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Mario Vitor Santos

Mario Vitor Santos é jornalista. É colunista do 247 e apresentador da TV 247. Foi ombudsman da Folha e do portal iG, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasilia da Folha.

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O erro das manifestações de domingo

"Com as manifestações rompendo o isolamento social, agora a oposição ofereceu a Bolsonaro a oportunidade de trocar de posição com ela. O capitão espertamente aceitou o jogo e passou ele então a pedir a seus seguidores que ficassem em casa", analisa Mario Vitor Santos, do Jornalistas pela Democracia

Manifestação antifascista e antirracista em Brasília no domingo, 7 de junho (Foto: Ricardo Stuckert)
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Por Mario Vitor Santos, do Jornalistas pela Democracia - Enganam-se os oposicionistas que pensam que, sendo o governo Bolsonaro truculento e assassino, não possa ter suas astúcias, sem as quais, por sinal, não teria chegado ao Planalto. Enganam-se também os que subestimam nossa própria capacidade de, com nossos erros, contribuir para o sucesso da quadrilha no poder.

Foi o caso no último domingo (7) que passou com as manifestações de rua. A esquerda seguiu as torcidas de futebol e outras organizações populares de juventude e talvez tenha perdido uma carta fundamental em seu jogo contra o governo miliciano de Jair Bolsonaro. As manifestações foram um erro. Com elas, alguns setores voltaram às ruas. Foi justamente esse o equívoco.

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Até aqui, a oposição, e especialmente grupos de esquerda e populares, tinham mantido uma posição que lhes dava vantagem política evidente. Respeitavam o distanciamento social, colocando-se ao lado da ciência, das autoridades sanitárias, da única técnica eficaz de combate à pandemia.

Já Bolsonaro, cada vez mais desesperado, aparecia em público todos os fins de semana. Desprotegido, desprezava as recomendações dos cientistas, dava um péssimo exemplo, digno de um criminoso sanitário, servindo como modelo do que um líder não deve fazer.

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Agora, deu-se o oposto. Setores da esquerda puxaram e o próprio PT foi ambíguo. Deveria ter sido firme e defendido a posição dos especialistas, dos médicos, da Organização Mundial de Saúde, ou seja, ficado firme na posição de defesa do máximo de isolamento social neste momento, para evitar o contágio, e com ele o agravamento criminoso da pandemia no Brasil, país que agora nos enche a todos de dor e vergonha por ser o epicentro mundial da praga. Isso acontece graças à atitude de negação criminosa promovida pelo capitão genocida, representante da casta militar que assumiu o poder.

Com as manifestações rompendo o isolamento social, agora a oposição ofereceu a Bolsonaro a oportunidade de trocar de posição com ela. O capitão espertamente aceitou o jogo e passou ele então a pedir a seus seguidores que ficassem em casa.  

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Ofereceu, portanto, espaço à oposição, que voluntariamente caiu na armadilha de ‘tomar as ruas” e de “sair do imobilismo”, fornecendo a justificativa que Bolsonaro queria. Quem foi às ruas será agora usado como álibi.

Quem quer que se disponha a impor derrotas à quadrilha de milicianos que com apoio de generais se apossou do palácio do planalto e adjacências precisa ter paciência.

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Antes de tudo, a esquerda precisa entender seus trunfos, como a imensa energia advinda da superioridade científica, sanitária e sobretudo moral que levou as pessoas a se recolherem num poderoso movimento de consciências coletivas. A oposição deveria entender uma regra de ouro válida para a política e tantos outros domínios: os pacientes ganham dos açodados.

Num jogo de como esses, é necessário ter estratégia e cálculo. Fundamental é não se apavorar, preservar suas vantagens e jogar na hora certa. Foi errado nesse momento a ação de trocar a carta segura da ciência, trunfo precioso, para obter um alívio festivo e inconsequente. Agora, no auge do contágio, as ruas são a pandemia, a doença. Romper o confinamento agrava a epidemia e suas consequências mortais. Até agora esse era um saldo exclusivo de Bolsonaro e sua criminosa gestão da pandemia. Agora não é mais. Bolsonaro pode dizer que não está mais só.

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Houve quem argumentasse que na periferia e nas comunidades não há condições para isolamento social. Então que o isolamento poderia ser rompido pois o povo mais pobre não tem condições de fazê-lo.

Trata-se de uma meia-verdade. Há, sim, muitas impossibilidades de uma quarentena aceitável na periferia e áreas pobres. Mas há também ao mesmo tempo considerável esforço e sacrifício das pessoas que moram nesses locais para fazer o confinamento possível.

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A esquerda deveria considerar esses esforços, valorizá-los e incentivá-los. Há entre essas populações um grande medo da pandemia. O número de vítimas nessas regiões é assustador, crescente e deveria merecer o maior respeito e solidariedade efetiva. Não uma atitude leviana e irreverente de quem dá as costas. Romper o isolamento agora, nesse momento de pico da pandemia, é uma atitude absolutamente contraditória, anticientífica e mesmo irresponsável.

Contradiz o esforço feito ao longo dessas semanas por milhões de pessoas, num isolamento que envolveu total ou parcialmente a grande maioria da população. Rompê-lo desconsidera também a dor das vítimas, revelando descaso com a coletividade. Vindo de Bolsonaro, seria uma atitude coerente. Vindo de quem preza a ciência, a saúde pública, o SUS, a razão e as evidências é uma incongruência.

Ainda bem que os partidos não chegaram a chamar a mobilização, embora PT e PSOL a tenham apoiado. O miliciano agradecerá por esse equívoco. Graças a ele, tem condições de sair do isolamento. Vai se valer de que esquerda nesse jogo de poker tenha agarrado sôfrega a carta das ruas, ao custo de desprezar a carta da ciência e da proteção da saúde da população, um trunfo que vinha sabendo guardar tão bem.

Enfrentar o grupo miliciano e os generais exige muita paciência, cálculo e criatividade. Implica não facilitar as condições para o inimigo e mantê-lo encurralado nas condições que ele criou para si. Jamais contribuir para que saia do canto em que se isolou, e de forma alguma assumir o seu lugar. Cabe induzi-lo a erro e nunca interferir quando comete erros em sequência. Às vezes, as condições se combinam se combinam de forma a fazer com que o ato de permanecer em casa seja equivalente a uma estrondosa tomada de posição política.

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