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Jose Carlos de Assis

Economista, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe-UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB

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O domínio da emoção na eleição de Bolsonaro

Não pode haver complacência com os riscos que vamos correr. A eleição de Bolsonaro não é algo normal. Não podemos cair na tentação de tratar como normal qualquer tipo de política que venha por aí

O domínio da emoção na eleição de Bolsonaro (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)
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Tinha certeza absoluta de que Fernando Hadad perderia as eleições. No curso da campanha fui mudando de idéia. No intervalo dos dois turnos, o crescimento de Haddad me pareceu indicação de sua possível vitória. Na véspera do segundo turno teria apostado que ele ganharia numa virada espetacular. No entanto, ele perdeu. E não foi propriamente por seus defeitos, nem pelas qualidades de Bolsonaro. Foi pelo ódio ao PT e sua vinculação à corrupção, martelada impiedosamente por anos pela mídia televisiva.

Eleições se decidem pela emoção, e a emoção está vinculada à situação pessoal do eleitor. Escrevi vários artigos dizendo que com uma taxa de desemprego e subemprego da ordem de 27%, afetando indiretamente mais de 50% da população, abria-se no Brasil o caminho para o fascismo, como aconteceu na Alemanha dos anos 30. É claro que o PT não foi culpado por essa situação objetiva. Mas a opinião pública, praticamente ignorando os anos de Temer, foi buscar mais atrás a culpa do PT e também dos outros partidos políticos.

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Para a sociedade crucificada pelo desemprego, o voto era um momento de vingança. Isso aconteceu claramente na Alemanha no início dos anos 30. Diante de uma classe dominante e de uma elite política indiferentes à situação social, qualquer coisa parecia ser melhor. Foi nesse contexto que apareceu Wilson no Rio, Zema em Minas, a repetição de Doria em São Paulo e Bolsonaro no Brasil. As características dessas figuras é o vazio de propostas, exceto por certos mantras neoliberais que apontam também para uma tragédia econômica.

Onde errei? Errei ao não considerar que a mística de Lula se esgotou no primeiro turno ao atingir cerca de um terço dos votos. Tudo que ele poderia dar de votos para Haddad parou aí. E não conseguiu tirar nada de Bolsonaro. O segundo turno foi a expressão de um voto contra a situação social e a corrupção vinculadas de forma injustificada a Lula e ao PT. De um ponto de vista racional, o alto desemprego teria de ser atribuído aos três anos de Temer, nunca aos anos de Lula, encerrados com uma taxa de desemprego próxima do pleno emprego.

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Creio que foi Karl Deuthche quem criou a expressão "lógica reconstruída". É o processo pelo qual chega-se a uma determinação lógica por evidências de trás para diante, mas de diante para trás. Bolsonaro tem que ser entendido em sua lógica de trás para diante. O Bolsonaro real não é o que ganhou as eleições, mas o que se preparou para elas com clareza absoluta de afirmações bizarras. Ele não tem um discurso coerente. Solta fragmentos verbais sem qualquer clareza de pensamento lógico. Diz agora o que não teme desmentir em seguida.

Num certo sentido é mais eficaz que Hitler. Não precisa de um Goebbels, o gênio da propaganda nazista, para pautá-lo. Ele é o seu próprio Goebbels, com uma capacidade estranha de convencer as pessoas martelando em suas cabeças idéias toscas e idiotas. Seus simpatizantes não exigiram dele nada na campanha. Sequer um programa de combate ao desemprego. A única coisa que ofereceu em economia, chave de qualquer governo, foi privatizar estatais por 800 bilhões de dólares e demitir merendeiras nas escolas fundamentais.

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Todo esse contexto, porém, nos impõe reflexões severas sobre o destino do país. Se as condições não estão ainda maduras para o nazismo, elas caminham para lá. Isso porque as condições sociais certamente piorarão. E não é provável que Bolsonaro recue. Quanto pior for a situação, mais tenderá a escalar. Portanto, vigiai e orai. Não pode haver complacência com os riscos que vamos correr. A eleição de Bolsonaro não é algo normal. Não podemos cair na tentação de tratar como normal qualquer tipo de política que venha por aí.

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