o acampamento dos 300 em Brasília. Analistas acreditam que essas investigações podem levar ao indiciamento e no limite até a prisão de um dos filhos de Bolsonaro, provavelmente Carlos Bolsonaro, o que representaria um sinal de alerta para o presidente, uma forma de intimidá-lo e colocá-lo na linha. 

Paralelo a isso, o mundo e o Brasil são sacudidos por expressivas revoltas e protestos. Nos Estados Unidos, eclode uma gigantesca revolta contra o racismo e contra os efeitos da crise, protagonizada pelos negros estadunidenses, tendo como estopim o assassinato de George Floyd num flagrante e bárbaro caso de abuso do poder policial. As últimas notícias que chegam é que os protestos são tão expressivos que em algumas cidades os policiais se recusam a bater nos manifestantes, se ajoelham e pedem desculpas a eles. Há relatos também de que a Casa Branca teria ficado sem energia elétrica e o presidente Trump foi alojado num bunker para preservar sua segurança, conforme informa matéria do jornal Estado de São Paulo. No Brasil, torcidas organizadas de times de futebol começam a protagonizar enfrentamentos contra manifestantes bolsonaristas. A Avenida Paulista é palco, deste domingo, de enfrentamentos de manifestantes favoráveis a Bolsonaro e aqueles que defendem a democracia, os antifascistas. Ainda no Brasil, se lança o movimento "somos 70%", que argumenta que essa é a porcentagem de pessoas no Brasil que acham Bolsonaro Péssimo/Ruim/Regular e apoiam as medidas de isolamento, e que essa porcentagem deveria ter coragem e não se intimidar diante dos 30% que apoiam Bolsonaro. O movimento ganha apoio nas redes sociais. 

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Esses dois fatos que ocorreram paralelamente, o avanço das investigações que podem ameaçar o filho do presidente, e a eclosão de revoltas e organização de uma maioria social contra Bolsonaro, revelam que estamos numa situação limite no Brasil. Estamos perto de alguma ruptura. O ministro do STF Celso de Mello, o decano do STF, escreveu a seus colegas comparando Bolsonaro a Hitler. Nessa situação limite, a Globo parece propor um armistício a Bolsonaro ates do desfecho. A narrativa dessa organização de telecomunicações que cresceu em meio a ditadura, e que é a verdadeira articuladora dos interesses da burguesia brasileira, tem sido a de domesticar Bolsonaro e impedi-lo de atentar contra seus interesses. A Globo nunca gostou de povo participando. Parece apostar que a ameaça a família Bolsonaro sinalizada nas investigações do STF, coloque o presidente na linha e que ele passe a se comportar para que a agenda da burguesia continue sendo aprovada sem sobressaltos. Bolsonaro aceitará essa proposta ou vai dobrar a aposta, como vêm fazendo? Nesse mesmo domingo, ele cavalgou junto aos seus apoiadores. Nada indica que ele recuará. 

Não recuará, porque o fascismo historicamente não recua. Não há forma de negociação com Bolsonaro. A Globo parece ter mais medo de negociar com os 70% da população que repudiam Bolsonaro do que com Bolsonaro, demonstrando o jeito que nossas elites pensam. Qualquer coisa, para eles, é melhor do que a vontade popular sendo considerada. Essa vacilação pode cobrar um preço muito alto. Só há um caminho de Frente Ampla democrática hoje no Brasil, e o único elemento que não cabe nessa Frente é Bolsonaro, justamente por ser ele hoje a única ameaça a democracia.

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